A FLOR
Pede-se a uma
criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no
outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum
tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direção, outras noutras; umas
mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A
criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão
delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a
criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não
acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra
flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a
cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel
algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares,
mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
ALMADA NEGREIROS, nasceu em S.Tomé, quando seu pai, tenente de cavalaria,era administrador do Concelho. Faleceu em Lisboa em 1970.
Um poema bonito.
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