Prémio Cláudio Manoel Costa. Dezembro 2013
Mãe Preta - Celeste Cortez (registado no I.G.A.C.)
Mãe Preta traz no ventre seu mundo que vai nascer
Sorri feliz esquecendo o amendoim que a seca queimou,
O milho que a água alagou, a semente que o sol secou
Mas não esquece a fome que faz doer e ficou.
Hoje não vai buscar água porque seu filho tirou
Seu pequenino mundo nasceu, gemeu e com fome berrou
Pediu comida que ela não tinha pr’a dar
Mãe Preta aconchegou seu menino e ficou a chorar
No fundo da panela um resto de quase
nada
Mãe Preta amassou em sua boca a farinha empapada,
Mastigou, mastigou, mastigou, em sua boca não ficou nada
Como mãe-ave a papa depositou na boquinha rosada
Madrugada no lamacento caminho com
lata d’água à cabeça já vem
Filho com amor aperta, olhos contemplativos
sonhando “sonhos de mãe”
Fogueira acende. Panela ao lume dos restos que no pilão havia
A teta acaricia: Sorri com esperança para o filho que no colo tem
Puxando seu seio com carinho o passarinho do seu mundo vai alimentar
Lágrimas amargas de Mãe Preta irão
por fim secar
Porque hoje não lhe irá dar farinha empapada
Seus lábios entoam bela melodia que o vento irá pr’a longe levar
Anca bamboleia, marrabenta dançando, sorri enlevada.
Celeste Cortez (registado no I. G. A. C. )
Celeste Cortez (registado no I. G. A. C. )
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