GOTA A GOTA
(artigo do nosso amigo Carlos Brandão de Almeida publicado no dia 3 de Janeiro de 2012, mas que pela lição que encerra, é sempre atual).
Novo artigo de Carlos Brandão de Almeida a publicar no dia 1 de Janeiro de 2013.
Caro visitante volte sempre. Nós voltaremos também.
"Era um fim de tarde outonal, quente e húmido.
Observava, sentado sob a proteção dum providencial
telhado, a terra seca e dura, esquartejada pelas fendas do sequeiro.
Subitamente, das nuvens carregadas, começaram a cair pingos de chuva
rapidamente absorvidos pela terra sequiosa. Progressivamente o aguaceiro
tornou-se mais forte e fez jorrar um caudal abundante que saciou a terra
ressequida.
Absorto nos meus pensamentos
metafísicos, pensei: “notável como as nuvens se preocupam com a terra e com ela
compartilham a água que é afinal a génese da sua existência…”
Contemplativo, deslumbrava-me esta
singular ação de solidariedade.A terra necessitada, mas passível e
imóvel. As nuvens, inquietas, procurando a terra e agindo na repartição da sua
água, do seu ser, que, de imediato, se esvaía e abalava.
A solidariedade humana tem também
esta matriz: começa por procurar alguém necessitado, alguém que sofre mas está
passivo no desalento da solidão ou da miséria, esperando ajuda, agarrado à
triste sorte da conformação. Então, age determinantemente, entregando-se num
acto de solidariedade fraterna, para partilhar uma palavra de ânimo ou de
esperança, para salvar, para amar.
A nuvem, ao repartir a sua água,
desfez-se na terra, para mais tarde se refazer mais forte e mais feliz.
É o circuito da vida de quem se
entrega ao serviço dos outros. A pessoa dá-se, sacrificando-se, desgastando-se,
sem esperar recompensas e desaparece daqui e dacolá, submergindo no anonimato,
no silêncio da humildade.
Mas volta, como volta a nuvem. E
volta para agir de novo.
Este trajeto de amor é o segredo da
felicidade de tanta gente. E assim milhares de filantropos anónimos repartem o
seu amor com tantas vidas carentes e vazias.
Sejamos nós também a nuvem
providencial que, pingo a pingo, amenizará a dura existência dos necessitados".
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