ANTÓNIO RAMOS ROSA nasceu no Algarve em 1924, faleceu ontem, dia 23 de Setembro, (quase com 89 anos). de pneumonia, depois de ter estado internado no Hospital Egas Moniz.
Foi um dos maiores poetas portugueses da atualidade, não só pela qualidade dos seus poemas como pela obra publicada.
Recebeu diversos prémios literários.
Doou o seu espólio literário à autarquia de Faro, de onde é natural. A Biblioteca de Faro tem o seu nome. Há um prémio literário instituído com o seu nome.
Poemas seus:
Quem escreve |
Quem escreve quer morrer, quer renascer num ébrio barco de calma confiança. Quem escreve quer dormir em ombros matinais e na boca das coisas ser lágrima animal ou o sorriso da árvore. Quem escreve quer ser terra sobre terra, solidão adorada, resplandecente, odor de morte e o rumor do sol, a sede da serpente, o sopro sobre o muro, as pedras sem caminho, o negro meio-dia sobre os olhos. |
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A Mulher
Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura
e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.
Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
A delicada majestade | ||||||||||||||||||||
Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas
ACORDES, QUETZAL EDITORES 1990 | ||||||||||||||||||||
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