quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

TENHO UM REI NO CÉU , por Celeste Cortez

  
       




 ARTUR DE CAMPOS SILVA - 6-1-1915-24-11-1973. 

Hoje é dia de Reis. O papá foi o rei do meu coração. Um rei que me deixou muitas saudades. 

Partiu cedo deste mundo, com 58 anos vividos. Nasceu no dia Reis, no dia em que se cantam os Reis nas terras de Portugal. O papá foi o REI do meu coração, um rei que soube educar sem ralhar. Um Rei que só nos deixou bons exemplos. Relembro alguns: 
  • Recordo-o a visitar a cadeia da cidade da Beira onde viveu tantos anos e levar-me algumas vezes consigo, quando eu era ainda bem jovem. Dizia-me que era para o ajudar a levar os biscoitos que a mamã tinha feito para os presos. Belo exemplo.
  •      Recordo-o em África, a tocar o seu bandolim ou o seu violino, sabendo tão pouca música mas tinha um tocar que vinha do coração, porque sentia a música, amava o ritmo. Recordo-o naquela noite de chuva intensa - chuvas de África - a regressar encharcado e apenas com uns pedaços partidos do violino, nas mãos, porque a chuva tinha invadido a parte baixa da vivenda e rebentado a mala de porão onde o guardava. E as suas lágrimas soltaram-se, pela primeira vez, à minha frente, ainda menina e moça. E eu sofri pela sua tristeza.
  •      Lembro-me quando ia visitar os pobres, em grupos da Ação Católica, não só em todos os anos em que foi dirigente, umas vezes como tesoureiro, outras como secretário. 
  •       Foi padrinho de algumas crianças que já crescidas, se quiseram batizar na Igreja Católica: alguns chineses e alguns africanos. 
  •     Recordo-o como parecia voltar a ser criança, cheio de alegria e felicidade,  quando finalizava uma demonstração dos grupos étnicos que ensaiava - Grupo Actor Eduardo Brazão e Solar dos Beirões.

  • Recordo-o quando, com o Sr. Paralta, no dia da inauguração da Rádio Pax, fomos fazer um pequeno teatro, lindo, lindo, que tinha escrito para a ocasião. 
  •    Quando fazia poesia para os Teatros e Ranchos Folclóricos que ensaiava. 
                    NO MEIO DOS "MASCOTES" DO SOLAR DOS BEIRÕES
                      
    


  •   Recordo-o vestido de estudante e eu também, no carro alegórico que representava Coimbra, no dia em que a Beira fez 50 anos,  e como se sentiu feliz por o nosso carro alegórico ter ganho o PRIMEIRO PRÉMIO.
  •    Foi desde jovem, sempre ouvi dizer, um bom dramaturgo, ensaiador e actor de teatro. 
  •    Ainda me recordo - e as pessoas de Alvarelhos que estão vivas ainda relembram, as lindas canções que escrevia (letra e trauteava a música), para os seus grupos corais e folclóricos.
  •   Recordo, recordo como era bom para todos nós e como fazia o bem sem olhar a quem, e como fazia tudo sem dar nas vistas. 
  •  Vim a ter conhecimento, no dia triste 2 de Março de 2004, em que o corpo frio, sem vida, do nosso Fernando (meu irmão),  que a capela da sua terra,  tinha sido erigida com peditórios que organizou, principalmente através das cartas que enviou para os emigrantes da aldeia e da vila, que estavam no Brasil e na América. Não sei como fez isto, se pensar na sua timidez. Ah, já sei: Pôs a timidez no bolso esquerdo e escreveu com a mão direita e com essa entregou também os donativos e, a capela, ali está, linda e grande. (Não foi o único que ajudou, evidentemente. A capela foi acabada com outros peditórios anos mais tarde). Mas o que interessa é a obra começada, com paredes, chão e telhado e isso foi feito e funcionou até muitos anos depois ser acabada.
  • Papá, aqui estou para lhe dizer como tenho saudades suas. Como me recordo que, por fazer anos no dia de Reis, íamos primeiro com um enorme grupo da Ação Católica e mais tarde da Rádio Pax, cantar a diversas casas, começando pela do Governador da Beira, pedindo para os pobres. Acabava a festa na sua casa papá, onde havia uma mesa posta com o tradicional bolo rei e outros bolos, sobremesas, salgadinhos e iguarias possíveis,  que a mamã confecionava para festejar o dia, o seu dia. 
  • E, acabo de me recordar, que numa visita ao Carregal, há uns anos, um senhor, que era de Alvarelhos, me confidenciou que o que sabia de leitura e escrita, tinha sido o papá a ensiná-lo, quando ambos eram crianças, porque naquela altura não havia escola na aldeia.  E, disse-me ainda aquele senhor,  que o Senhor Artur, como ele o chamava, tinha ensinado outros que mais tarde vieram a ser comendadores. Muito me orgulho. O senhor, de que não me recordo o nome, pai da Zeza e da Mélita que tem uma loja de modas no Carregal, foi de certeza encontrar-se consigo no Céu. Também era boa pessoa. 
  •  Quem da família sabia que o papá era de "sangue azul"? Nunca falava disso, e eu só o soube há bem poucos anos, ao receber documentos que me enviaram e agora releio na Genealogia, feita e publicada - não por mim - mas por quem me quis dar essa novidade,  após certidões que não deixam lugar a dúvidas. Fiquei ainda mais certa que o papá era o arquétipo das pessoas que Deus precisa no Céu, quando tem falta de Anjos, por isso o chamou tão cedo. 
Hoje, por ser um dia especial, o dia de Reis, o dia do nascimento do meu querido pai, o meu primeiro Rei que partiu para o Céu, daqui lhe envio um açafate de camélias, cada pétala beijada pelos filhos Celeste e Nelson, genro Tó e pelos netos e netas.  


     

Querido papá, continue a festa que os Anjos lhe prepararam no Céu.         
                                        Até sempre.  



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