O romance "O Meu
Pecado", escrito em 1988, publicado em Julho de 2007 em Portugal, fala-nos de
Moçambique na África Oriental, das suas terras e das suas gentes. Mas também
nos refere gentes e belezas telúricas de um pequeno país plantado à beira-mar:
Portugal.
VILA PERY - TERRA DE JACARANDÁS
Pág.
34
Ruas larguíssimas que não ficavam atrás das mais
largas avenidas de Portugal, no Continente Europeu.
Nos
anos 50, os enormes jacarandás
tinham sido importados do Brasil, a pedido de um Beirense, quando em Vila Pery
exerceu funções administrativas, o Sr. Oliveira da Silva.
As suas flores quando caíam iam cobrindo os largos
passeios. Às vezes, com o vento, voavam qual bailarinas em pontas de pés num rodopio musical, atapetando também o alcatrão da rua que ficava
alcatifado de lilás e, quando
as pisávamos, faziam um som estrepitoso como se a vila estivesse sempre em
festa.
Parecia um cenário de um belo filme! Mas... os
cenários são copiados da natureza mágica. Recordei-me que em miúdo, ....etc.
Pag.35
a 38
Alguns anos passados, não me admirei
que as ruas de Vila Pery fossem alcatroadas "com alcatrão preto", mas
além das flores de jacarandá, os jardins das vivendazinhas amenizavam a cor do
chão.
Ah! – disse Zé
falando sozinho - Se eu fosse dono do Mundo, as ruas seriam
pintadas de cores garridas, às ricas, aos quadrados, às pintarolas! Pelo menos
se um dia inventar histórias para os meus filhos e netos, as ruas serão assim.
Disseram-me os colegas do quartel que, em Vila Pery,
toda a gente ia ao futebol. Quando o ouvi dizer pensei que me estivessem a
gozar. Brincadeiras de tropas, mais uma vez! Convenci-me quando me deram a
explicação que era um "ritual", principalmente para quem tinha filhas
casadoiras. Uma forma de as mostrarem para que arranjassem casamento! E muitos
se tinham feito, porque ali havia empresas grandes, que tinham contratado
jovens engenheiros, técnicos agrários, desenhadores, arquitectos, economistas e
pessoal para os quadros superiores das empresas, SHER - Sociedade Hidroeléctrica
do Revuè; SOALPO - Sociedade Algodoeira de Portugal - onde as noivas iam
comprar peças de tecido para o seu enxoval de noivado e a Brigada de Fomento e
Povoamento, que tinha por missão fixar colonos em grandes terrenos, que
produziam tabaco.
O campo de futebol era distante da sede, que era na
vila, por isso, no fim do jogo, os carros dirigiam-se para a sede, tendo que
atravessar a estrada nacional (que ia até à fronteira), esperando do lado da
vila uns pelos outros em fila, como se fosse um acompanhamento aos noivos
depois da saída da Igreja. Levou-me a pensar, se não seria um ensaio prévio, só
que aqui não se sabia qual era o carro dos noivos porque
não havia enfeites, nem lhes atiravam arroz ou pétalas de flores.
Depois do estacionamento em frente ou próximo da sede
do clube, as mães e filhas casadoiras, saíam dos carros pavoneando os seus
fatos domingueiros, dirigindo-se para uma sala-biblioteca onde ficavam a
cavaquear. As mães dos mais pequenitos preocupavam-se para que não corressem,
podiam tropeçar. E para que tivessem cuidado com os carros: "dá a mão à mãe Jorginho, chamava o
Pedro Bastos e a Ivone Shirley,
ao mesmo tempo. "Tochan,
tem cuidado, não atravesses à frente dos carros", dizia a Ninete. O Marques ficava muito sério a olhar para o filho, a
impor respeito. Ó
Géninha, despacha-te filha", dizia a Maria Augusta e o Ricardo, mas vendo que ela estava com a Lito da Ninete, já sabiam que iam ter uma tarde sossegada, porque as
miúdas entendiam-se perfeitamente.
Havia uma sala enorme, polivalente, tanto servia para
sala de cinema, como para os artistas-amadores da terra levarem à cena as suas
peças de teatro. Às vezes havia bailarico, com o conjunto "Oliveira Muge",
prata da casa, ou com "Os Rebeldes" da Beira, que estava na berra,
ambos de muita categoria.
Extracto
de uma parte da descrição de VILA PERY, no início dos anos 60. A
autora do romance “O Meu Pecado”: Celeste Cortez
Se ler este artigo, por favor deixe o seu comentário ao fundo desta página onde tem um desenho que parece um lápis ou cigarro!... É bom o autor saber se o que escreve é do gosto dos seus leitores. Se não for, diga-o sinceramente. Só excluirei os de falta de decência ou que de algum modo ofendam a moral.
Se ler este artigo, por favor deixe o seu comentário ao fundo desta página onde tem um desenho que parece um lápis ou cigarro!... É bom o autor saber se o que escreve é do gosto dos seus leitores. Se não for, diga-o sinceramente. Só excluirei os de falta de decência ou que de algum modo ofendam a moral.
Por aqui tambem e altura de jacarandas, alguns suburbios tem imensas ruas com arvores dum lado e outro da rua, mas ainda nao fui tirar fotos.
ResponderEliminar
ResponderEliminarOlá Sami,
Em Lisboa, mais propriamente em Belém, também há uma rua só com jacarandas. No tempo da flor é realmente um espectáculo digno de se ver. Aqui perto de nós, há um prédio que tem nas traseiras duas árvores jacarandas bem grandes. Foi daí que tirei, já há alguns anos, a foto que ilustra este texto.
Abraço.