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Sagrada Família pintada por Celeste Cortez |
O mais verdadeiro poema do "Natal" atual, é este do meu confrade e amigo - João Coelho dos Santos. Se o leitor conhecer outro mais verdadeiro, por favor diga-me, gostaria muito de conhecer.
Natal de Quem
Mulheres
atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não
esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem,
eu sei!
- E as
garrafas de vinho?
- Já vão a
caminho!
- Oh mãe,
estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei,
não sei...
Num qualquer
lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a
família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam
copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures
esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se
embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo
Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a
chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai
terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo,
tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!
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