Atropelamento mortal
– Ruy Belo
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Nalgum oásis do
princípio ele fora
um fugitivo brilho no
olhar de Deus
-a vida havia de lho
lembrar muitas vezes.
Atravessou as nossas
ruas entre gatos,
a chuva molhou-lhe as
pobres botas cambadas.
Teve um banco de
jardim, teve amigos, um deles o sol.
Sempre sem o saber
procurou Deus.
Um dia foi campos fora
atrás dele, perdeu o emprego
na Câmara Municipal.
Teve mãe mas depois
nunca mais foi solução
para ninguém.
Naquele dia a morte
instalou-o
confortavelmente no
céu. Lá se foi
com seus modos
humanos, seus caprichos
e um notório
acanhamento em público
(há-de a princípio
faltar-lhe à-vontade entre os anjos).
Tinha o nome no
registo, agora habita
nas planícies
ilimitadas de Deus.
Nas suas costas ainda
se derrama
a tarde interrompida.
Manhãs e manhãs
desfilarão sobre ele,
caracóis cobrirão a
memória daquele
que foi da sua
infância como qualquer de nós.
agora é Deus que para
sempre o tem na voz.
Ruy BELO
Aquele Grande Rio Eufrates
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Atropelamento mortal
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