domingo, 29 de junho de 2014

poeta - ALMEIDA GARRETT - POEMA "adeus"


ALMEIDA GARRET (1799-1854) - 1º.visconde de ALMEIDA GARRET 
Adeus!
Adeus! para sempre adeus! 
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora 
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.

Oh! vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.

Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai! se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
Não chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? - Ai, triste!
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
O cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!

E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora 


Amarás... sim, hás-de amar, 

Amar deves... Muito embora...
Oh! mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.

E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar... Perdida,
Perdida serás - perdida.

Oh! vai-te, vai, longe embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai! não;
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te - mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.

Perdoar-me tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh! o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.

Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangrar às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me, adeus! 


Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

quinta-feira, 26 de junho de 2014


                  POETA: António Correia de Oliveira

                                         
                                          
                                           Quando Deus fez este mundo,
                                          Dos seis dias que levou
                                          Foram cinco em Portugal;
                                          No resto, um só, e sobrou.

Vou mandar pôr na Cartilha:
Quando Deus formou Adão,
Foi de terra portuguesa
Que fez o seu coração.

Sou português de nascença,
Sou triste por simpatia...
Conheço-te pela rama
Raiz de terra sombria.

No céu há uma janelinha:
Vê-se Portugal por ela;
Quando Deus se sente triste,
Vai sentar-se junto dela...

Portugal, de tanto andar,
É tal qual como um velhinho:
Deita os seus olhos atrás,
Não se atreve a mais caminho.

Ai! de quem chama aos outros
Aquilo que chamou seu:
Ai! triste de quem tem sede
Da água que já bebeu.
(...)

[in Tesouro da Juventude, volume 9]





WILLIAM SHAKESPEARE - 1564-1616 - PALAVRAS SEMPRE ATUAIS.

WILLIAM SHAKESPEARE - 1564-1616

William Shakespeare é considerado o maior escritor em língua inglesa de todos os tempos. Grande poeta. O dramaturgo mais influente do mundo. 

Poema da Amizade – WILLIAM SHAKESPEARE

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse esta verdade:
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.

O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.

Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.

Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.


quinta-feira, 19 de junho de 2014

CONFIANÇA MÚTUA por Carlos Brandão de Almeida

Confiança mútua

O
  João Tadeu era um fervoroso e fanático adepto de um grande clube de futebol lisboeta. Assumia-se como um profundo conhecedor do fenómeno desportivo. Mas não era. Não passava de um pífio treinador de bancada.
Uma vez, a sua equipa iria defrontar uma congénere do Porto. Jogo grande, naturalmente gerador de imensa expectativa. Previa-se uma atmosfera explosiva entre os apaniguados dos dois emblemas.
Como era inevitável, o João não iria faltar ao escaldante prélio.
A mulher propôs-lhe:
- Ó João, eu não sou propriamente uma devota do pontapé na bola mas gostaria de ir contigo. Que mais não fosse por ir dar um passeio e gozar as delícias de um dia solarengo.
Respondeu-lhe o marido:
- Nem penses, Isaura. O ambiente está muito pesado. É de admitir que surjam desacatos que te poderiam envolver. Não é aconselhável ires, podes crer.
- Mas, ó João, se se prevêem desordens, o melhor é tu ficares em casa e não te ires meter em rixas com arruaceiros.
- Não vai haver problema, eu sou homem, tenho mais força e sei-me defender. Quem se meter comigo leva! (onde é que eu já ouvi isto?)
A cara-metade aquiesceu e o marido lá foi assistir ao jogo.
Perto do anoitecer o João regressou a casa. Vinha desalentado pois o seu clube não conseguira vencer. Mas o pior era o deplorável estado físico que apresentava: um olho inchado, um pronunciado hematoma na cabeça e coxeava, o pobre!
- Ó homem, o que foi que te aconteceu? Tiveste algum desastre com o carro?
- Não, Isaura. Eu bem te tinha dito que poderia haver borrasca. E houve mesmo. Não calculas a peixarada!. Pancada de ferver. Em dada altura, um tripeiro mais assanhado ofendeu o meu glorioso clube. Achas que eu me ficava? E chamei-lhe morcão e disse-lhe que tinha fuça de calhau. E fui-me a ele. Não calculas como o gajo ficou: feito num oito, pois claro!
- Mas, pelos vistos tu também vens bem aviado, ó valentão! Afinal, como é que te magoaste?
- Olha, quando desancava o idiota, escorreguei e bati com a cara numa cadeira do estádio. Acidentes acontecem…
Passados dias, a comadre da Isaura disse-lhe que o marido lhe contara que o João tinha levado uma tareia no futebol. E se não levou mais foi porque fugira  a sete pés, acrescentou!
E foi assim que a Isaura soube que o marido lhe tinha mentido

Esta historieta pode ilustrar a triste situação em que vivem certos casais: em mentira permanente. Muitos outros cenários poderíamos construir para exemplificar esta realidade.
No caso vertente, o João quis enganar a esposa, alterando a verdade. Não teve coragem para enfrentar o possível sarcasmo da sua mulher. Mentiu, o falso!
Um casal que se ama deve viver sempre dentro da verdade.
Uma relação amorosa, genuína, impõe o respeito pela verdade e preocupa-se em preservar permanentemente a confiança mútua.

                                                                                                              Carlos Brandão de Almeida



2014.06.06

domingo, 15 de junho de 2014

POEMA - CASTRO ALVES - O LIVRO E A AMÉRICA

POEMA de CASTRO ALVES

O Livro e a América
    Talhado para as grandezas,
    Pra crescer, criar, subir,
    O Novo Mundo nos músculos
    Sente a seiva do porvir.
    — Estatuário de colossos —
    Cansado doutros esboços
    Disse um dia Jeová:
    "Vai, Colombo, abre a cortina
    "Da minha eterna oficina...
    "Tira a América de lá".

    Molhado inda do dilúvio,
    Qual Tritão descomunal,
    O continente desperta
    No concerto universal.
    Dos oceanos em tropa
    Um — traz-lhe as artes da Europa,
    Outro — as bagas de Ceilão...
    E os Andes petrificados
    ,
    Como braços levantados,
    Lhe apontam para a amplidão.

    Olhando em torno então brada:

    "Tudo marcha!... Ó grande Deus!
    As cataratas — pra terra,
    As estrelas — para os céus
    Lá, do pólo sobre as plagas,
    O seu rebanho de vagas
    Vai o mar apascentar...
    Eu quero marchar com os ventos,
    Com os mundos... co'os
    firmamentos!!!"
    E Deus responde — "Marchar!"
    >
    "Marchar! ... Mas como?...  

    Da Grécia
    Nos dóricos Partenons
    A mil deuses levantando
    Mil marmóreos Panteon?...
    Marchar co'a espada de Roma
    — Leoa de ruiva coma
    De presa enorme no chão,
    Saciando o ódio profundo. . .
    — Com as garras nas mãos do mundo,

    — Com os dentes no coração?...
    "Marchar!... Mas como a Alemanha
    Na tirania feudal,
    Levantando uma montanha
    Em cada uma catedral?...
    Não!... Nem templos feitos de ossos,
    Nem gládios a cavar fossos
    São degraus do progredir...
    Lá brada César morrendo:
    "No pugilato tremendo
    "Quem sempre vence é o porvir!"

    Filhos do sec’lo das luzes!
    Filhos da Grande nação!
    Quando ante Deus vos mostrardes,
    Tereis um livro na mão:
    O livro — esse audaz guerreiro
    Que conquista o mundo inteiro
    Sem nunca ter Waterloo...
    Eólo de pensamentos,
    Que abrira a gruta dos ventos
    Donde a Igualdade vooul...

    Por uma fatalidade
    Dessas que descem de além,
    O sec'lo, que viu Colombo,
    Viu Guttenberg também.
    Quando no tosco estaleiro
    Da Alemanha o velho obreiro
    A ave da imprensa gerou...
    O Genovês salta os mares...
    Busca um ninho entre os palmares
    E a pátria da imprensa achou...

    Por isso na impaciência
    Desta sede de saber,
    Como as aves do deserto
    As almas buscam beber...

    Oh! Bendito o que semeia
    Livros... livros à mão cheia...
    E manda o povo pensar!
    O livro caindo n'alma
    É germe — que faz a palma,
    É chuva — que faz o mar.

    Vós, que o templo das idéias
    Largo — abris às multidões,
    Pra o batismo luminoso
    Das grandes revoluções,
    Agora que o trem de ferro
    Acorda o tigre no cerro
    E espanta os caboclos nus,
    Fazei desse "rei dos ventos"
    — Ginete dos pensamentos,
    — Arauto da grande luz! ...

    Bravo! a quem salva o futuro
    Fecundando a multidão! ...
    Num poema amortalhada
    Nunca morre uma nação.
    Como Goethe moribundo
    Brada "Luz!" o Novo Mundo
    Num brado de Briaréu...
    Luz! pois, no vale e na serra...
    Que, se a luz rola na terra,
    Deus colhe gênios no céu!...

                                                 Castro Alves
   (a) - Hoje sabe-se que Cristovão Colombo não era genovês mas português. 
































































































































































































































































































































































































































































sexta-feira, 13 de junho de 2014

Portugal porque te quero tanto La Tuna Estudantina Portuguesa


Marcha de Alfama, 1º. PRÉMIO 2014

Marcha de Alfama (foto da internet) 

CANTADA por CARMINHO 

Alfama não envelhece
E hoje parece
Mais nova ainda
Iluminou as janelas
Reparem nelas
Como está linda.


Vestiu a blusa clarinha
Que a da vizinha
É mais modesta
E pôs a saia garrida
Que só é vestida
Em dias de festa


Becos escadinha ruas estreitinhas
Onde em cada esquina há uma bailarico
Trovas p'las vielas e em todas elas
Perfume de manjerico


Risos gargalhadas, fados desgarradas,
Hoje em Alfama é um demónio
E em cada canto um suave encanto
De um trono de Santo António.


Já se não ouvem cantigas
E as raparigas
De olhos cansados
Ainda aproveitam o ensejo
De mais um beijo
Dos namorados


Já se ouvem sinos tocando
Galos cantando
À desgarrada
E mesmo assim dona Alfama
Só volta p'rá cama
Quando é madrugada.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...