MULHER AFRICANA E A CAPULANA
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Mulher macua (Norte de Moçambique), com o seu lenço de pano de capulana |
O comércio com os asiáticos trouxe para a África Oriental uma grande variedade de tecidos, incluindo a capulana. No princípio eram apenas como os que estão nesta foto acima, mais tarde, principalmente nos últimos 40 anos, os tecidos são cada vez mais com cores africanas: os encarnados, os verdes, os amarelos. Estes tecidos, naqueles velhos tempos, eram trocados por produtos de grande valor, caso de ouro, marfim e escravos.
Passo a transcrever:
“A presença indiana é um factor decisivo no de envolvimento do traje da mulher moçambicana”, refere o documento da exposição de Suzette à Festa na Ilha. O mesmo documento diz ainda que mais tarde, em meados do Séc. XIX, no Sul do Save, as transacções comerciais envolviam capulanas ou um jogo completo de dois panos e lenços. Ou seja, os comerciantes estrangeiros tinham por obrigação oferecer panos às mulheres dos líderes moçambicanos. Esta oferta era conhecida por saguate."
Ainda hoje "saguate" quer dizer recompensa ou presente, oferta.
Mas voltemos ao nome de "capulana"
A capulana usa-se para vestir a mulher, para limpar, para a mulher embrulhar as crianças, para as amarrar às costas, usa-a como toalha e como cortina. Usa-a ainda na mudança de casa e em viagem, como embrulho da trouxa (ver foto abaixo).
A capulana não é para uso exclusivo das camponesas, como se possa pensar. As mulheres da cidade, , que em geral se vestem à maneira ocidental,usam-na invariavelmente como traje de trazer por casa ou em certas cerimónias familiares, fazendo ou mandando fazer vestidos e fatos lindíssimos, precisamente porque os "panos" atuais são muito "charmosos".
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Capulana vestida. Capulana a amarrar a criança às costas,
capulana/lenço, capulana a embrulhar a comida |
Nos velhos tempos, isto em 1950, em que a empresa onde trabalhei como secretária, importava tecidos de capulana e tinha um empregado - e mesmo às vezes o patrão - que ia vender aos subúrbios, às pequenas aldeias, onde havia pequenas lojas de compra, venda e troca, os tecidos eram de chita. Depois começaram a ser fabricados também com mistura de algodão e agora já há com fibras sintéticas.
No Malawy comprei para mim, um tecido em seda, com motivos africanos e mandei fazer um vestido. Foi um dos vestidos mais bonitos que já tive.
Mulheres e raparigas cobertas com estes panos coloridos, dão cor às estradas de terra que cortam a paisagem monótona das aldeias africanas, ou mesmo as ruas da cidade onde vivem e tem ruidosos mercados.
Transcrevo com a devida vénia, de um blogue que por lapso não guardei o nome. Mas quem se sinta prejudicado, por favor informe-me que terei imenso gosto em retificar o lapso.
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Estes eram os desenhos de capulanas mais usuais nos anos 1940/1950, muitos em tons azul escuro. Presentemente são muito mais coloridos e com desenhos bem diferentes. |
À capulana no Quénia chama-se “kanga”. Na África Ocidental, no Congo ou no Senegal, chamam-lhe“pagne”, provavelmente os lugares onde houve colonização francesa. (Celeste Cortez) Muitas línguas moçambicanas têm nomes vernáculos para estes rectângulos de tecido, mas “capulana” é o nome mais usado, desde norte a sul, de leste a oeste em Moçambique. Hoje o nome faz parte do léxico da língua portuguesa mas não é uma palavra de idêntica origem.Uma das primeiras explicações que ouvimos, foi de que o nome derivava de Ka Polana, que signifi ca o lugar do régulo Polana, hoje integrado na cidade de Maputo. Tudo indicando que o uso da capulana veio do norte para o sul, não parece plausível que o nome que ficou na língua tenha tido origem no sul. (Maputo é no sul de Moçambique (Celeste Cortez) O autor do Dicionário Português-Changane, Bento Sitói, também não conhece a origem da palavra mas nota que ela não se usa em nenhum outro país africano de língua portuguesa onde é simplesmente “pano”. Usa-se porém no Brasil, tendo como sinónimo canga, a palavra suaíli que referi atrás. E assim a origem da palavra capulana continua um enigma.(...)
Ah! Tantos desconhecidos mortos
os que nasceram mais tarde
não hão-de-gritar humilhados
bayete-bayete-bayete
à kapulana vermelha e verde
se substituírem no tempo
kapulanas de várias cores. (...)
Corria o ano de 1954 quando Virgílio de Lemos
escreveu este poema com o pseudónimo de Duarte
Galvão. Foi acusado de desrespeito à bandeira
portuguesa. O advogado Carlos Adrião Rodrigues
conseguiu convencer as autoridades de que chamar a
bandeira de capulana verde e vermelha era uma forma
de consideração, porque só as mamanas, as senhoras
de grande integridade, a vestiam."