domingo, 18 de julho de 2010

ÁFRICA MINHA, SAUDADE TANTA


ÁFRICA MINHA, SAUDADE TANTA



  • No romance MÃE PRETA - CULTURA DE UM POVO - tive a preocupação de oferecer ao leitor a minha visão da cultura moçambicana da época em que vivi em Moçambique, esperando contribuir para um maior conhecimento de alguns e descoberta para outros do modo de vida de pessoas pertencentes a dois povos diferentes, mas que partilham a língua, muitos usos e costumes e têm uma História comum.




  • Quando cheguei a Moçambique, mais propriamente à cidade da Beira, a 23 de Junho de 1950, ainda criança, talvez pelo facto de ser criança, notei, que os empregados domésticos vindos directamente das suas terras, faziam num tempo-relâmpago a auto-aprendizagem da língua portuguesa, matizando-a com o sotaque da língua (dialecto) de cada um, o que resultava numa sonoridade ímpar.




  • Volvidos tantos anos, a recordação tão grata daquele português e dos seus inesquecíveis autores falantes, deu-me o mote para incluir nos diálogos deste romance, esse matizado composto pela fusão das duas línguas, a materna (do povo autóctone) e o português.




  • Sem essa composição linguística de cariz africano, que tão bem soava aos ouvidos dos brancos que naquelas paragens estiveram, a história que imaginei, de Mãe Preta, perderia todo o sabor africano e não lhes mitigaria a nostalgia daquela África inesquecível.




  • Os que por lá NUNCA passaram, ficarão, assim o creio, com vontade de conhecer África e, depois de a conhecer, poderão compreender a nostalgia daqueles que viveram naquelas terras mágicas, terras com uma luminosidade maior, com um sol mais radioso do que o próprio astro-rei (se isso fosse possível), onde esse sol nos abraça manhãzinha cedo, onde há um casamento harmonioso entre a Natureza selvagem e o Homem que ainda não copiou o stress da sociedade cosmopolita.




  • Aos que ainda não conhecem África, porque espera? Vá, boa viagem e não tenha pressa de regressar.

Neste romance como personagem principal encontramos LINA MANDUNDE, SIMÃO seu primeiro marido, JUMA como 2º.marido, JOÃO o amigo que a deseja e o Sr. MANUEL, branco, de olhos verdes e tez queimada do sol, com cantinas no mato, que lhe propõe viver com ela, numa casa com mainato e cozinheiro, porque as manacages que tinha tido nada significaram. Com Lina, seria diferente, prometeu. Compreenda Srª. Lina, um homem não é de ferro, tem de ter uma mulher ao pé. A minha mulher ficou em Portugal e quer lá continuar, agora que os miúdos já andam na Universidade...


- Olhe, Sr. Manuel, felizmente que poucos brancos pensam da mesma maneira. Quantos estudantes estarão em Portugal e os pais em Moçambique? A sua mulher quer lá continuar porque não teve coragem nem capacidade para vir para África começar uma nova vida, mas tem, de certeza, capacidade para fazer coleção de dentes de elefante, mandar fazer malas de pele de crocodilo, mandar fazer casacos de peles e pendurar peles nas paredes e no chão, as peles dos animais caçados em Moçambique pelos preguiçosos e estúpidos dos pretos, como ela dirá, e, ainda lhe sobrará tempo para lhe pôr um par de cornos, que é o que o Sr. Manuel precisa por a deixar sózinha a criar os filhos.


  • Celeste Cortez

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