POETA – JOÃO COELHO DOS
SANTOS
VEJO MINHA MÃE
Menino (lembro-me tão bem)
De ver minha querida Mãe
Com seu sorriso pálido e terno
No seu branco leito de hospital
Em domingo feio de inverno,
Dia cinzento, véspera fatal,
Em gélido e derradeiro
Terrível mês de Fevereiro.
Meus irmãos um a um beijou
(Uma teimosa lágrima enxugou)
E, por fim, seu beijo foi meu.
Como o sinto ainda hoje, Santo Deus!
Acenou e disse-me adeus,
Sem que eu suspeitasse,
E nem sequer sonhasse,
Que, naquela despedida,
Dizia adeus à sua vida...
O telefone tocou de madrugada.
Ergueu-se a Esperança e atendeu.
Naquele instante parou o Céu.
Tudo em silêncio frio e profundo
Como se fosse acabar o Mundo...
Sob o lençol, escutei o repetir
Dum soluço: - “morreu!”.
A minha Mãezinha morreu...
Durante três dias esperei.
Pois se minha Mãe era Santa...
Olhei, cheio de Fé, o Crucifixo
Na certeza desse anúncio.
De novo silêncio e deserto.
O Céu não quis saber de mim...
Nem um simples querubim
Ou a voz de um arcanjo qualquer.
Tudo vazio... nada, nem ninguém.
Sozinho, desfolhei o malmequer!
A plenos pulmões, irado, gritei,
E todo o Universo amaldiçoei.
Um dia senti afago de mão materna
E parti à redescoberta de Deus.
No abandono e na solidão
Pedi-Lhe que acolhesse
A Alma de minha Mãe,
Que lhe desse o eterno
Paraíso
Donde poderia continuar
A contemplar-me
(Egoísta! Não me esqueci de mim...)
Pouco depois o Céu estalou, trovejou
E choveu lágrimas pesadas e sentidas.
Foi o sinal.
Ali estava Deus comigo.
Pus-me muito atento e ouvi:
- ”
João, não tenhas medo,
Vou contar-te
um segredo:
Vês? Estou
aqui a teu lado.
Estarei sempre
ao pé de ti,
Filho meu
abençoado!”
Estremeci, sorri, chorei
E baixinho
balbuciei:
- “Mãezinha, Mãezinha querida,
Estarás comigo
toda a minha vida!
Eu sempre
contigo estarei
E jamais,
jamais, te esquecerei”.
Fev. 2008
in:Poema a Dois
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