O PESO DO COPO
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á uns
dilatados anos, integrei a direcção duma colectividade de cultura e recreio dos
subúrbios de Lisboa.
Quando se
celebrou um dos aniversários do clube, resolvemos organizar diversas
actividades comemorativas do evento. Como a agremiação tinha uma valência
cultural, incluímos no programa dos festejos várias acções de cariz erudito e
artístico. De entre elas, salientava-se a realização de uma sessão com leitura
de poesia, um episódio teatral e uma conferência sobre um tema da actualidade
que, cada vez mais, atormentava as pessoas: a gestão das tensões da vida
moderna. Para conferencista, convidámos o decano dos docentes da escola
secundária local, um professor muito admirado e considerado no meio estudantil.
A reunião começou com a abordagem genérica
à situação em que a sociedade se movia, particularmente dentro da esfera
discente.
Inesperadamente,
o orador pediu um copo com água. Satisfeito o pedido, o palestrante começou por
levantar o copo e interpelou a plateia:
- Quanto é
que os senhores e senhoras acham que pesa este copo de água?
Vários
assistentes exprimiram a sua opinião que, na generalidade, variava entre as 20
e 300 gramas.
O pedagogo
então parafraseou:
- Devo
esclarecer que não me importa o peso absoluto do copo. Importa-me sim por
quanto tempo vou poder segurá-lo. Se o sustento durante alguns minutos, tudo
bem!
Mas, se o
pretender manter durante um dia, vocês terão que chamar uma ambulância para me
levar ao hospital!
O peso é
exactamente o mesmo desde o início ao fim da experiência, mas quanto mais tempo
o mantiver seguro, mais pesado ele vai ficando.
A
dissertação ia ficando cada vez mais interessante e a assistência cada vez mais
curiosa.
O conferencista
logo satisfez a curiosidade da assembleia, concluindo:
- Pois,
meus senhores e minhas senhoras, peço-vos que ponderem esta realidade: se
carregarmos os nossos pesos o tempo todo, mais cedo ou mais tarde não
conseguiremos continuar com o esforço pois a carga vai-se tornando cada vez
mais pesada.
Assim
sendo, é preciso largar o copo e descansar algum tempo, para o poder segurar de
novo.
Concluiremos,
para finalizar, que temos necessidade de, periodicamente, deixar as nossas
cargas de lado. Isto alivia-nos e torna-nos capazes de continuar a nossa
missão.
É salutar
que antes de regressarmos a casa deixemos o peso do trabalho, ou doutras
preocupações, arrumados a um canto. Não os devemos transportar para o nosso
lar. Amanhã teremos tempo de recolhê-los e tratar deles.
A vida é
curta, aproveitemo-la!
Carlos
Brandão de Almeida
2018.03.31