Hoje, dia 10-01-2013 - Quinta-feira - Minha Mãe teria feito anos. Nasceu em 1917, faleceu no dia 2-01-1981, antes de ter completado 64 anos. Já se passaram 22 anos, mas a saudade continua. Recordo-a praticamente todos os dias. Sei que só poderá estar num bom lugar, porque o seu coração era maior do que ela.
No dia do seu funeral consegui, apesar de estar a 11.000 milhas de distância, apanhar um avião e vir a Portugal dizer-lhe o último adeus nesta terra. E como foi difícil chegar a tempo das despedidas. Meu marido depois de ter ido comigo ao aeroporto de Joanesburgo, esqueceu-se de telefonar ao irmão em Lisboa. Quando se lembrou estava o avião quase a aterrar em Lisboa. Meu cunhado embora me tenha ido buscar ao aeroporto, deu-me a notícia de que seria impossível com o carro velhote que tinha, ir levar-me a Coimbra, onde minha mãe estivera internada no Hospital da Universidade. Levou-me a casa de uma irmã e sobrinho que viviam em Caxias para que eles me levassem no seu carro. Infelizmente eles tinham ido para Caldas da Raínha e, naquele tempo sem telemóveis, todos incontatáveis.
TÁXI, disse eu. Não, não há transportes. Há greves nos transportes em todo o Portugal. Fiquei pensativa. Então eu tinha vindo de tão longe, numa viagem triste, tinha conseguido viajar naquele avião à custa de pedidos por uma razão tão especial como acompanhar minha mãe à sua última morada e, ainda estar ao lado de meu irmão mais novo, e teria de aceitar ficar por estas paragens próximas de Lisboa por falta de transporte para Coimbra que não era assim tão longe, não mais de 230 quilómetros? Não era possível, não poderia acreditar.
E como sempre contei com os Anjos. E eles nunca me faltaram quando mais precisei: Vi a virar a esquina, na nossa direcção, um táxi.
Saí quase a correr do carro de meu cunhado e ele a dizer-me: hoje, em dia de greve de transportes, os táxis não podem aceitar passageiros. Simplesmente não trabalham. . Ele não pode furar a greve.
O táxi parou. Muito educadamente informou-me que não podia levar-me, enquanto eu lhe transmitia o meu pedido.
O táxi parou. Muito educadamente informou-me que não podia levar-me, enquanto eu lhe transmitia o meu pedido.
- Sim minha senhora, se vier ao meu lado, vou levá-la. Não posso, nem devia fazê-lo porque "estamos" em greve, mas o seu motivo é importante, vou levá-la a Coimbra.
E assim na viagem, soube que até era conhecido da minha cunhada e do meu sobrinho que tinham ido a Caldas da Raínha. Como o mundo é pequeno.
Cheguei no momento exato, em que as pessoas se estavam a dirigir aos seus carros. Um senhor muito amável ajudou-me a entrar para o carro de meu irmão, mas, por estranho que pareça ficou ao meu lado, a dizer-me que continuasse a recordar a minha mãe com os seus lindos olhos azuis, com a sua pele tão linda, porque ele... uns anos antes tinha ido ver o seu filho que morrera de meningite e estava tão deformado, que ele acabou num hospital psiquiátrico por bastante tempo. O senhor teria razão. Prometi.
Muito antes de entrar em Carregal do Sal filas de pessoas ao lado da estrada, vestidas de preto. Eram pessoas de Pinheiro, da terra onde nasci e onde nascera minha mãe, que depois se incorporaram no cortejo do funeral. E pessoas de Alvarelhos, de Travanca de S.Tomé, de Papízios, do Sobral, de Cabanas de Viriato, de Nelas, de Oliveira do Conde, de Carregal do Sal e não só.
Não poderia esquecer que deveria lembrá-la com os seus lindos olhos azuis, com a sua pele macia e rosada. Eu tinha prometido.
Mas não sabia que Deus manda Anjos para nos beijarem. Um doente mental deu-me o melhor beijo que eu poderia desejar naquele momento. Eu não sabia, mas ele foi-me dizendo, apesar de mal o compreender: Sua mãe era muito boa, eu não tinha onde dormir e sem ninguém saber ia dormir à palheira da Lage. Um dia encontrei lá um colchão, um travesseiro e cobertores. Foi quando ela soube que eu ia dormir lá.
Com uma mãe assim, eu não poderia chorar.Hoje no Céu, ela teve um bolo especial enfeitado com beijinhos que lhe mandei. Estava lindo!
...lágrimas, muitas lágrimas rolam por meu rosto agora, cara amiga. Não é à toa que é uma escritora, transmite muito bem sua alma...E como as feições de sua mãe lembram os meus... incrível. Beijinhos, para ajudar a enfeitar esse bolinho!!! (se assim me permitir) e para si um beijo.
ResponderEliminaro anónimo sou eu, Rosa Amaral
ResponderEliminarOs beijinhos foram por mim aceites. Meti-os dentro de um envelope e enviei-os pelo correio especial que nos é assegurado por um Anjo de caracóis loiros e olhos azuis para serem colocados no bolo de minha mãe. Eu e ela agradecemos.
EliminarUm beijo amiga por ter parado para ler e por ter tido um bocadinho para me ajudar a sentir-me "escrevinhadora".
Muito comovente. Beijinhos xxx
ResponderEliminarQuerida Sami, obrigada, muitos beijos. Sabes que não exagerei, a avó tinha um coração do tamanho do mundo, os outros estavam sempre primeiro... estou a lembrar-me do frango que ela comprava com alguma dificuldade (metade da reforma de meu pai era muito pouco para viver e deixou de haver dinheiro das resinas dos pinheiros!)...mas os melhores bocadinhos mandava-os às pessoas que ela sabia não terem possibilidade de comer frango.
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