quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O SEGREDO DO REI

O SEGREDO DO REI

(Adaptação de um conto oriental), por Carlos Brandão de Almeida

Foto da casa Palmela, de tempos idos. Uma legenda da nossa monarquia. 
     Faz muito tempo, existiu na Pérsia um rei muito poderoso. Já bastante idoso e sem descendentes, a sua preocupação era encontrar uma pessoa capaz a quem deixasse o trono. Para isso, mandou apregoar por toda a Pérsia que o rei pretendia designar como sucessor quem se apresentasse no palácio e se submetesse a uma prova que o monarca não revelou a ninguém de que constaria.
     Muitos jovens se dirigiram à corte tentando corresponder às exigências de Sua Alteza.
     Da torre do palácio, donde devia ser proclamado o nome do escolhido, não se ouvia nada.
     Entretanto, numa aldeia vizinha havia um rapaz muito tranquilo e sensato que era tecelão.
Disse-lhe a mãe uma vez:
     - Hassan, porque não vais tu também ao palácio tentar a prova?
     Hassan pôs-se a rir, dizendo que era preferível um bom tecelão a um mau rei!
     Ao notar, porém, que a sua mãe parecia entristecida por ele não ter ido ao palácio, abandonou o trabalho e dirigiu-se ao palácio.
     O rei, ao entrevistá-lo, ficou bem impressionado com a sensatez das suas respostas, a sua humilde simplicidade e a graça das suas feições. Convidou-o então a dirigir-se aos jardins do palácio onde iria decorrer a prova em que tantos tinham fracassado.
     À beira dum lindo lago fora colocada uma coluna baixa, revestida de ouro e de pedras preciosas. Ao lado estava um gongo com um pequeno martelo preso na parte superior.
     -Vais ficar aqui – disse-lhe o rei. Esperarás que esse martelo dê o primeiro toque das doze badaladas do meio-dia. Será o sinal para começar a prova.
Enquanto soarem as doze badaladas, poderás encher os teus bolsos de ouro e de pedras preciosas, que valem uma fortuna. Porém, logo após terminar a última badalada, não deves tirar mais nada.
     - Só isso? – perguntou Hassan, surpreendido.
No Estoril

     - Só. Procede somente de acordo com a tua consciência. Fica pois sozinho.
O rei retirou-se e fechou a porta do jardim. Hassan  ficou com os olhos fixos no martelo, esperando o primeiro toque do meio-dia.
     Mas, no mesmo instante em que soava a primeira badalada, Hassan ouviu uns gritos de aflição que pediam socorro. Num lago mais distante, viu um ancião que caíra à água e nela se debatia desesperadamente.
Ainda hesitou na atitude a tomar, mas logo pensou:
     - Como teria coragem de encher os meus bolsos de riquezas, enquanto perto de mim morria uma pessoa?
Hassan salvou o homem mas não pôde tocar no tesouro. Entristecido por um lado, por não poder satisfazer os desejos de sua mãe, mas satisfeito por ter praticado um exemplar acto de grande humanidade, Hassan encaminhou-se para a porta do jardim.
     Imediatamente se ouviu um grande clamor. Ressoaram as trombetas e o palácio cobriu-se de estandartes. Logo depois o rei apareceu acompanhado do seu séquito.
     - Dá-me um abraço, Hassan, e recebe a recompensa que mereceste. Foste o justo vencedor da prova que instituí. O velho que salvaste é um dos meus mais fieis servidores e conhecia o meu segredo. Serviu para testar os candidatos.
     Houve dois honrados que não tocaram nas pedras sem ouvir o sinal. Serão os teus ministros. Somente tu renunciaste à fortuna para salvar a vida dum semelhante. Ponho nas tuas mãos o destino do meu povo. Serve-o com a honradez, coragem e a bondade que revelaste.

                                                     2014-02-05  Carlos Brandão de Almeida

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