MÃE PRETA
Sorri feliz esquecendo o amendoim que a seca queimou,
O milho que a água alagou, a semente que o sol secou
Mas não esquece a fome que faz doer e ficou.
Hoje não vai buscar água porque seu filho tirou
Seu pequenino mundo nasceu, gemeu e com fome berrou
Pediu comida que ela não tinha pr’a dar
Mãe Preta aconchegou seu menino e ficou a chorar
No fundo da panela um resto de
quase nada
Mãe Preta amassou em sua boca a farinha empapada,
Mastigou, mastigou, mastigou, em sua boca não ficou nada
Como mãe-ave a papa depositara na boquinha rosada
Madrugada no lamacento caminho
com lata d’água à cabeça já vem
Filho com amor aperta, sonhando “sonhos de mãe”
Fogueira acende. Panela ao lume dos restos que no pilão havia
A teta acaricia: Sorri com esperança para
o filho que no colo tem
Do coração de Mãe Preta canção alegre começa a brotar
Seus lábios entoam bela melodia que o vento irá pr’a longe levar.
Anca bamboleia, marrabenta dançando, sorri enlevada
Puxando seu seio o passarinho do seu mundo vai alimentar
Lágrimas amargas de Mãe Preta
irão por fim secar
Porque hoje não lhe irá dar farinha empapada
Celeste Cortez - 2º.Prémio de poesia - ALACIB – BRASIL.
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