quarta-feira, 16 de setembro de 2020



LER É VIAJAR SEM SAIR DO LUGAR, por Celeste Cortez

Cada vez é mais difícil a um escritor de romance ficção dar-lhe autenticidade, uma vez que nos tempos atuais há testes, fáceis de identificar quem escreveu as palavras que estão no bilhete ou carta, ou quem tocou no cobertor da criança, nos cabelos ou no corpo da vítima. Tudo pode ser escrutinado ao pormenor, havendo apenas que dar tempo ao tempo para que as autoridades desvendem a verdade.

O escritor apenas terá a possibilidade de, na sua produção romanesca, acrescentar razões, “as suas razões”, se tiver o engenho e arte para as descrever. Poderá, nesse caso, inventar para impor a sua versão. Se conseguir que o leitor se ajuste ao lema “ler é viajar sem sair do lugar”,  nesse caso o leitor ficará absorvido por uma leitura que o leva a viajar com a escrita, embora sentado no seu sofá favorito ou no seu banco possível. Se não o conseguir, que pelo menos a leitura dê ao leitor a possibilidade de se evadir dos problemas intrínsecos e complicados da vida. Que não são poucos, mesmo quando aceitamos o que não podemos modificar.

Eu estou de um lado e do outro do muro. Quando estou de um lado, como autora, gostaria que continuasse a haver leitores, muitos leitores, dos que lêem com vontade de tirar partido da leitura ou mesmo até só de terem a santa vontade de distrair a mente. Quando estou do outro lado do muro, como leitora, sei que consigo “viajar sem sair do lugar” e, como é habitual, esqueço-me do passar das horas, conseguindo-o, algumas vezes até com uma má escrita, não sabendo se isso é “perder tempo”, porque penso que todo o autor, mesmo o que escreve mal, tem pelo menos uma palavra bem escrita, que é a palavra que fica no final do livro: FIM.   

 




 

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