VINICIUS DE MORAES, (meia idade) poeta,dramaturgo Foto da internet com a devida vénia e agradecimentos. |
VINICIUS DE MORAES, qual D. Juan apaixona-se por todas as mulheres bonitas, elegantes, ou que a ele pareceram assim. A beleza é subjectiva, cada pessoa tem o seu conceito. Casou nove vezes, fora... as vezes que não casou!
Descendente de avô e mãe pianistas, de cantores (seu pai e um tio), cedo se inclinou para letrista de canções (poeta) e composição (musicar canções), quer só
ou acompanhado de outros compositores brasileiros bem conhecidos, como Tom Jobim, etc. Gostava de viver a vida, de copo de uísque na mão e rodeado de amigos.
Foi diplomata, mas porque dentro de si havia um homem show, um homem espetáculo, o palco era a sua casa predileta. Assim, faltando ao trabalho nas Embaixadas Brasileiras onde deveria estar trabalhando, acabou por ser exonerado compulsivamente. Depois da sua morte foi renomeado, digamos assim, tendo ficado com o título de Embaixador. Porque na verdade, percorrer o mundo a dar show de poesia/show de canções/show de gentileza/show de simpatia/ é levar o seu país a ser mais conhecido, mais divulgado.
A versão original da música, com o nome de Menina que passa, era diferente e continha a seguinte letra, composta por Vinicius:(informação da Wikipédia):
Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar
Porém, nem Tom nem Vinicius gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinicius, inspirado em Helô (Heloísa) Pinheiro, que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso (hoje o Bar tem o nome de: Garota de Ipanema), em Ipanema.
Tom e Vinicius frequentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa, morava na rua Montenegro, número 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração da canção. Provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa, quando se casou, convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.
ANÁLISE
DO POEMA DE VINÍCIUS DE MORAES, pela professora escritora Celeste Cortez - Aulas de Análise e interpretação de Poesia – 27-04-2015(em Sintra) 28-4-2015 em Cascais.
ANÁLISE DO POEMA DE VINÍCIUS DE MORAES “ A MULHER QUE PASSA” –
Poeta Vinicius de Moraes 1913-1980 (poema escrito em 1938). Aulas de Análise e
interpretação de Poesia – 27-04-2015, pela escritora Celeste Cortez professora
da ACTIS - Universidade Sénior de Sintra e da Academia Sénior da Cruz Vermelha
Portuguesa – Polo de Cascais, Portugal:
MULHER QUE PASSA
Meu Deus, eu
quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Meu Deus, eu quero a
mulher que passa
Cisnes mansos. Foto de Tó Cortez. Repare no pescoço fino, que lembram braços delicados. |
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Poema A MULHER QUE
PASSA de VINICIUS DE MORAES (1913-1980) escrito em 1938.
O título e o tema
revela-nos “o ser efémero”, transitório, repentino. A própria pontuação também sugere. O poeta é um autor do modernismo, porém neste poema existem
características românticas, todo o poema o denuncia, é próprio do feitio de
Vinicius de Moraes, um romântico conquistador de mulheres. VINICIUS
foi contemporâneo e amigo, visitante da casa da nossa grande fadista Amália
Rodrigues, onde se faziam tertúlias literárias, onde se encontrava o grande
poeta português Ary dos Santos e a poeta (que afirmou não querer ser poetisa)
Natália Correia.
Vinicius
foi mulherengo, teve oficialmente 9 mulheres.
Refere os aspetos físicos de uma mulher que ele idealiza – ou
apenas vê passar - e a considera perfeita admirando todas as partes do corpo
dela de uma maneira sensual. Como poeta imaginador, ele sofre por que quer essa mulher.
1 - Meu
Deus, eu quero a mulher que passa - O poeta quer a mulher que
passa. Pede-a a Deus, como se estivesse a rezar uma oração. Renova a sua prece
diversas vezes no poema, com a mesma frase.
Seu dorso frio é um campo de lírios - A “mulher que passa” é
fria, é indiferente. Fria como um campo de lírios que nascem em lugares
húmidos. Mas ser “fria” é ser indiferente. Ela passa indiferente, não o
conhece, passa sem o ver.
Sete cores – sete esperanças: O poeta
eleva aquela mulher ao ponto de a comparar ao arco iris que tem sete cores. Ou pensaria
nos sete pecados mortais? Apenas imaginação poética, talvez.
2 – Meu Deus, eu quero a
mulher que passa! O poeta insiste.
Ó!
Como és linda, mulher que passas – O poeta está em transe,
apaixonado. Ele diz que ela é linda. O poeta é normalmente bom observador, tem
bom gosto. Ele deseja a mulher que
passa e exalta a sua fisionomia, sendo que a mulher que passa é uma mulher
qualquer. Surge como se fosse espontânea, despreocupada com a multidão e
com o que acontece ao seu redor. Ela, mulher, podendo até ser uma pessoa
simples porque o poema não demonstra, tem a capacidade de transformar o
ambiente pela sua presença e passagem.
Que me sacias e suplicias,
dentro das noites dentro dos dias! Saciar/aquecer;
Suplicias/fazer sofrer/sofrimento. As 24 horas do dia, os sete dias da semana, sempre.
O poeta demonstra a sua gratidão à
mulher que na sua imaginação o
aquece, que o enternece, que o sacia dias e noites, mas que também o faz sofrer. Nesta frase o
poeta explora o efeito da linguagem, transmitindo-a aos leitores,
despertando-lhes impressões de intenso sensualismo.
Teus
sentimentos são poesia, teus sofrimentos, melancolia – Bela
rima poética, musicalidade. O poeta por estar em transe, adivinha os
sentimentos e os sofrimentos da sua musa inspiradora.
Teus
pelos leves como a relva macia. E os belos braços são cisnes mansos.
Esta comparação é extraordinária: Imaginemos a beleza dos cisnes a deslizar num
lago. O seu pescoço altivo. O poeta dá-nos a visão de os braços dela serem alvos,
longos, bem torneados. Não podemos deixar de aceitar que ela é bela, sublime,
uma vez que é colocado pelo poeta como um ser superior. Ele entra em transe, a
mulher atrai a sua atenção. Silenciosa parece falar. Porquê? Pelos seus gestos, comportamentos.
Torna-se misteriosa para o poeta.
3 - Meu Deus, eu quero a mulher que
passa! O poeta suplica. Quer. Quer mesmo.
Insiste no seu pedido ao Criador. Mas a mulher passa, porque não é palpável,
pelo menos não é palpável para o poeta, ela não é sua, quando passa nem sequer
tem consciência que o poeta a deseja, segue em frente passando altiva e serena.
Imaginemos o poeta sentado a uma mesa do café ou encostado a um pilar, vendo-a
passar. Quantas vezes? Quantas vezes teria passado à sua frente, ele imaginando
fazer-lhe um poema, até que o poema brotou de dentro do poeta romântico. Sim,
este poema pertence ao estilo romântico.
Como
te adoro, mulher que passas: O poeta confessa a sua adoração pela
mulher que passa, deseja que ela preencha a sua vida.
E
repete: que vens e passas, que me sacias dentro das noites, dentro dos dias.
Por que
me faltas, se te procuro? Ela não sabe que o poeta a procura,
ignora.
Por que
me odeias quando te juro que te perdia se me encontravas e me encontrava se te
perdias? Pura imaginação do autor…
mas poderá ser um apelo à sensualidade
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida? Voltar neste caso, poderá
ser “voltar-se” para o lado onde ele está a espionar a sua passagem todos os
dias..… Tendo em atenção que esta mulher existiu. O poeta inspirou-se numa moça
que passava em frente ao bar onde ele estava todos os dias (Foi Heloísa Pinheiro).
Por que não voltas mulher querida - Se bem que o verbo “voltar” pareça que
ela já tinha sido sua e estejam separados, pode apenas significar que ela
deixou de passar ali na hora em que ele esperava vê-la passar para se saciar
com a sua visão .
sempre
perdida, nunca encontrada… Afinal a frase “nunca
encontrada” pode denunciá-lo. O poeta sentiu, sentia dentro de si
que a mulher já era dele, já a amava sem que ela fosse sua companheira fisicamente.
Por
que (por que razão) não voltas à minha vida para o que sofro não ser desgraça?
Julga-se um desgraçado sem a sua amada imaginária.
Sempre
perdida, nunca encontrada? – Para ele, poeta, não está encontrada
fisicamente, apenas virtualmente, apenas no seu coração louco de poeta.
Eu
quero-a agora, sem mais demora a minha amada mulher que passa: Roga, suplica,
quer, exige.
Que
é tanto pura como devassa: Na sua imaginação ela estimula ao
pecado, porque gera sentimentos de pureza mas também de devassidão “pura e devassa”.
Desperta desejos mundanos, carnais. Refere o
estímulo que ela lhe causa para pecar.
Que
boia leve como a cortiça: Da mesma maneira que a cortiça continua ao cimo sem
se afundar, essa mulher nunca sairá do pensamento do poeta.
e
tem raízes como a fumaça - Na fumaça, o fumo evola-se em
espirais, evapora-se, mas sai sempre do mesmo lugar, como se tivesse uma raiz
de onde se vai evaporando.