À MULHER, A TODAS AS MULHERES, DE UM MODO
ESPECIAL À MINHA SAUDOSA MÃE , AQUI FICA A MINHA HOMENAGEM:
Falar do dia Internacional da Mulher, é falar das mulheres de todo o Mundo, nas mulheres de ontem e de hoje. Todas merecem o nosso respeito. Muitas ficaram e muitas ficarão na História da Humanidade. Impossível lembrar todas, mas aqui fica a intenção.
Pensativa, quedei-me por um instante.
A minha caneta também parou no papel. Olhou para mim com olhos impacientes, como que a perguntar:
A minha caneta também parou no papel. Olhou para mim com olhos impacientes, como que a perguntar:
- Com tantas mulheres que merecem ser
lembradas neste dia, como podes enumerá-las? Impossível, tarefa impossível
Celeste.
- É verdade caneta amiga, tens razão. Não
sei por onde começar.
- Olha, por que não começas por Eva, a
primeira mulher?
- Para quê? Quem não sabe que Eva foi a
companheira de Adão no paraíso e que... Olha, não preciso de me alongar nesta
conversa.
- E se falares de Maria, a virgem que foi
Mãe de Jesus Cristo? indaga a caneta muito interessada.
- Quem sou eu para falar de Maria, quando
poetas e escritores, desde há mais de 2000 anos, dela têm escrito?
- E se mencionares a Raínha Santa Isabel
de Portugal, que levava esmolas para os pobres e estas se transformaram em
rosas no seu regaço, quando D. Dinis, seu marido, lhe perguntou o que levava? -
atirou-me já um pouco impaciente a minha caneta.
- Bem, tens razão. Espera. Lembrei-me
agora de uma mulher extraordinária, absolutamente especial. Chama-se Madre
Teresa de Calcutá. Mas, se falar dela, terei de falar de muitas Madres Teresas
espalhadas por este mundo fora, mulheres que fazem o bem e não se sabe, porque
há muitas maneiras de fazer o bem.
- Fiquei indecisa por uns momentos, mas
tenho de continuar. De quem hei-de falar agora, neste dia especial dedicado às
mulheres, às mulheres de todo o Mundo? Deixei escapar a pergunta olhando de
lado para a caneta, que não se comoveu, entretida que estava a picar o papel.
Estava entregue à minha sorte, à minha memória, ao meu conhecimento, por que não
vi na caneta vontade de colaborar.
- Se escrevesse sobre mulheres que se
distinguiram na política, como a Raínha D. Maria de Portugal, Benazir Butho
(que homens mal intencionados mataram), de... Mas os nomes não me ocorrem, que
maçada.
Comecei a notar a caneta toda a tremelicar
de satisfação, desejosa de intervir. Acabou por abrir o bico:
- Boa lembrança querida caneta. E mais?
Vá, lembra-te de mais, diz depressa. A caneta elevou a voz e um pouco
pretensiosamente atirou-me à queima roupa:
- Ó Celeste Cortez, porque não abres o teu
coração? Ai Celeste, Celeste.
- O meu coração? O que tem isso a ver com
nomes de mulheres que devo homenagear?
- Claro que tem. Às vezes não tens todas
as lembranças na mente, as melhores lembranças tens no teu coração, eu
conheço-te. Abre o teu coração Celeste. E com a mão fez um trejeito à frente da
sua boca, como se estivesse a fechar um fecho "éclair", indicativo de
que os seus lábios ficavam fechados, que não tinha intenção de colaborar
comigo.Abri a porta do meu coração devagarinho, sem ter a certeza de que tinha ali
alguns nomes. Fui abrindo e espreitando ao mesmo tempo. Afinal no seu interior
havia tantos, tantos nomes! Continuei a abrir suavemente, com receio de deixar
sair alguns sem eu os ver. Mas não, não saíram.
O que foi saindo foi o meu
reconhecimento por todas as mulheres, desde a mulher menos famosa por ser em
muito maior número, mas não menos necessária para o andamento do mundo: a mãe,
a dona de casa, a engomadeira, a cozinheira, lavadeira, jardineira, a mulher
que trabalha na fábrica, na padaria, na caixa dos supermercados, a advogada,
engenheira, cabeleireira, empregada de escritório, a modista, a mulher da
lavoura e muitas, muitas mais. Mulheres que abnegadamente executam as tarefas
do lar, ajudam a educar os filhos e que, só muito raramente ouvem um elogio dos
que amam.
Desenho de Michael Veloso. Respeite os direitos autorais |
Nem o maior jornal do mundo, nem todas as
televisões comportariam tanto elogio, a todas as mulheres, que deram à luz
todos os cidadãos do mundo.
A minha caneta, pôs-se em bicos de pés e
num beijo todo remelão, ia a dizer-me que eu, afinal, tinha muitas mulheres no
meu coração. Não lhe dei tempo para se esticar mais, porque nesse momento, eu
quis homenagear todas as Mulheres da minha família, desde tempos passados até
ao presente. As que estão neste mundo, mas, de um modo especial aquelas que me
recordo terem partido. E todas deixaram saudades. Algumas partiram
recentemente. O meu coração enumerou-as, mas não vou deixá-las nesta folha
escrita, prefiro que continuem dentro do meu coração para sempre.
Um soluço de saudade saiu do meu coração
para deixar espaço para ali voltar a colocar todos os nomes.
A minha caneta, voltou a esticar-se em
bicos de pés, trepou devagarinho até à minha face. Com o seu lencinho etéreo,
limpou uns cristais que estavam a cair dos cantos dos meus olhos, e disse-me
baixinho: Contei tantas, tantas! Eu sei, a última lágrima foi de saudade pela
tua MÃE.
Celeste Cortez (publicado no
Jornal "Página Beirã", a 16 de Março de 1995).
PS. Referi no presente Madre Teresa de Calcutá, porque este meu artigo foi publicado no jornal "Pàgina Beirã" em 1995. Madre Teresa veio a falecer em 1997.
PS. Referi no presente Madre Teresa de Calcutá, porque este meu artigo foi publicado no jornal "Pàgina Beirã" em 1995. Madre Teresa veio a falecer em 1997.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada pela visita, deixe o seu comentario aqui:
Thanks for your visit, leave your comment here: