segunda-feira, 27 de maio de 2019

O QUE É PORTUGUÊS NÃO É BOM? por Carlos Brandão de Almeida


O que é português não é bom?
por Carlos Brandão de Almeida 



          Quando Jesus Cristo retornou à casa paterna, na Nazaré, o acolhimento que teve por parte de familiares e amigos não foi nada entusiástico. Pelo contrário, receberam-no friamente, sem a efusão que normalmente se dispensa aos entes regressados. E, embora lhe reconhecessem alguns predicados, não o aceitaram com o júbilo que era suposto merecer. Nessa altura, já a comunidade judaica o distinguira dos seus pares devido à revolucionária doutrina de amor que veiculava.
          Jesus sentiu essa atitude e lamentou a indiferença que lhe dedicaram. Queixou-se, com amargura: “somente em sua própria terra, junto da sua família, é que um profeta não é devidamente honrado”.
          Mais de dois mil anos passaram e chegamos à conclusão que, incrivelmente, o comportamento dos homens não mudou muito.
Perguntar-se-à da razão desse procedimento: inveja, despeito por um dos seus ter alcançado maior predominância no seu círculo social? Será isso ou haverá outras explicações?
          O certo é que já vem de longe o ditado “santos de casa não fazem milagres”.
          Não faz qualquer sentido, nem abona nada a nossa sociedade que não notabilizemos quem nos é próximo e se salienta.
         Devíamos considerar antes que nos cabe, também, uma nesguinha do seu sucesso.
         Esta atitude negativa não se restringe somente às relações humanas. Também as coisas, os produtos, as ideias, os empreendimentos da nossa terra, são preteridos em comparação com os que afluem de fora.
         O que é estrangeiro é que é bom! Daqui resulta uma trasfega de divisas para os cofres da estranja ou um parolo copianço das ideias forasteiras.
         Veja-se, por exemplo, a música importada, muita dela de confrangedora indigência que, estranhamente, furta a audição de boas melodias portuguesas.
          E, quem afinal são as vítimas destas provincianas atitudes?              Obviamente, os criativos nacionais, os escritores, os músicos, os artistas plásticos, os empreendedores que só encontram o seu primeiro reconhecimento fora do seu círculo natural, afastados do seu país.
          Salvo melhor opinião, parece-nos de uma inusitada insensatez ignorar ou menosprezar os valores portugueses, as suas obras, as suas actividades e, também, os produtos por eles produzidos.
                                                                                                              Carlos Brandão de Almeida



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