segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O LÁPIS DO AVÔ, por Carlos Brandão de Almeida

O lápis do avô 
OS terráqueos debatem-se com um problema reconhecidamente insolúvel: por um lado, aspiram a viver o maior tempo possível. Por outro, não querem enfrentar as infalíveis limitações que a velhice acarreta. Nada a fazer, senão aceitá-las e adaptá-las às contingências despontadas. A adaptação requer criatividade para urdir novos objectivos de vida. Exemplos não faltam: frequência de academias seniores, prestação de serviços comunitários, inscrição em agremiações culturais, cívicas ou desportivas. E, para maior deleite: cuidar dos netos quando para essa agradável função forem chamados  
O papel dos avós na educação supletiva dos seus netos pode revestir-se de enorme importância pois permite às crianças a aquisição de saberes que muitas vezes as escolas não lhes propiciam. E, para que esses conhecimentos tenham alguma valia formativa, as mensagens deverão expressar princípios morais de elevado valor humano. E, ainda, para serem apelativas, importa revesti-las de forma atraente em jeito de historieta. Dou um exemplo duma dessas histórias: 
Um menino observa o seu avô escrevendo num caderno e perguntou: 
- Avô, o que é que estás a escrever? 
- Olha João, estou a escrever um conselho para ti. Gostava que aprendesses esta mensagem. 
- Então eu ouvirei com muita atenção. Conte lá avô. 
- Queria que percebesses que, mais importante do que as palavras que estou a escrever, é este lápis que estou a usar! Espero que tu sejas como ele, quando cresceres. 
O menino olhou para o lápis e, não vendo nele nada de especial, intrigado, comentou:
Mas, avô, este lápis é igual a todos os que já vi. Afinal, o que tem ele de tão especial? 
- Bem, depende do modo como tu o olhas. Há cinco qualidades nele que se conseguires vivê-las, serás uma pessoa de bem e um cidadão exemplar. 
- Mas, um simples lápis tem assim tantos talentos? 
- Tem sim, olha a primeira qualidade é a de, com um simples lápis, podermos executar obras grandiosas. No entanto, nunca te esqueças de que existe sempre uma mão que guia os seus passos e que sem ela o lápis pouca utilidade tinha: a mão do homem e, para os crentes, a mão de Deus. 
A segunda virtude: o lápis regenera-se de vez em quando após ter sido afiado. O afiador agride-o e ele sofre um pouco mas, depois, torna-se mais útil. Se nós aprendermos a suportar as adversidades da vida, tornamo-nos numa melhor e mais forte pessoa. 
O terceiro atributo é o de que aceita que se apague o que escreveu erradamente. Aprende pois, meu neto, que o teres que corrigir uma coisa que fizeste, não é necessariamente mau, mas algo importante para te trazer de volta ao caminho certo. 
A quarta aptidão é de que o que realmente importa no lápis não é a madeira, mas a grafite que está dentro dela. Portanto, valoriza sempre o que mora dentro de ti. O teu carácter será a todo o momento mais importante do que a tua aparência exterior. 
O neto, muito atento e interessado perguntou ao avô: 
- Então avô qual é a última qualidade? 
-Olha, Joãozinho, o lápis, quando escreve, deixa sempre uma marca. Da mesma maneira, tudo o que fizeres na vida deixará traços e marcas. Para que esses marcos sejam valiosos tens que procurar ser consciente em cada acção que praticares. Afinal, nós só temos uma vida: ESTA! E só um momento: ESTE!”. 
Não será difícil aos avós vestirem as vossas lições de uma roupagem atractiva, adaptando ou inventando histórias. 
Carlos Brandão de Almeida 
Vilarosa, 2019.10.13 

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