O destino quer que uma terra bendita nos una nos sentimentos e nas
intenções, a Terra de Israel. Mas, ao mesmo tempo, e com imenso sofrimento, o
destino quis que houvesse também uma terra maldita, a dos campos de extermínio,
onde no coração da Europa, nos anos do Shoah foram exterminados milhões de
inocentes.
Escrevo-lhe, em nome dos judeus
italianos, poucos dias antes da sua visita ao campo de extermínio de
Auschwitz-Birkenau. Um evento muito esperado, que chamará a atenção de milhões
de pessoas para a página obscura da história que é uma ferida aberta no coração
da Europa e continua a questionar as consciências de todos os cidadãos
preocupados, do fundo do coração, com a defesa da paz, da liberdade e da
democracia.
Gostaria de lhe dizer que apreciei muito a sua escolha de não pronunciar
um discurso formal mas concentrar a emoção desta visita, tão significativa, num
longo e intenso silêncio. Uma forma de oração que clama e fará eco, tenho
certeza, aos gritos e à dor das muitas crianças, mães, jovens, homens que
daquela terra nunca voltaram. Uma sua oração que, unida às muitas nossas,
transformará aquela terra de sofrimento em lugar de culto. A sua visita
torna-se o emblema de um percurso introspetivo de redescobertas e defesa de
valores mais profundos — respeito pelo outro e pela vida — que hoje novos e
terríveis inimigos parecem pôr em questão juntamente com as formidáveis
conquistas que a Itália, a Europa e o mundo inteiro souberam realizar a partir
do pós-guerra. Fruto de um pacto entre gerações nascido precisamente das cinzas
de Auschwitz-Birkenau e de outros lugares de morte daquela época, a democracia,
a integração europeia e a existência de Israel são a prova do longo caminho
percorrido a fim de não esquecer a dramática lição do Shoah e para garantir a
todos, sem excluir ninguém, um futuro próspero e melhor.
Nunca como hoje as religiões e os seus líderes são chamados a ser um
exemplo para todos os cidadãos, prescindindo de cada pertença ideal, espiritual
e cultural. Por conseguinte, à sua espera tem um longo caminho de compromisso e
colaboração na consciência de que os elementos que nos unem são mais numerosos
e significativos do que os que nos dividem. Só assim as terras malditas do
extermínio e do ódio poderão assumir a santidade de todos os mártires que em
nome do amor e da tolerância aí sacrificaram a própria vida. Bendita seja a
nossa recordação.
*Presidente da União das comunidades
judaicas italianas.
ESTA CARTA FOI ENVIADA A S. SANTIDADE O
PAPA FRANCISCO, pela Presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas
(Ucei), Noemi Di Segni, aquando da sua visita aos campos de concentração de
Auschwitz e Birkenau, na sexta-feira, 29 de julho, na sua visita à Polônia, no
âmbito da Jornada Mundial da Juventude.
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