terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

A 1 de Fevereiro mataram o Rei que adorava Cascais

 A 1 de Fevereiro de 1908, mataram o Rei que adorava Cascais.

Busto de D. Carlos virado para a Baía, na cidadela de Cascais

 Por Celeste Cortez

          Quem terão sido os idiotas que se lembraram de mandar matar um Rei assim? Esta pergunta foi feita há muitos anos pelo escritor Pedro Falcão. O escritor dá-nos informações acerca da personalidade e qualidades deste Rei que ia à caça com pessoas simples, que ia à pesca com os pescadores, que falava com o povo, que era um Rei liberal, popular e simples. Mas este rei, de apenas 44 anos de idade, foi assassinado a 1 de Fevereiro de 1908, juntamente com seu herdeiro o Príncipe D. Luís Filipe que não completara 21 anos de idade. 

          A família real regressou a Lisboa depois de uma temporada no Palácio Ducal de Vila Viçosa. Viajaram de comboio até ao Barreiro, onde apanharam um vapor para o Terreiro do Paço. Esperavam-nos o governo e vários dignitários da corte. Entre estes seu filho mais novo, Manuel, na altura com 19 anos, que precedera – regressando de Évora -  seus pais e irmão no regresso a Lisboa, para se preparar para os EXAMES da ESCOLA NAVAL.

Após os cumprimentos da praxe, a família real subiu para uma carruagem aberta em direção ao Palácio das Necessidades. A carruagem com a família real atravessou o Terreiro do Paço, onde foi atingida por disparos vindos da multidão que se juntara para saudar o rei, pelas 5 horas da tarde.   

          D. Carlos morreu imediatamente, após ter sido alvejado. O herdeiro D. Luís Filipe foi ferido mortalmente e o infante D. Manuel ferido num braço. Na carruagem também seguia a Rainha D. Amélia, que saiu ilesa.

          Os autores do atentado foram Alfredo Costa e Manuel Buíça, e foram considerados à época os únicos culpados. Os assassinos foram mortos no local por membros da guarda real e reconhecidos posteriormente como membros do movimento republicano.

          A historiografia recente reconhece que faziam parte de um grupo cuja ação visando o Rei, pelo seu papel de suporte a João Franco, já fazia parte integrante do Golpe de estado gorado.

          Segundo os historiadores, as crises que sucederam no reinado de DCarlos I, deveram-se ao envelhecimento do sistema político-partidário conhecido como Rotativismo, pelo qual os dois principais partidos, o Partido Regenerador e o Partido Progressista, alternavam no poder. Por outro lado, o Reino Unido apresentou a Portugal o Ultimato britânico de 1890, que intimava Portugal (movido pelo seu desejo expansionista, materializado no Mapa cor de rosa) a desocupar os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique  num curto espaço de tempo, caso contrário seria declarada a guerra entre os dois países. Como Portugal se encontrava na bancarrota, tal movimentação foi impossível e assim se perderam importantes áreas. A propaganda republicana aproveitou o momento de grande emoção nacional para responsabilizar a coroa pelos desaires no ultramar. Estalou então a revolta republicana de 31 de janeiro de 1891, no Porto,  que apesar de sufocada mostrou que as ideias republicanas avançavam .

          Em 1906, nas eleições rotativistas atrás referidas, ganhou o partido chefiado por João Franco. Este convenceu o rei a dissolver o Parlamento e a governar em ditadura. Este facto contribuiu, ainda mais, para o descontentamento popular e o aumento da simpatia pela república.

          D. Carlos, segundo os historiadores, foi um homem extremamente culto, com grande talento diplomático mas incompreendido, muitas vezes, pelos políticos da sua época. Apreciador das tecnologias que começavam a surgir no princípio do século, mandou instalar luz elétrica no Palácio das Necessidades e fez planos de eletrificação das ruas de Lisboa, medida que também descontentou o povo, que encarou como desnecessárias, por considerar extravagâncias. O que seria hoje de nós sem luz, nas casas e nas ruas?

          O Rei foi um grande desportista e entusiasticamente impulsionador de todos os desportos, tendo sido atirador, tenista, pescador, lavrador, pintor que assinou alguns dos seus quadros, de pastel e aguarela, apenas com o nome de Carlos Fernando, os seus dois primeiros nomes de um nome complexo como se usava e lhe competia como membro da nobreza e herança de seus ascendentes: Carlos Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gota.

O seu amor ao país levou-o a ceder 20% da sua dotação para minorar os sacrifícios do Tesouro, como prova este documento, datado de Paço de Belem, 29 de Janeiro de 1892. 

Na peste bubónica, o Dr. Câmara Pereira, homem de ciência que tinha regressado do Porto onde foi infectado,  foi internado, juntamente com sua família no Hospital de Arroios. Apesar da gravidade, o Rei D. Carlos foi ao hospital visitá-lo (Diário de Notícias” comentou “Sua majestade vestiu a blusa de desinfeção e entrou no quarto do enfermo, com quem esteve conversando”. Este eminente bacteriologista viria a falecer dessa peste a 15.11.1899.  

          D. Carlos foi sobretudo um apaixonado pela Oceanografia. Adquiriu o iate a que pôs o nome de sua esposa D. Amélia, para se dedicar, especificamente, a pesquisas oceanógrafas. Através desta paixão pelo mar, desenvolveu uma amizade com o Príncipe Alberto I de Mónaco, e daí nasceu o Aquário Vasco da Gama, situado em Dafundo, freguesia de Cruz Quebrada, a dois passos de Algés, município de Oeiras, cuja pretensão era desempenhar papel semelhante ao Museu Oceanográfico do Mónaco. Este museu foi oficialmente inaugurado pelo Rei a 20-05-1898, com as coleções zoológicas reunidas nas campanhas oceanográficas que o Rei empreendeu a bordo daquele iate real.

          Hoje, 1 de Fevereiro de 2022, fez 114 anos desde a data do regicídio. Mataram o Rei. Mataram o Rei D. Carlos. Escolheram matar o Rei de Portugal, que poderia ter sido deposto. Mataram o Rei à traição e mataram o seu herdeiro, o filho mais velho D. Luís Filipe, que iria perfazer 21 anos de idade no dia 21 do mês de Março seguinte. 

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