sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

natal de quem - poema de joão coelho dos santos

Foto de Celeste Cortez "O meu Natal", direitos registados. 

Poema: "Natal de quem?"

Mulheres atarefadas 
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.

- Não esqueças o colorau
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
-Oh mãe, estou pr'a ver 
Que prendas vou ter.
- Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio, 
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu, 
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!
(João Coelho dos Santos in Lágrima do Mar- 1996)O meu mais belo poema de Natal

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

NOVO SECRETÁRIO GERAL DA ONU - ANTÓNIO GUTERRES



Pobreza extrema, atropelos aos direitos humanos, conflitos de toda a ordem, exigem alguém cujos méritos passem por uma visão precisa da complexidade
 dos muitos desafios que hoje se colocam à Comunidade das Nações. Do todo, avulta uma preocupação maior; a paz regional e universal, e esta exige o diálogo permanente com vista ao estabelecimento de pontes e de consensos alargados e duradouros.

António Guterres é um homem preparado, um homem com um sentido humanitário incomum, um ser sensível aos dramas actuais com que se debate a humanidade. Um homem que reúne o unânime apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que aclamou a sua  recente nomeação para o mais importante posto no conserto das nações.

Portugal orgulha-se deste seu filho e os portugueses pedem a Deus que o ilumine e ajude no hercúleo esforço que dele se espera para mitigar tensões e injustiças, a bem da paz global.

António Guterres consubstancia, em si, a vocação universalista e humanista de Portugal e dos portugueses, o que faz crer que a sua acção à frente da ONU virá a constituir-se como uma preciosa contribuição para a sempre desejada paz no mundo.

Estou certo que todos os que integram o Circulo Universal dos Embaixadores da Paz, a que me honro de pertencer, vão estar com ele na prossecução deste objectivo maior. Assim Deus o ajude. 


Eugénio de Sá
Sintra, Portugal
11 de Dezembro de 2016

JOSÉ RÉGIO - LITANIA DO NATAL

















Litania do Natal, 

       de 

JOSÉ RÉGIO

A noite fora longa, escura, fria. 
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus...»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus...»
Que então me recordei do santo dia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus...»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus...»

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.
            

José Régio, in 'Antologia Poética' 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

poeta FERREIRA GULLAR

Imagem relacionada

No dia 4 de Dezembro de 2016, faleceu de pneumonia no Rio de Janeiro, o grande poeta FERREIRA GULLAR, DE 86 ANOS DE IDADE. .

É QUANDO UM HOMEM QUISER - ARY DOS SANTOS

ARY DOS SANTOS – É QUANDO UM HOMEM QUISER

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão




E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


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POETA - ARY DOS SANTOS - EM NOME DOS QUE CHORAM

EM NOME DOS QUE CHORAM, 
DE ARY DOS SANTOS  

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arame em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,

Volta outra vez ao mundo!

sábado, 3 de dezembro de 2016

NATAL - POEMA DE FERNANDO PESSOA











Poema de Natal 

Fernando Pessoa


Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.


Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.


E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !
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