Entrei na vida
com armas de vencida;
alma, sonho, poesia.
quando eu cantava
o mundo ria
mas nada me importava:
cantava.
Depois, um dia,
o mundo atirou pedras ao meu canto
e a minha alma rasgou-se.
Que seria?
medo, espanto,
revolta ou simplesmente dor?
Fosse o que fosse,
o orgulho foi maior.
Com dez punhais nas unhas afiadas
e nos olhos azuis duas espadas,
eu nunca mais seria, nunca mais,
a que entrara na vida
com armas de vencida.
Agora o meu querer era mais fundo:
de um lado, eu, do outro, o mundo.
e começou a luta desigual
do tigre e da gazela.
A vencida foi ela.
Mas que louros colheu dessa vitória
o mundo cego e bruto?
O sangue dos poetas? Triste glória…
Cinza de sonhos mortos? Magro fruto…
Oh, não, punhais e espadas!
Eu só quero cantar! Não quero ossadas
nem, sob os pés, um chão de campas rasas.
Eu só quero cantar! Só quero as minhas asas
e a minha melodia:
Alma, sonho e poesia…
Alma, sonho e poesia…
Fernanda de Castro in «39 Poemas», 1941
terça-feira, 26 de abril de 2011
rumor de asas: ALMA, SONHO, POESIA----------Fernanda de Castro
Rumor de asas: Alma, Sonho, Poesia--------Fernanda de Castro:
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