AQUI NA
TERRA CHORA-SE DE SAUDADE
Papá, hoje dia 6 de Janeiro, dia de Reis, dia
do seu aniversário, era habito um grupo de jovens e outros menos jovens, incluindo-se
a si, a mim, ao Tó e aos Padres da Rádio Pax da Beira, irmos cantar os Reis a
casa do Governador, do Bispo da Beira, de pessoas da Acção Católica e acabarmos antes da meia noite
na sua casa, onde a mamã nos recebia com
a mesa repleta de todas as iguarias possíveis, incluindo uma canjinha para aquecer
o coração como ela dizia, celebrando o seu aniversário com bolo rei , licor, vinho
do Porto, whisky e as tradicionais cantigas de parabéns ao aniversariante.
Que melhor exemplo me poderia dar enquanto
fui jovem, do que levar-me consigo à prisão a visitar os que ali estavam,
levando-lhes uns simples biscoitos feito pela mamã que lhes oferecia com amor
mas sem alardes?
Hoje recordei-o das duas vezes que o vi
chorar: A primeira quando num temporal nocturno, mal acordado descendo as escadas
até à cave da casa que habitávamos, só encontrou pedaços do violino que tinha
comprado na sua juventude. A outra, quando foi à caixa do correio e encontrou
um telegrama a anunciar que tinha falecido o seu pai. Porque pai, é isso, o
espelho onde a criança se vê crescer. Esse espelho tinha desaparecido para si. Também
desapareceu o meu espelho, há mais de trinta e nove anos. E quando nos
desaparece alguma coisa muito importante, aqui na terra chora-se.
Se por ser adulto é feio chorar, vou pedir a
Deus para voltar a ser pequena durante um bocadinho, porque agora, neste
momento, quero chorar o pai que perdi. E se por ser adulto é feio rir alto, vou
pedir a Deus para voltar a ser pequena porque hoje quero rir muito papá, a
contar-lhe histórias interessantes da minha vida. Depois voltarei a crescer, para
prosseguir com rectidão, com honestidade, com justiça os caminhos que me
ensinou a trilhar.
Bem haja papá. Sei que aí no Céu terá um
banquete com bolo-rei e estarão presentes as pessoas que amava, os que partiram
antes e os que partiram depois, como a mamã e o nosso Fernando meu querido
irmão, a sua querida nora Lourdes, as suas irmãs, cunhadas e cunhados. Um dia, também eu estarei convosco.
Até lá chorarei de saudade algumas vezes. Porque aqui na terra chora-se de
saudade.
E já me ia esquecendo: a mesa está posta para o grupo do costume. Que eles tragam a garganta afinadinha para connosco lhe cantarem os parabéns. O nosso grupo é grandinho: Eu, o Tó e as nossas filhas, genros e netos, o Nelson, filhos e neto. O tio António e a tia Lurdes e aquela grande quantidade de primos que o papá sabe.
PARABÉNS A VOCE,
Tudo isto, papá, ao seu retrato pertence:
Carácter, sentido do dever, simplicidade,
Amor ao próximo, bondade, humildade,
Lealdade, inteligência, honestidade
Lealdade, inteligência, honestidade
Esta lindamente escrito.
ResponderEliminarTenho pena de nao me lembrar muito de como ele era.
Já eras crescidinha quando ele faleceu em 1973. Viste-o pela última vez em Agosto de 1970, tinhas 10 anos. Não te lembras de estarmos na cozinha, mesa grande de madeira, forno a lenha, e andares a brincar na rua com a juventude de Alvarelhos? A Luisinha, como não a deixavam brincar, por ser pequenita, veio para a cozinha, pegou numa faquita e a cortar pão (parece-me) ia dizendo: meda para a Sami, meda para a Sami... palavra que acabara de aprender na rua... E pelos vistos tinhas sido a culpada de ela não entrar na brincadeira!
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