Da internet, com a devida vénia. |
O VESTIDO QUE LINA VESTIU PARA IR À FESTA
EXTRACTO DO ROMANCE "MÃE PRETA":
..." Não era por ter ido pôr um vestido de festa e, afinal não assistir a festa nenhuma. Não tinha sido a primeira vez que punha aquele vestido de seda e não tinha ido para qualquer festa. Fizera-o para me sentir bem, num dia em que a minha Irmã Coragem não estava por perto e eu precisava de estar bem arranjada para me sentir mais feliz. Mas naquele dia tinha-o vestido para não ficar atrás das mães das colegas da minha filha. Elas eram brancas e eu preta.
Precisava de sair dali o mais depressa possível, não queria que alguma convidada passasse e me visse, nem que fosse para abrir a boca por estranhar ver-me ali de trajo elegante, mala chique e sapatos de salto alto.
Fui descendo até à rua o mais depressa que me foi possível, cambaleando, não por causa do tacao dos sapatos mas por ter ficado meio atordoada pelo que acabara de acontecer. Procurei fora da porta um lugar abrigado por um
jacaranda, parecendo-me que ao pisar algumas das suas flores lilás, caídas no chão – que se harmonizavam com as flores pequeninas, cor de alfazema do meu vestido – choravam de tristeza, fazendo um dueto com o meu choro abafado, que eu, a todo o custo, tentava evitar, sem o conseguir.
Naquela altura, a copa larga do jacaranda interessava-me para me encobrir e poder ver as pessoas que chegassem. Não era que isso me interessasse – não era bisbilhoteira – mas havia duas razões: primeiro, ter a certeza de que estaria por perto quando a festa acabasse para levar a Glórinha para casa e, segundo… sim, talvez quisesse ter a certeza se tinha sido dispensada de uma festa por não estar à altura. Estaria mal vestida? Será que não se usava aquele tecido? Aqueles sapatos? Aquela mala?
Foto de Jacaranda, de Celeste Cortez |
Naquela altura, a copa larga do jacaranda interessava-me para me encobrir e poder ver as pessoas que chegassem. Não era que isso me interessasse – não era bisbilhoteira – mas havia duas razões: primeiro, ter a certeza de que estaria por perto quando a festa acabasse para levar a Glórinha para casa e, segundo… sim, talvez quisesse ter a certeza se tinha sido dispensada de uma festa por não estar à altura. Estaria mal vestida? Será que não se usava aquele tecido? Aqueles sapatos? Aquela mala?
Deixei-me ficar. Se os convidados viessem do lado esquerdo, teria tempo de contornar a árvore para o lado direito, se viessem do lado direito, contornaria a árvore para o lado oposto.
Ouvi a voz da razão a segredar-me: “O que esperavas, Lina? Esqueceste que és preta? O facto de a menina ser a maior amiga da tua filha não significa que os brancos te tenham de convidar. Quantas vezes te convidaram mesmo quando eras a mulher de um preto assimilado? Duas. E não foi para casa de gente muito importante, foi para casa de pessoas mais simples, embora brancos. Mas depois quando..."
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A autora envia o livro, depois de pago.
Indique a sua morada através do email celeste.cortez2010@gmail.com. O email deverá ter o título de LIVRO MÃE PRETA.
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Um belo trecho do romance!
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