Confiança mútua
O
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João Tadeu era um fervoroso e fanático adepto de um grande clube de
futebol lisboeta. Assumia-se como um profundo conhecedor do fenómeno
desportivo. Mas não era. Não passava de um pífio treinador de bancada.
Uma vez, a sua equipa iria defrontar uma
congénere do Porto. Jogo grande, naturalmente gerador de imensa expectativa.
Previa-se uma atmosfera explosiva entre os apaniguados dos dois emblemas.
Como era inevitável, o João não iria
faltar ao escaldante prélio.
A mulher propôs-lhe:
- Ó João, eu não sou propriamente uma
devota do pontapé na bola mas gostaria de ir contigo. Que mais não fosse por ir
dar um passeio e gozar as delícias de um dia solarengo.
Respondeu-lhe o marido:
- Nem penses, Isaura. O ambiente está
muito pesado. É de admitir que surjam desacatos que te poderiam envolver. Não é
aconselhável ires, podes crer.
- Mas, ó João, se se prevêem desordens, o
melhor é tu ficares em casa e não te ires meter em rixas com arruaceiros.
- Não vai haver problema, eu sou homem,
tenho mais força e sei-me defender. Quem se meter comigo leva! (onde é que eu
já ouvi isto?)
A cara-metade aquiesceu e o marido lá foi
assistir ao jogo.
Perto do anoitecer o João regressou a
casa. Vinha desalentado pois o seu clube não conseguira vencer. Mas o pior era
o deplorável estado físico que apresentava: um olho inchado, um pronunciado
hematoma na cabeça e coxeava, o pobre!
- Ó homem, o que foi que te aconteceu?
Tiveste algum desastre com o carro?
- Não, Isaura. Eu bem te tinha dito que
poderia haver borrasca. E houve mesmo. Não calculas a peixarada!. Pancada de
ferver. Em dada altura, um tripeiro mais assanhado ofendeu o meu glorioso
clube. Achas que eu me ficava? E chamei-lhe morcão
e disse-lhe que tinha fuça de calhau. E fui-me a ele. Não calculas como o
gajo ficou: feito num oito, pois claro!
- Mas, pelos vistos tu também vens bem
aviado, ó valentão! Afinal, como é que te magoaste?
- Olha, quando desancava o idiota,
escorreguei e bati com a cara numa cadeira do estádio. Acidentes acontecem…
Passados dias, a comadre da Isaura
disse-lhe que o marido lhe contara que o João tinha levado uma tareia no
futebol. E se não levou mais foi porque fugira a sete pés, acrescentou!
E foi assim que a Isaura soube que o
marido lhe tinha mentido
Esta
historieta pode ilustrar a triste situação em que vivem certos casais: em
mentira permanente. Muitos outros cenários poderíamos construir para exemplificar
esta realidade.
No
caso vertente, o João quis enganar a esposa, alterando a verdade. Não teve
coragem para enfrentar o possível sarcasmo da sua mulher. Mentiu, o falso!
Um
casal que se ama deve viver sempre dentro da verdade.
Uma
relação amorosa, genuína, impõe o respeito pela verdade e preocupa-se em
preservar permanentemente a confiança mútua.
Carlos Brandão de Almeida
2014.06.06
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