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Foto TóCortez - (fotografia ToCortez OLHARES) |
Havia um tempo para
tudo
Ouve-se com alguma frequência eleger o passado como uma época de melhor qualidade de vida.
Antigamente
assim... Noutros
tempos assado... invoca-se, saudosamente.
Será que os tempos passados foram melhores
que o tempo presente? Os nostálgicos são afirmativos.
Mas há também quem, de boa memória, se
recorde das grandes dificuldades por que passaram os nossos avós, pais e até
alguns de nós. Insuficiências várias, injustiças dolorosas, atraso cultural,
vidas duramente vividas, tudo isso existiu e não deixou saudades.
Então, afinal, em que é que ficamos? Antes
ou agora?
Há um tempo para tudo,
Um tempo para todas as coisas sob os céus;
Um tempo para nascer e um tempo para morrer;
Um tempo para plantar
e um tempo para colher o que foi plantado.
(Eclesiastes,
III, 1-2)
Julgo que dificilmente alguém poderá dar
uma resposta honestamente conclusiva.
Nos tempos actuais, graças ao acelerado progresso e ao
notável desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da consciência social, regista-se uma franca melhoria da
maneira como se vive. É inegável que o Homem vive mais tempo, tem mais
conforto, melhor acesso ao ensino, mais meios curativos, desloca--se com maior rapidez, em suma,
pode viver melhor. E vive
melhor?
Então e a droga? E a sida? E o
álcool? E a poluição? E os extermínios? E a má
qualidade dos alimentos? E o
aumento da criminalidade? E o
stress? E o ruído? E África? Pois é... Realmente
uns tantos vivem muito melhor, mas outros tantos vivem muito pior.
O que eu sinceramente entendo que piorou
relativamente ao passado, não foram as condições de vida, mas sim o modo como
se vive.
No Eclesiastes
ensina-se que há um tempo para tudo. Hoje vive-se sem tempo para nada, a não ser para ter,
possuir, ser dono ou para alcançar sucesso a qualquer preço e outras obsessões
equiparadas. Para isso trabalha-se freneticamente, atropela-se vergonhosamente,
corrompe-se escandalosamente.
Já não há “um tempo para todas as coisas
sob os céus”. Um tempo para a meditação, um tempo para a amizade, um tempo
para amar, um tempo para o convívio fraterno, um tempo para o deslumbramento da
Natureza, para o passeio com os filhos, para o pic-nic aos domingos, para a
calma leitura de um livro...
É a era do acelera, da velocidade, da ultrapassagem,
da pouca urbanidade, do desrespeito, da finta, do “Chico esperto”, da falta de
palavra, do embuste, da vigarice, etc. e tal.
Deixou de haver um tempo para plantar e,
por isso, de haver um tempo para colher o que foi plantado. É mais fácil
comprar o que os outros semearam. -.
Por este andar e na vertigem da ligeireza
deixará de haver um tempo para nascer., mas haverá certamente um
tempo para morrer … angustiado!
Não sou saudosista. Mas confesso-me um
nostálgico dessa maneira serena, ponderada, cordata e calma como se vivia
naqueles tempos em que havia um tempo para tudo.
Carlos
Brandão de Almeida
Este artigo e a foto podem ser reproduzidos, desde que mencionados os seus autores.
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