sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA - CONTO

Pequeno conto relacionado com a Páscoa: 

Umas palavras engraçadas que me foram ditas recentemente. Transformei-as em conto, porque. se os contos começam por "era uma vez" estas palavras podem também começar por
                            "ERA UMA VEZ"

Era uma vez numa aldeia da Beira Alta, onde as pessoas menos abastadas escolhiam para padrinhos dos seus filhos alguém que de alguma forma lhes pudesse dar alguma ajuda. Ou pela sua riqueza material ou mesmo pela sua riqueza pessoal, a sua bondade e idoneidade.

O Inácio, nascido uns anos antes de mim mas, parece-me que ainda o fui encontrar na escola,  foi baptisado tendo como padrinhos o meu tio Inácio e minha mãe, irmãos entre si. O meu tio ainda era solteiro, assim como minha mãe. O Inácio pelo casamento destes ficou com mais um padrinho e mais uma madrinha, ou seja, ficou sendo afilhado de meu pai e de minha tia Maria, mulher do meu tio Inácio. Ficou a ganhar, receberia assim dois "folares" quando no domingo de Páscoa, um pouco envergonhado, batesse à porta dos padrinhos, tirasse o boné, se curvasse em respeito e dissesse com voz sumida "a sua benção minha madrinha" "a sua benção meu padrinho". 
O Inácio vivia com uma avó, suponho que seus pais foram trabalhar para o Barreiro. Mais tarde, quando consolidaram a vida e a avó morreu,  veio ter com os seus progenitores.
Quis a vida, a sorte, a maneira de ser do Inácio, o seu amor ao trabalho e ao estudo, que o Inácio singrasse na vida. Juntou uns bons patacos à sua normal reforma. Tem um  filho com uma licenciatura que também vive bem. 

Depois da tropa, sempre que o Inácio podia, nas férias da Páscoa principalmente, ia à terra. Ele sabia que era costume ao passar pelas raparigas que mais lhe agradassem, dar-lhe umas amêndoas que levava no bolso do casaco. Sim, porque o Inácio passou a andar de casaco, a menos que estivesse um calor terrível, em que ficava em camisa, mas camisa de bom tecido. Naturalmente houve uma a quem ele deu mais amêndoas, para ficar na conversa com ela. E com esta casou. Boa rapariga, fazem um bom par ainda hoje.
Depois da reforma, o Inácio com a esposa foram viver para a sede do Concelho, próximo da terra e vai a esta pelo menos uma ou duas vezes por semana. Visita a Associação local, dá uma palavrinha a um, um abraço a outro, talvez uma palestra de boas maneiras à criançada, e regressa a casa com a esposa, depois de ali terem passado um bocadinho para matar saudades.
Recentemente, tivemos a possibilidade de conversar mais um bocadinho. E o Inácio contou-me, aquilo que meus pais já me tinham contado, mas a que não dei grande atenção na altura:

.... Era uma vez um menino chamado Inácio, que vivia com uma avó e tinha uns bons padrinhos, em todos os sentidos. A madrinha Georgina e o padrinho Artur, uns tempitos antes da Páscoa, chamaram-no lá a casa e tiraram-lhe as medidas à cintura, à altura da perna. Não lhe disseram que era para lhe mandar fazer umas calças, as boas surpresas são sempre as mais agradáveis.  
          Quando saiu de lá, pulava de contente a dizer aos amigos: Os meus padrinhos vão-me oferecer um cinto.
- Um cinto Inácio?
- Sim um cinto. Um cinto de cabedal, como o do meu padrinho.

Suponho que naquela época poucos meninos da escola teriam um cinto de cabedal, pelo que a alegria se justificava.

Celeste Cortez

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