LER É
VIAJAR SEM SAIR DO LUGAR, por Celeste Cortez
Cada vez é mais
difícil a um escritor de romance ficção dar-lhe autenticidade, uma vez que nos
tempos atuais há testes, fáceis de identificar quem escreveu as palavras que
estão no bilhete ou carta, ou quem tocou no cobertor da criança, nos cabelos ou
no corpo da vítima. Tudo pode ser escrutinado ao pormenor, havendo apenas que
dar tempo ao tempo para que as autoridades desvendem a verdade.
O escritor apenas terá a
possibilidade de, na sua produção romanesca, acrescentar razões, “as suas
razões”, se tiver o engenho e arte para as descrever. Poderá, nesse caso,
inventar para impor a sua versão. Se conseguir que o leitor se ajuste ao lema
“ler é viajar sem sair do lugar”, nesse
caso o leitor ficará absorvido por uma leitura que o leva a viajar com a
escrita, embora sentado no seu sofá favorito ou no seu banco possível. Se não o
conseguir, que pelo menos a leitura dê ao leitor a possibilidade de se evadir
dos problemas intrínsecos e complicados da vida. Que não são poucos, mesmo
quando aceitamos o que não podemos modificar.
Eu estou de um lado e do outro do
muro. Quando estou de um lado, como autora, gostaria que continuasse a haver
leitores, muitos leitores, dos que lêem com vontade de tirar partido da leitura
ou mesmo até só de terem a santa vontade de distrair a mente. Quando estou do
outro lado do muro, como leitora, sei que consigo “viajar sem sair do lugar” e,
como é habitual, esqueço-me do passar das horas, conseguindo-o, algumas vezes
até com uma má escrita, não sabendo se isso é “perder tempo”, porque penso que
todo o autor, mesmo o que escreve mal, tem pelo menos uma palavra bem escrita,
que é a palavra que fica no final do livro: FIM.
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