O que
é português não é bom?
por Carlos Brandão de Almeida
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Quando Jesus Cristo retornou à casa paterna, na Nazaré, o
acolhimento que teve por parte de familiares e amigos não foi nada
entusiástico. Pelo contrário, receberam-no friamente, sem a efusão que
normalmente se dispensa aos entes regressados. E, embora lhe reconhecessem
alguns predicados, não o aceitaram com o júbilo que era suposto merecer. Nessa
altura, já a comunidade judaica o distinguira dos seus pares devido à
revolucionária doutrina de amor que veiculava.
Jesus sentiu essa atitude e lamentou a indiferença que lhe
dedicaram. Queixou-se, com amargura: “somente
em sua própria terra, junto da sua família, é que um profeta não é devidamente
honrado”.
Mais de dois mil anos passaram e chegamos à conclusão que,
incrivelmente, o comportamento dos homens não mudou muito.
Perguntar-se-à da razão desse procedimento: inveja, despeito
por um dos seus ter alcançado maior predominância no seu círculo social? Será
isso ou haverá outras explicações?
O certo é que já vem de longe o ditado “santos de casa não
fazem milagres”.
Não faz qualquer sentido, nem abona nada a nossa sociedade
que não notabilizemos quem nos é próximo e se salienta.
Devíamos considerar antes que nos cabe, também, uma
nesguinha do seu sucesso.
Esta atitude negativa não se restringe somente às relações
humanas. Também as coisas, os produtos, as ideias, os empreendimentos da nossa
terra, são preteridos em comparação com os que afluem de fora.
O que é estrangeiro é que é bom! Daqui resulta uma trasfega
de divisas para os cofres da estranja ou um parolo copianço das ideias
forasteiras.
Veja-se, por exemplo, a música importada, muita dela de
confrangedora indigência que, estranhamente, furta a audição de boas melodias
portuguesas.
E, quem afinal são as vítimas destas provincianas atitudes? Obviamente, os criativos nacionais, os escritores, os músicos, os artistas
plásticos, os empreendedores que só encontram o seu primeiro reconhecimento
fora do seu círculo natural, afastados do seu país.
Salvo melhor opinião, parece-nos de uma inusitada insensatez
ignorar ou menosprezar os valores portugueses, as suas obras, as suas
actividades e, também, os produtos por eles produzidos.
Carlos
Brandão de Almeida
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