UTOPIA QUANTO BASTE
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a sua encíclica, Centesimus Annus, o Papa João Paulo II, apóstolo e
peregrino de Fátima, abordou, com todo o realismo, o fracasso da ideologia
colectiva que agonizava em doloroso estertor os povos forçados a suportá-la
durante largas dezenas de anos. Os mais esclarecidos sabiam, desde há muito,
que o Estado Patrão é um Monstro contra-natura, coarctador das mais elementares
liberdades individuais.
Mas, o Santo Padre condenava também os
malefícios de um capitalismo desregrado, igualmente monstruoso, incapaz de
administrar com justiça a distribuição da riqueza e, por isso, algoz de
milhares de seres. Esse modelo de sociedade, no seu quadro mais radical, venera
dois deuses: o Tempo e o Dinheiro. Time
is Money é a bandeira dos adoradores dessa forma de vida.
Colectivismo científico e capitalismo
selvagem têm, afinal, um denominador comum: a escravidão aos valores materiais
em detrimento dos princípios espirituais geradores da solidariedade e da
fraternidade humana.
Lembro-me de uma história oriental passada
entre um pobre e um sovina: O mendigo bateu à porta do forreta e pediu-lhe um
pouco de pão para matar a fome. Respondeu-lhe o avaro que não era padeiro, que
nada tinha para ele. Insistiu o pedinte esmolando-lhe um pouco de carne. Ainda
menos, respondeu-lhe o somítico, eu não sou açougueiro. Então um pouco de
farinha porfiou o pobre. Respondeu-lhe o avarento, já enfadado, dizendo que não
era moleiro. Ao menos, instou o coitado, umas moedinhas. Já chega, ripostou o
unhas-de-fome, eu não sou nenhum banco, segue o teu caminho e não me maces.
Triste, o pedinte rogou que o deixasse descansar à sombra, em sua casa.
Exasperado o agarrado permitiu-lhe a entrada. Senta-te ali. Então o mendigo
entrou em casa e, de pronto, começou a fazer as suas necessidades. O dono da
casa, enfurecido, gritou-lhe: malandro, o que estás tu a fazer?
- Num sítio tão
inútil como este – sentenciou o pobre - não vejo coisa melhor do que defecar!
Com efeito:
- Se eu acumular diplomas, cursos e
estágios mas for indiferente aos problemas dos outros, a minha cultura não
passará de um inútil armazém de canudos;
- Se eu desfrutar de uma vida abastada e
não me lembrar de ajudar os que têm fome, os desempregados, os doentes e todos
os que necessitem dum providencial apoio, sou apenas um inútil manequim.
A todas estas situações é comum a
ausência de generosos valores morais sobrelevados pelo império do materialismo.
Façamos uma sincera introspecção que nos
leve a rejeitar enfeudamentos a modelos de sociedade desumanizante.
Encaminhemo-nos sim pelas virtudes dos valores espirituais e de solidariedade. Importa,
pois, não tolerarmos a injustiça e as profundas desigualdades que povoam a
nossa sociedade.
Sabemos que a Utopia é inatingível mas
esforcemo-nos por nos aproximarmos dessa quimera.
Carlos Brandão de Almeida
2013-02-11
Carlos Brandão de Almeida
2013-02-11
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