O
SEGREDO DO REI
(Adaptação
de um conto oriental), por Carlos Brandão de Almeida
Foto da casa Palmela, de tempos idos. Uma legenda da nossa monarquia. |
Faz muito tempo, existiu na Pérsia
um rei muito poderoso. Já bastante idoso e sem descendentes, a sua preocupação
era encontrar uma pessoa capaz a quem deixasse o trono. Para isso, mandou
apregoar por toda a Pérsia que o rei pretendia designar como sucessor quem se
apresentasse no palácio e se submetesse a uma prova que o monarca não revelou a
ninguém de que constaria.
Muitos jovens se dirigiram à corte
tentando corresponder às exigências de Sua Alteza.
Da torre do palácio, donde devia
ser proclamado o nome do escolhido, não se ouvia nada.
Entretanto, numa aldeia vizinha
havia um rapaz muito tranquilo e sensato que era tecelão.
Disse-lhe a mãe uma vez:
- Hassan, porque não vais tu também
ao palácio tentar a prova?
Hassan pôs-se a rir, dizendo que
era preferível um bom tecelão a um mau rei!
Ao notar, porém, que a sua mãe
parecia entristecida por ele não ter ido ao palácio, abandonou o trabalho e
dirigiu-se ao palácio.
O rei, ao entrevistá-lo, ficou bem
impressionado com a sensatez das suas respostas, a sua humilde simplicidade e a
graça das suas feições. Convidou-o então a dirigir-se aos jardins do palácio
onde iria decorrer a prova em que tantos tinham fracassado.
À beira dum lindo lago fora
colocada uma coluna baixa, revestida de ouro e de pedras preciosas. Ao lado
estava um gongo com um pequeno martelo preso na parte superior.
-Vais ficar aqui – disse-lhe o rei.
Esperarás que esse martelo dê o primeiro toque das doze badaladas do meio-dia.
Será o sinal para começar a prova.
Enquanto soarem as doze badaladas, poderás
encher os teus bolsos de ouro e de pedras preciosas, que valem uma fortuna. Porém,
logo após terminar a última badalada, não deves tirar mais nada.
- Só isso? – perguntou Hassan,
surpreendido.
O rei retirou-se e fechou a porta
do jardim. Hassan ficou com os olhos
fixos no martelo, esperando o primeiro toque do meio-dia.
Mas, no mesmo instante em que soava
a primeira badalada, Hassan ouviu uns gritos de aflição que pediam socorro. Num
lago mais distante, viu um ancião que caíra à água e nela se debatia
desesperadamente.
Ainda hesitou na atitude a tomar,
mas logo pensou:
- Como teria coragem de encher os
meus bolsos de riquezas, enquanto perto de mim morria uma pessoa?
Hassan salvou o homem mas não pôde tocar
no tesouro. Entristecido por um lado, por não poder satisfazer os desejos de
sua mãe, mas satisfeito por ter praticado um exemplar acto de grande
humanidade, Hassan encaminhou-se para a porta do jardim.
Imediatamente se ouviu um grande
clamor. Ressoaram as trombetas e o palácio cobriu-se de estandartes. Logo
depois o rei apareceu acompanhado do seu séquito.
- Dá-me um abraço, Hassan, e recebe
a recompensa que mereceste. Foste o justo vencedor da prova que instituí. O
velho que salvaste é um dos meus mais fieis servidores e conhecia o meu
segredo. Serviu para testar os candidatos.
Houve dois honrados que não tocaram
nas pedras sem ouvir o sinal. Serão os teus ministros. Somente tu renunciaste à
fortuna para salvar a vida dum semelhante. Ponho nas tuas mãos o destino do meu
povo. Serve-o com a honradez, coragem e a bondade que revelaste.
2014-02-05 Carlos
Brandão de Almeida
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