segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

UMA GOTA FAZ A DIFERENÇA...




GOTA A GOTA

(artigo do nosso  amigo Carlos Brandão de Almeida publicado no dia 3 de Janeiro de 2012, mas que pela lição que encerra, é sempre atual).
Novo artigo de Carlos Brandão de Almeida a publicar no dia 1 de Janeiro de 2013.
 
Caro visitante volte sempre. Nós voltaremos também.
 
"Era um fim de tarde outonal, quente e húmido.

Observava, sentado sob a proteção dum providencial telhado, a terra seca e dura, esquartejada pelas fendas do sequeiro. Subitamente, das nuvens carregadas, começaram a cair pingos de chuva rapidamente absorvidos pela terra sequiosa. Progressivamente o aguaceiro tornou-se mais forte e fez jorrar um caudal abundante que saciou a terra ressequida.

              Absorto nos meus pensamentos metafísicos, pensei: “notável como as nuvens se preocupam com a terra e com ela compartilham a água que é afinal a génese da sua existência…”

            Contemplativo, deslumbrava-me esta singular ação de solidariedade.A terra necessitada, mas passível e imóvel. As nuvens, inquietas, procurando a terra e agindo na repartição da sua água, do seu ser, que, de imediato, se esvaía e abalava.

A solidariedade humana tem também esta matriz: começa por procurar alguém necessitado, alguém que sofre mas está passivo no desalento da solidão ou da miséria, esperando ajuda, agarrado à triste sorte da conformação. Então, age determinantemente, entregando-se num acto de solidariedade fraterna, para partilhar uma palavra de ânimo ou de esperança, para salvar, para amar.

A nuvem, ao repartir a sua água, desfez-se na terra, para mais tarde se refazer mais forte e mais feliz.

É o circuito da vida de quem se entrega ao serviço dos outros. A pessoa dá-se, sacrificando-se, desgastando-se, sem esperar recompensas e desaparece daqui e dacolá, submergindo no anonimato, no silêncio da humildade.

Mas volta, como volta a nuvem. E volta para agir de novo.

Este trajeto de amor é o segredo da felicidade de tanta gente. E assim milhares de filantropos anónimos repartem o seu amor com tantas vidas carentes e vazias.
               Sejamos nós também a nuvem providencial que, pingo a pingo, amenizará a dura existência dos necessitados".

 Carlos Brandão de Almeida

 

sábado, 29 de dezembro de 2012

FELIZ 2013

AOS VISITANTES deste blogue, 

Autora dos romances O Meu Pecado e Mãe Preta. 
 Desejo que o ANO 2013
lhes traga tudo de bom,
Que realizem os vossos bons sonhos,
Que tenham saúde 
Que sejam muito felizes.

VIVA 2013 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Jesus como qualquer criança - Poema

A TODOS DESEJO UM FELIZ NATAL
Com amizade dedico-vos este meu poema. 

JESUS COMO QUALQUER CRIANÇA,(ou Menino Jesus atual) de Celeste Cortez (Portugal). 
Inspirado no Poema “Menino Jesus”, de Alberto Caeiro/Fernando Pessoa

Numa longa noite sonhei
Um sonho lindo, como se fosse real
Vi Jesus Cristo descer à terra
Num raio de luz resplandecente
Tornado outra vez CRIANÇA ;
Desceu na serra mais alta do meu país (PORTUGAL);
                         Divertido rebolou-se pela encosta,
Ia cheirando as flores silvestres,
E ria alto de modo a dar nas vistas …

COMO QUALQUER CRIANÇA
 Veio viver com quem o quis receber.

                     É uma criança risonha e natural:
Limpa o nariz à manga da camisa,
pendura-se no corrimão da escada, 
                         Sobe às árvores, colhe a fruta, salta feliz, 
COMO QUALQUER CRIANÇA
Um dia vi-o andar de patins:
                         Foi impagável a cara que fez ao cair.
Esmurrou os joelhos e envergonhado… sorriu 
COMO QUALQUER CRIANÇA

Anda de bicicleta no bairro mais pobre,
                        E toca a campainha para chamar a atenção das outras crianças;
                        Riem alto partilhando as suas brincadeiras;
                        Dá-lhes do seu lanche que leva escondido dentro do coração;   
                        ELE ensinou-lhes um jogo limpo, pedindo-lhes que o praticassem 
                        para tornar o mundo melhor. 
A mim ensinou-me:
a olhar COM AMOR para as coisas,para os animais, para as pessoas;Aponta-me toda a beleza que há na natureza, 
Mostra-me como até as pedras são importantes 
e como as devemos amar
- Como se estivesse a falar de talentos.
Diz-me que as pedras mais pequeninas são tão importantes quanto as grandes; 
- Como se estivesse a falar de pessoas.
ELE dá-me a mão
E juntos vamos caminhando pela estrada dos homens
percorrendo os caminhos incertos da vida
Temos um acordo que se completa
como duas mãos entrelaçadas;
Ao anoitecer convido-o a sentar-se comigo na varanda da minha casa
                         Sem ninguém notar ELE vê as pessoas que passam
                        E seus olhos mudam: De felizes passam para tristes e da Sua Face deslizam  lágrimas que tenta esconder;
Para o animar, conto-lhe histórias de outras crianças
Ele ri com aquele riso maroto;
COMO QUALQUER CRIANÇA;
Depois conto-lhe histórias humanas:
- Tenho de lhas contar - 
ELE sorri porque tudo é incrível
                         Mas chora quando ouve falar das maldades dos homens
                         e das guerras da humanidade:
                         Porque ELE sabe que tudo isso falta ÀQUELA VERDADE
CANSADO, adormece.
COMO QUALQUER CRIANÇA




E eu levo-o ao colo para dentro de casa,
                         Como uma mãe levaria o seu filho;
                         Dispo-o e deito-o como faria qualquer Mãe . 

                         ELE dorme dentro da minha alma
                         Às vezes acorda de noite
                         E brinca com os meus sonhos:
                         Põe uns em cima dos outros
                         a dar-lhes prioridade;
                         Vira uns de pernas para o ar,
                         Batendo palmas quando os ameniza;
                         Sorri para o meu sono
                         Porque sabe que preciso de descansar
Quando eu morrer JESUS
Seja eu a criança,
Pega-me TU ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
Deita-me na tua cama.
                         Dá-me sonhos teus para eu brincar
                         Conta-me histórias tuas até que eu adormeça
E CONTIGO FICAREI  ETERNAMENTE.   
Celeste Cortez (Portugal), do livro "L. de E."
http://celestecortez.blogspot.com


domingo, 23 de dezembro de 2012

NATAL DE QUEM?


JOÃO COELHO DOS SANTOS, AUTOR.  


NATAL DE QUEM?*

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.*

-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?

- Já vão a caminho!

- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?

- Não sei, não sei...*

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:*

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?*

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.*
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!*

Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:*
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?*

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:*
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?*

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:*
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!*

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:*

- Foi este o Natal de Jesus?!!!*
*

(João Coelho dos Santos
in Lágrima do Mar - 1996)
O meu mais belo poema de Natal

sábado, 22 de dezembro de 2012

NEVE - SERRA DA ESTRELA

Serra da Estrela

Maria de Lurdes Resende


Cai a neve das alturas
Que é um gosto a gente vê-la
Vede as serras que brancura
Mas em toda a sua alvura
A mais bela é a da estrela
Toda a serra resplandece
Na pureza da assucena
Mas à tarde o sol aquece
Quando a terra transparece
Mostra a pele de côr morena
Cobre-te a neve
Da côr dos sirios
E caindo ao de leve
Transforma-te em breve
Num manto de lírios
Lençol de linho
Que tens em suma
Ao cobrir-te o caminho
A brancura do arminho
Com rendas de espuma
Do nevão que tem caído
Seu vestido foi bordado
E tão branco é o tecido
Que nos lembra o seu vestido
Um vestido de noivado
Venham ver-lhe a formosura
Como é linda e sedutora
Toda ela neve pura
Por modéstia só procura
Ser serrana e ser pastora
Cobre-te a neve...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

APELO DE NATAL - Castro Reis


Apelo de Natal - Castro Reis


 

Irmãos, filhos de Deus, povos do Mundo,
Eu vos lanço este apelo universal:
Vamos erguer a voz, gritar bem fundo,
Dizer a todo o mundo, que é Natal!

Que é tempo de Concórdia, Paz e Amor,
De acabar com as guerras e vinganças!...
Pôr termo ao mal da droga, à fome e à dor,
À chacina de jovens e crianças!

Não podemos deixar que isto aconteça,
É urgente acabar com tudo isto!...
Pensar que a Humanidade assim padeça
É sentir, que de novo, matam Cristo!

Senhores dos milhões, vosso dinheiro,
Porque não remedeia tanto mal?!...
Fazei com ele a Paz do Mundo inteiro,
Que só assim, então, será Natal!

BENÇÃO CELTA


BENÇÃO CELTA (apesar da repetição de algumas ideias, é muito linda).

"Que o caminho venha ao teu encontro.
Que o vento sopre sempre às tuas costas, e a chuva caia suave sobre o teu campo.
E até que voltemos a nos encontrar, que Deus te sustente suavemente na palma de Sua mão.

Que vivas todo o tempo que quiseres, e que sempre vivas plenamente.
Esquece as coisas que te entristeceram, e lembra-te das coisas que te alegraram.
Esquece os que se revelaram falsos, mas não deixes de lembrar aqueles que permaneceram fiéis.
Esquece os problemas que já passaram, mas não deixes de lembrar as bençãos de cada dia.
Que o dia mais triste do teu futuro, não seja pior que o mais feliz do teu passado.
Que o teto nunca caia sobre ti, e que os amigos debaixo dele nunca partam.*
Que sempre tenhas palavras cálidas em um anoitecer frio, uma lua cheia em uma noite escura, e que um caminho se abra sempre à sua porta.
Que vivas cem anos, com um ano extra para arrepender-te.
Que o Senhor te guarde em Suas mãos, e não aperte muito Seus dedos.
Que teus vizinhos te respeitem, que os problemas te abandonem, os anjos te protejam, e o céu te acolha.
E que a sorte das colinas celtas te abrace.
Que as bençãos de São Patrício ** te contemplem.
Que teus bolsos estejam pesados, e o teu coração leve.
Que a boa sorte te persiga, e a cada dia e cada noite tenhas um muro contra o vento, um teto para a chuva, bebida junto ao fogo, risadas que consolem aqueles a quem amas, e que teu coração se preencha com tudo o que desejas.
Que Deus esteja contigo e te abençoe, que vejas os filhos dos teus filhos, que o infortúnio te seja breve e que te deixe cheio de bençãos.
Que não conheças nada além da felicidade deste dia em diante.
Que Deus te conceda muitos anos de vida.
Com certeza Ele sabe que a Terra não tem anjos suficientes.
E assim seja a cada ano, para sempre !"
Assim é! assim seja! assim será!
 
* Que os amigos debaixo do teu teto nunca partam... naturalmente quer dizer "que nunca te deixem, que sejam sempre teus amigos". Se quiser dizer precisamente o que está escrito, teremos de pensar que este provérbio será dos anos 400 e tantos  a 500 da era cristã, quando as pessoas da família viviam em comunidade, não emigravam e a preocupação é que não fossem para a guerra. 
 
** Que as bençãos de São Patrício te contemplem: São Patrick, (anos 387 a 461) da era Cristã, combateu os druidas, e acabou por ser o evangelizador da Irlanda.   
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A VIDA EXPLICADA


Quadro célebre. Fotografado de um painel da cabeceira de uma cama de casal
Existe vida após o nascimento?


Alguma vez pensou nisto?

Recebi recentemente um email de um amigo, que repassava um email de uma amiga, com uma linda descrição sobre o assunto.Não sei quem é o autor - podendo ser a amiga do meu amigo. Fosse quem fosse, é pessoa com muita capacidade para pensar nesta comparação. Porque tenho a certeza que vai gostar tanto quanto eu, não resisto a passar-lhe a mensagem. Leia, saboreie, vai ver que vai gostar.


Está ai uma boa explicação ou pelo menos um ótimo pensamento para explicar DEUS.
O CÉTICO E O LÚCIDO ...
No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebés. O primeiro pergunta ao outro:
 - Você acredita na vida após o nascimento?
 - Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
 - Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?
 - Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
Adicionar legenda

 - Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.
 - Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
 - Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
 - Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
 - Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?
 - Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.
 - Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
 - Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente, como ela afaga nosso mundo. Eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela...

PENSE NISSO.....

M A R A V I L H O S O ! ! !

A pessoa que escreveu este texto foi muito iluminada pelo nosso CRIADOR.
Eu nunca havia pensado dessa maneira. Adorei a forma utilizada para esclarecer uma dúvida que atormenta a maioria da humanidade.
Como achar que não exista vida após o nascimento??? Esta questão é a mesma de não acreditar em vida após a morte!!!
Tudo depende de um ponto de referência. Usar o óbvio para explicar o duvidoso.
Aliás... "O que é vida e o que é morte?"

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

VOTO DE NATAL

Voto de Natal
Acenda-se de novo o Presépio no Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.


E a corrida que siga, o facho não se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa reflorida!


Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida ...
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim não sei qual é que se eterniza.


Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
Ó calor destas mãos nos meus dedos tão frios!
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

David Mourão Ferreira

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Consciência limpa, de Carlos Brandão de Almeida


 

CONSCIÊNCIA LIMPA
 
Mais um artigo do meu amigo Carlos Brandão de Almeida. Como sempre, com um final que dá para pensar. Não devemos menosprezar os avisos sensatos e prudentes. Pautar a nossa consciência pela honradez, pelo jogo limpo.

 
Um grupo de três caminhantes jornadeava havia já um ror de dias, vencendo montanhas e florestas. Entretanto, os mantimentos acabaram não encontrando eles, no meio daquela imensidão da natureza, sítio onde se pudessem reabastecer. Com os estômagos vazios, procuraram desesperadamente qualquer forma de alimento sem a qual sucumbiriam.

Numa manhã soalheira, avistaram uma cria de javali que por ali, despreocupadamente, saltitava.

Logo imaginaram, no pequeno cerdo, a gostosa refeição por que tanto ansiavam. E, rapidamente, prepararam as armas assassinas.

Um deles, porém, adverti-os para o perigo de matar o imberbe animal pois seria de esperar uma violenta retaliação por parte da restante vara.

- Tenham cuidado! Olhem que o javali selvagem é uma fera muito perigosa.

Os dois outros caminheiros, todavia, ignoraram a advertência do companheiro. E como a fome já lhes toldava o raciocínio, decidiram mesmo executar a sentença. O condenado foi então executado e serviu de opíparo manjar aos dois carrascos.

Saciados da fome, os regalados comensais deitaram-se e adormeceram profundamente.

O que não tinha participado no banquete, com a barriga vazia, estava meio entorpecido quando ouviu um tropel de animais. Receoso, subiu a uma árvore e dali viu, angustiado, uma vara de javalis rodear os dois companheiros que dormiam o sono dos justos. Destacou-se o animal mais corpulento – seria a mãe da cria – que se aproximou dos dorminhocos e cheirou-os na boca. Facilmente farejou o cheiro da carne do seu filhote. Furiosa, trespassou-lhes de uma só dentada as artérias carótidas e, com os outros javalis, esquartejaram selvaticamente os corpos dos homens.

Horrorizado com aquele sanguinário espectáculo, o caminheiro sobrevivente só muito mais tarde desceu da árvore e se afastou o mais depressa possível. Com fome, mas vivo!...

A sua ponderação, afinal, salvara-lhe a vida.

Na vida, desprezamos algumas vezes, com arrogante sobranceria, as sentenças sensatas, os conselhos prudentes e cometemos, por isso, erros que nos mancham a consciência, sujando-nos interiormente.

Essa sujidade, mais tarde ou mais cedo, poderá vir a marcar o nosso carácter e a revelar-se no nosso comportamento, maculando as relações com os outros.

Até que um dia podem surgir uns revoltados javalis…

 

 

                                                                                  Carlos Brandão de Almeida

 

 

2012.07.25

NATAL - O Menino brincando, POETA AUGUSTO GIL

O MENINO BRINCANDO, Augusto Gil, "Alba Plena"

Ó meu Jesus adorado,
Fecha os teus olhos divinos
Num soninho descansado;
Que a não sermos tu e eu
Toda a gente do povoado,
Desde os velhos aos meninos,
Há muito que adormeceu.
- E o Menino Jesus não se dormia...
Dorme, dorme, dorme agora
- (Cantava a Virgem Maria)
Que mal assomou a aurora,
Sentei-me junto ao tear
E por todo o dia fora,
Até que já se não via,
Não deixei de trabalhar!
- E o Menino Jesus não se dormia...
- Tornava Nossa Senhora,
numa voz mais consumida:
Dorme, dorme, dorme agora
E que eu descanse também,
Porque mesmo adormecida
Vela sempre, a toda a hora,
No meu peito, o amor de mãe.
- E o Menino Jesus não se dormia...
- Numa voz mais fatigada,
tornava a Virgem Maria:
Dorme pombinha nevada,
Dorme, dorme, dorme bem...
Vê que está quase apagada
A frouxa luz da bugia,
Do pouco azeite que tem.
- E o Menino Jesus não se dormia...
- Rogava Nossa Senhora:
Modera a tua alegria...
Não deites a roupa fora
Do teu leito pequenino...
Não rias mais. Dorme agora
E brincarás todo o dia...
Dorme, dorme, meu menino.
- E o Menino Jesus não se dormia...
- Mais triste, mais abatida,
pediu a Virgem Maria:
Tem pena da minha vida,
Que se a quero é para ti...
Vida aflita e dolorida!
Só por ti a viveria
Tão longe de onde nasci!...
- E o Menino Jesus não se dormia...
- E a voz da Virgem volveu:
Repara no meu olhar,
Vê como ele entristeceu...
Dorme, dorme, dorme bem,
Ó alvo lírio do céu!
Olha que estou a chorar,
Tem pena da tua mãe!
Nosso Senhor, então, adormeceu.
As cores em destaque são minhas. Uma forma de se notar que este poema tanto pode ser dito por alguém que entoe o poema a duas vozes, como por um narrador ou narradora e uma voz feminina a fazer de Nossa Senhora. Poema lindo, maravilhoso do nosso Augusto Gil.
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