sábado, 14 de janeiro de 2017

homenagem ao Professor Doutor CARLOS-ANTERO FERREIRA

 FALECEU O PROFESSOR DOUTOR CARLOS-ANTERO FERREIRA 12 de janeiro 2017.


         Eu e o Tó tivemos a honra de ser chamados de "amigos" por este Grande Homem. No dia do seu falecimento publiquei algumas fotos e dizeres na minha página. Falei da sua grandiosidade como homem de Artes e Letras, como ser humano, como...

Eis que acabo de encontrar uma publicação que vem confirmar o que escrevi atempadamente afirmando o Dom do Amor pelos outros que este nosso confrade e amigo tinha. 

          Bem haja Professor Doutor Arquitecto Carlos-Antero Ferreira por ter sido quem foi, pela amizade, bondade, sabedoria. Um dia nos voltaremos a encontrar, eu o Tó e o Professor, à frente de uma mesa de café, ou numa academia qualquer, conversando, rindo... porque academias de amizade haverá sempre desde que esteja lá o Professor Carlos-Antero Ferreira.


Eu e o Professor Doutor Carlos Antero Ferreira, em Dezembro de 2013,
na ALA - ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PORTUGAL,
no lançamento do meu livro de poesia aldravista "CÂNTICO DE PALAVRAS",
que foi apresentado pelo Professor. 
Ao poeta Carlos-Antero Ferreira, a minha homenagem, publicando um poema seu escrito em Abril do ano 2015. Como sempre a sua poesia são lições. Esta é uma Lição de História Mitológica.

o Poema Genial do Professor Carlos-Antero Ferreira
A SECRETA PINTURA
Este poema foi ofertado pelo autor ao grande pintor português, nosso confrade na ALA - Academia de Letras e Artes, Luis Athouguia.

NO DIA PRIMEIRO O OLHO RECEBEU
o esplendor original e tudo que mostrava
ser fruto da criação: possuir forma e cor,
enquanto as divindades nasciam
inventadas de afluente maternidade
em intrépidas sagas e
imponderáveis alcovas de
antiquíssimas mitologias.
Mais tarde, mais tarde,
os séculos e os milénios agenciariam,
― como se hoje fora,
rigorosamente arrolar as existências
e disciplinadamente organizar o património
dos seres e das coisas,
segundo normas e regras rígidas
e severos critérios.
Ninguém aliás se deu conta
E ninguém ainda sabe,
De quem foi a ideia original
E a ordem para que assim se cumprisse!
Na aurora mais que primitiva,
de pé no cimo da Montanha,
tendo na mão aberta e estendida o olho que
recebera o esplendor primordial,
pintura de Luis Athouguia 
e das nove Musas rodeado,
um jovem cuja nudez uma leve túnica cobria,
recebia a revelação de que toda a matéria
terá forma e terá cor.
Perante macia folha de papel de algodão
e tendo nas mãos suaves pastéis,
o mesmo jovem que uma leve túnica cobria
havia de criar sem saber que o fazia,
em magnífica desordem
― mas com sábia sabedoria!
o léxico de todos os mistérios
o inventário de todos os enigmas.
No laboratório da secreta pintura,
acumulam-se códigos e referências a
rituais, sacrifícios, oferendas,
oráculos, ficções de magia,
oníricas visões,
cintilações do cosmo,
epopeias.
Passeiam-se Orfeu e os argonautas,
ciclopes e titãs,
e os imortais,
e os deuses dos ventos enlouquecidos,
e as quatro idades
e os dois hemisférios,
e todos os engenhos,
e antes de todos
o Alfa e o Ómega,
o infinito no finito,
Pássaros bisnaus insinuam-se
pela gula dos incautos
e nas funduras dos mares de Poseidon
chocam-se fragmentos de coral
e seres de todo inexplicáveis
movimentam-se no silêncio pesado
do tempo circular e um cometa
― ou será Pégaso?
passa fora dos limites do quadro!
Não é casual ou fortuito
o fogo das forjas de Hefesto,
e pela fome de imortalidade
antagonizam-se e lutam os arquétipos,
levantam-se tótemes,
invocam-se as divindades.
Há muito Epimeteu abriu a boceta de Pandora,
mas com a esperança que ficou no fundo
há-de redescobrir-se o perfume das flores
e o fresco orvalho nas manhãs dos bosques
― mas atenção!
que apesar das felizes dádivas das Ninfas,
há lágrimas ocultas
prontas a despenhar-se no abismo
pelas faces lívidas de máscaras venezianas,
enquanto o Pintor,
das formas muitas universal inventor,
e deveras prevenido do fatal exemplo de Babel
pede de empréstimo a fundo perdido
― máxima ousadia!
inspiração maior aos 22 capítulos
do grande mural do Livro do Apocalipse,
que o apóstolo João em Patmos escreveu.
Carlos-Antero Ferreira
Casa do Monte, Monte Estoril, em Abril de 2015

Mais um poema do Professor Doutor Carlos-Antero Ferreira, já publicado neste blogue:

O RESPEITO UNIVERSAL
     Folhinha de cordel ou lengalenga p'ra cantar na rua
do livro de poemas: "Breve Tratado dos Dias"

O professor chamou à escola
Os pais dos meninos
E fê-los sentar dois a dois
Muito direitos nas carteiras d'escrever.

E em severa prelecção, que assim, que assado,
Mas sobretudo que em nome da educação,
Do bom nome da instituição e da nação,
Assim não podia ser, assim não podia ser!

Na presença do professor,
Bem dissera e avisara o director,
Que o respeito tinha de ser respeitado
E os meninos comportar-se!

E para que não esquecessem, não esquecessem,
Por antecipado castigo mandou
Que todos vinte vezes escrevessem
A norma que em forma de ditado ditou:
      - Os meninos têm de comportar-se!
        Os meninos têm de respeitar!

Na sala de aula com paredes antigas
Onde do tempo a líquida memória se esvaía
E um solene presidente olhava, dependurado
Em murcha fotografia desbotada -

Os pais calados e deveras penitenciados
Ao professor ouviram compenetrados,
Os joelhos apertados
Os braços paralelos
Pelos cotovelos dobrados
Em ângulo recto dobrados,
E as mãos à frente abertas
Tal qual há milénios o escriba acocorado
Se via no compêndio de História estampado.

Resultou a prelecção:

Os pais, calados e deveras penitenciados,
Os rostos apagados em lisas faces venezianas
Brancas máscaras, e os meninos,
De olhos um pouco esbugalhados,
Aprendendo depressa a magistral lição.

E em dia de sol e de festa,
Em regozijo total e a bandeira hasteada,
A escola, exemplo nacional
Foi pelo ministério premiada
E em nome do respeito universal
o professor muito louvado


E o director com pompa condecorado.

Monte Estoril, Setembro 2010

OUTRO POEMA INVENÇÃO DO 5º. QUADRANTE... do Professor Doutor Carlos-Antero Ferreira

Rendidos,
Os poetas inscreveram-se nas
Aulas de Gaspar Monge
Porque lhes disseram
Que era forçoso disciplinar a
Poesia que faziam
- Os conteúdos rebeldes,
ou libertinos, ou levianos,
e a forma sem rei nem roque,
métrica ou rima.
E disseram também que para tanto
Nada melhor que a geometria
- De preferência a descritiva!
Mas depressa se cansaram
Do que na Politécnica ensinava o mestre.
E na mais tumultuosa
Reunião Geral de Poetas
- Convocada pelo sindicato
e até hoje registada pela história,
Deliberaram abolir a linha-de-terra
E o horizonte,
Eliminar as cotas e os afastamentos,
Expulsar do quadro os planos bissectores...
E proclamar a Revolução...
Que consistiu em inventar o 5º.quadrante
Que só existe, saibam todos!
Na imaginação dos poetas
- Mágicos e acrobatas,
geómetras e ilusionistas
de incansáveis piruetas!

Monte Estoril, Julho de 2010

 *Professor catedrático Carlos-Antero Lopes Ferreira;
Decano da Faculdade de Arquitectura de Lisboa,
Membro do Comité do Património Cultural do
Conselho da Europa, etc. 
diversos livros de estudos publicados. 
1970 - 1º.livro de poesia:  "A cidade e o Mar"
1982 - 2º.livro de poesia:  "E as palavras tinham sido inventadas"
2011 - "Breve Tratado dos Dias"

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