Quantas
vezes aquela enorme e forte muralha, teria sido confidente de promessas de
namorados quando andavam pelos jardins do Beira Terrace, onde havia um
restaurante do mesmo nome! E quantas gerações ali se divertiram no carrocel e
em outras festividades! Era este o ponto de encontro de muitas famílias no seu
passeio domingueiro. Ali batiam as ondas, parecendo zangadas, investindo
furiosas sem ninguém saber o porquê da sua zanga. Querendo mostrar a sua
imponência, as ondas subiam num frenesi de espuma branquinha, a uma altura que
transbordava e apanhava alguns desprevenidos. Quantos carros foram salpicados
pelas suas águas, como se de uma cerimónia batismal se tratasse! Como tudo tem
um fim, as ondas, cansadas, começavam a amainar, até acabarem em quietude, como
que a admirar as pessoas! Talvez curiosas, principalmente quando por ali
andavam crianças, acompanhadas de seus pais!
Tentámos
brincar com o pequenito que, agarrado à mão do pai, não despegava o olhito da
rebentação das ondas, mas ele não nos ligou, tão preocupado parecia estar:
- Não tenhas medo, filho, as ondas nunca saltarão cá para fora. Mesmo que as águas atirem para cá uns espirros ao baterem na muralha, não nos farão mal, não temos de fugir, Fernandinho.
- Mas porque fazem tanto barulho, pai?
- Estão zangadas.
- Não tenhas medo, filho, as ondas nunca saltarão cá para fora. Mesmo que as águas atirem para cá uns espirros ao baterem na muralha, não nos farão mal, não temos de fugir, Fernandinho.
- Mas porque fazem tanto barulho, pai?
- Estão zangadas.
-
Zangadas com quem, pai?
- Estão
zangadas... zangadas com o mar, filho.
-
Porquê pai?
-
Porque, porque, porque é assim mesmo, elas querem ter autonomia e o mar quer
mandar nelas – respondeu-lhe o pi, com certeza sem saber o que mais dizer. Foi
o que lhe tinha vindo à cabeça. As crianças fazem cada pergunta!...
- O que
é autonomia, pai?
- É…É…
É isso, filho.
- Isso
quê, pai?.
- E têm
razão, não têm, pai? Toda a gente precisa de liberdade. Até as ondas, não é,
pai?
A cidade
da Beira era encantadora, pacata… (continua no romance O MEU PECADO)
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