terça-feira, 8 de março de 2011

QUERO SER UMA TELEVISÃO




Quero ser uma televisão

A sociedade macro-tecnológica em que vivemos proporciona-nos, por um lado, um manancial de informação excepcional que, se em regra, torna a vida mais fácil, por outro, suplanta as relações humanas, transformando os indivíduos em escravos dos artefactos, desumanizando o trato recíproco entre as pessoas e refreando os tão essenciais afectos. Então, o relacionamento familiar vai-se desperdiçando quanto mais vai prosperando o mediatismo do instrumental electrónico.

A história que hoje vos vou contar pode ter sido engendrada, mas não custa admitir que também poderia perfeitamente ter ocorrido. Foi-me enviada por pessoa amiga através duma das maravilhas da comunicação: o famoso e-mail , ou seja, o correio electrónico.
Numa sala de aula, por alturas do Natal, a professora pediu aos seus alunos que escrevessem uma redacção cujo tema era o que gostariam que Deus fizesse por eles.
Já em casa e quando apreciava as redacções, deparou-se com uma que a deixou muito emocionada.
O marido que, nesse momento, entrou na sala notou a sua perturbação e perguntou-lhe o que acontecera.
- Lê! – respondeu e passou-lhe a folha de papel – é o trabalho de um aluno meu.
O marido pegou na redacção e começou a ler.
“Senhor, esta noite peço-Te uma graça muito especial: transforma-me numa televisão!
Quero viver como uma televisão vive na minha casa. Ter um lugar privilegiado para mim e reunir a minha família em casa , á minha volta. Ser levado a sério quando falar. Ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções.
Quero a companhia do meu pai quando ele chega a casa, mesmo que esteja cansado. Que a minha mãe me procure quando estiver sozinha e triste, em vez de me ignorar.
Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para passar alguns momentos comigo.
Senhor, julgo não te pedir muito. Só te rogo que me deixes viver com a intensidade que qualquer televisão vive”.
Quando terminou a leitura, o marido virou-se para a mulher e disse-lhe:
- Meu Deus, coitado desse menino. Que pais ele tem, hem!
A professora olhou bem nos olhos do marido e disse-lhe num sussurro:
- Essa redacção é do nosso filho!

Refletamos: Será que, para nós, a televisão e os demais equipamentos electrónicos são o que demais importante há na nossa casa?

de Carlos Brandão de Almeida
2011.03.08

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