O bosque
N
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A minha profunda ignorância sobre matérias agrícolas
levou-me, para alimentar o diálogo, a fazer comentários pacóvios de crítica às
pessoas que se desleixavam na rega das plantas dos seus jardins. O meu
interlocutor riu-se e esclareceu-me que nem sempre as plantas pedem água. E, a
propósito, contou-me uma história que confessou não saber se era verídica ou
forjada. Ei-la:
Havia um médico que vivia numa casa rodeada por um enorme
terreno. O clinico, nos seus momentos de ócio, gostava de tratar da sua gleba.
Nela plantou uma enorme quantidade de árvores das mais variadas espécies.
Uma vizinha sua que admirava a dedicação do médico pelo seu
torrão, estranhou, no entanto, que ele raramente regasse o sequioso arvoredo.
Pensou então que o vizinho, poderia até ser um bom esculápio, mas não era, de
certeza, um abalizado agricultor. E, na realidade, as pobres das árvores
demoravam muito tempo a medrar.
Um dia, a senhora ganhou coragem e perguntou ao vizinho se
não receava que as árvores morressem de sede.
Respondeu-lhe
o doutor, com ar sapiente, que se as regasse as raízes acomodar-se-iam na
superfície, sempre esperando a água fácil vinda de cima. Assim, como ele as não
regava, as árvores demoravam realmente mais tempo a crescer, mas, por outro
lado, as suas raízes infiltrar-se-iam mais profundamente na terra em busca de
água e nutrientes.
Assim, segundo a sua teoria, as árvores ganhariam raízes
mais fundas e seriam mais resistentes às intempéries.
A vizinha ficou ciente da explicação mas duvidou dos argumentos
do clínico.
Passaram alguns anos e, entretanto, a senhora foi morar para
casa da filha que ficava longe da sua antiga residência. Nunca mais encontrou o
seu anterior vizinho.
Um dia, a senhora, de passeio com os netos, passou pela rua
onde anteriormente vivera e espantou-se ao ver um bosque que ali não existia
antes. Aproximou-se e constatou que a mata se situava no terreno do médico. O
arvoredo estava pujante e constituía já um bonito parque. Lembrou-se ainda que,
há uns meses atrás, ocorreu um tremendo vendaval que tinha derrubado enorme
número de árvores naquela zona. Aquelas, porém, tinham resistido à tempestade.
Afinal o seu vizinho tivera razão: as dificuldades que
aquelas árvores tiveram ao serem privadas de água pareciam tê-las tornado mais
fortes e resistentes.
REFLEXÃO
Esta história, real ou ficcionada, pode conter um
ensinamento que nos convida a cogitar. Qual ensinamento, questionamos? Tentemos
aplicá-lo aos pais que sempre desejam aplanar, ao máximo, o caminho dos seus
filhos, na tentativa de suprimir as dificuldades e agressões deste mundo e
tornando-lhes a vida o mais fácil possível. Mas, ao eliminarem-lhes os
obstáculos, aniquilam também o poder da sua reação e a criatividade para
ultrapassarem os problemas emergidos.
Será bom para eles superprotegê-los dos entraves que, mais
tarde, poderão atingi-los, sem que eles estejam preparados para lhes resistir?
Ou será mais prudente apetrechá-los com raízes mais fortes e profundas para, quando
as adversidades sobrevierem, a elas resistirem bravamente, ao invés de serem
subjugados e varridos para longe?
Boa tese, para meditação!Carlos Brandão de Almeida
2019-05-29
Uma bela historia e um grande ensinamento.
ResponderEliminarCerto que é uma grande história e um grande ensinamento. O autor, muito culto e pessoa de bem, consegue, em todas as histórias que escreve, deixar aos seus leitores, ensinamentos úteis à vida e com moralidade.
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