Circuito lusitano
Cavalgar, viajar e mudar de lugar rejuvenesce o ânimo
Séneca
Sou um tipo cheio de contradições. Por um lado, por exemplo, rejeito visceralmente a chegada da arrenegada morte. Mas, por outro, não exulto com o advento da velhice. Na realidade, não são nada estéticos os sulcos das rugas no rosto, nem a falta de vitalidade capilar. Palavra que me atemoriza todo o quadro da decrepitude humana. Todavia, para aderir à lei das compensações, devo reconhecer que a condição de idoso traz, ainda assim, algumas aconchegantes vantagens. Vejamos: com esse estatuto, abeira-se a hora do descanso após uma vida árdua de trabalho; Sentimo-nos tratados com maior deferência. Confortam-nos as atenções que nos dispensam e os simpáticos descontos em títulos de transportes e bilhetes para espectáculos. E temos os netinhos, pois claro, essas pérolas que alegram os nossos dias.
Para mim, foi uma bênção poder domar, ao meu jeito, esse temível tirano chamado Tempo. E aí temos, em cúmulo: tempo para descansar, tempo para passear, tempo para conviver, tempo para me cultivar, tempo para cantar, para tocar e para pintar e, Saravá, tempo pr’ó netinho e para outras actividades lúdicas.
Face ao alargado leque de opções desta vida de dolce far niente, optei por dar corda aos calcantes, como se diz na gíria, e projectei uma jornada através do nosso gostoso e tão mal tratado (…e governado!) torrão. Não podia ser muito prolongada porque existiam outros compromissos já assumidos anteriormente..
Dirão os leitores do simpático blogue, Letras à solta: Ó cidadão, o que é que eu tenho a ver com a tua vidinha?
Rigorosamente nada, meus amigos. Se esparralho aqui todos os particulares desta modesta expedição é, juro à fé de quem sou, por mor dum convite feito pela nossa estimada amiga Celestinha Cortez que - cusca como são todas as mulheres - gostaria de saber por onde andei, o que fiz, o que deixei de fazer, o que vi, o que deixei de ver, e por aí adiante… Justificação dada, avancemos.
Ora, como tinha há séculos prometido visitar uma prima que reside no Furadouro, bonita praia do concelho de Ovar, estabeleci para ali o tutano da viagem.
Cavalgar, viajar e mudar de lugar rejuvenesce o ânimo
Séneca
Sou um tipo cheio de contradições. Por um lado, por exemplo, rejeito visceralmente a chegada da arrenegada morte. Mas, por outro, não exulto com o advento da velhice. Na realidade, não são nada estéticos os sulcos das rugas no rosto, nem a falta de vitalidade capilar. Palavra que me atemoriza todo o quadro da decrepitude humana. Todavia, para aderir à lei das compensações, devo reconhecer que a condição de idoso traz, ainda assim, algumas aconchegantes vantagens. Vejamos: com esse estatuto, abeira-se a hora do descanso após uma vida árdua de trabalho; Sentimo-nos tratados com maior deferência. Confortam-nos as atenções que nos dispensam e os simpáticos descontos em títulos de transportes e bilhetes para espectáculos. E temos os netinhos, pois claro, essas pérolas que alegram os nossos dias.
Para mim, foi uma bênção poder domar, ao meu jeito, esse temível tirano chamado Tempo. E aí temos, em cúmulo: tempo para descansar, tempo para passear, tempo para conviver, tempo para me cultivar, tempo para cantar, para tocar e para pintar e, Saravá, tempo pr’ó netinho e para outras actividades lúdicas.
Face ao alargado leque de opções desta vida de dolce far niente, optei por dar corda aos calcantes, como se diz na gíria, e projectei uma jornada através do nosso gostoso e tão mal tratado (…e governado!) torrão. Não podia ser muito prolongada porque existiam outros compromissos já assumidos anteriormente..
Dirão os leitores do simpático blogue, Letras à solta: Ó cidadão, o que é que eu tenho a ver com a tua vidinha?
Rigorosamente nada, meus amigos. Se esparralho aqui todos os particulares desta modesta expedição é, juro à fé de quem sou, por mor dum convite feito pela nossa estimada amiga Celestinha Cortez que - cusca como são todas as mulheres - gostaria de saber por onde andei, o que fiz, o que deixei de fazer, o que vi, o que deixei de ver, e por aí adiante… Justificação dada, avancemos.
Ora, como tinha há séculos prometido visitar uma prima que reside no Furadouro, bonita praia do concelho de Ovar, estabeleci para ali o tutano da viagem.
Caldas da Rainha
Rumámos, eu e a Florbela, para as Caldas da Rainha para recolher os meus cunhados que nos acompanhariam na digressão. Almoçámos, divinamente, uma espectacular caldeirada de fresquíssimo peixe de Peniche, no Restaurante Cortiço mesmo à beira da estrada da Tornada, via que foi muito percorrida pela nossa excelsa Rainha, D. Leonor, esposa do nosso também excelso Rei D. João II.
Conta-se, até, que teria sido em 1484, durante uma viagem da soberana de Óbidos para Alcobaça, que a rainha passou por um descampado onde várias pessoas do povo se banhavam em águas de odor intenso Fazendo alto, Sua Majestade indagou da razão porque se aguavam ali, sedo-lhe respondido que aquelas águas tinham poderes curativos. Curiosa, a soberana quis experimentar o valor daquelas águas sulfurosas porque, também ela, padecia de males de pele e com aquelas milagreiras águas se impregnou. No ano seguinte, tendo obtido a cura, a Rainha determinou erguer naquele local um hospital termal, que ainda hoje existe, embora a construção presente seja, no essencial, do tempo de D. João V. Teria sido ali que nasceu a actual cidade das Caldas da Rainha. Excelente foi esta magnífica rainha por outras tantas obras de cariz social, a maior de todas teria sido a criação das Misericórdias.
Ainda de manhã, demandámos até à popular e muito frequentada Praça da Fruta onde pudemos apreciar os apetecíveis e coloridos produtos agrícolas geometricamente expostos.
Dirigimo-nos a um feirante cujas vincadas rugas do rosto denunciavam uma idade já avançada e rudemente vivida:
- Amigo, esta bela fruta que o senhor aqui vende é produto cá da terra ou vem da estranja?
- De fora? Nunca! Aqui na minha banca só merco artigo nacional. E do bom, pode crer. Infelizmente, muitos vendedores já têm que recorrer a mercadoria estrangeira. Deram cabo da agricultura portuguesa, gente malvada.
Compreendemos o melancólico desabafo do feirante, cheio de razão. Faz tempo, antes da nefasta globalização, o nosso país era quase auto-suficiente em produtos agrícolas. Hoje, meus amigos, até para comer recorremos aos géneros forasteiros. Mais uma sentença que, reconhecidamente, agradecemos aos protozoários políticos que destruíram a lavoura e as pescas portuguesas.
À tarde, favorecidos por um cálido e luminoso dia, deambulámos pelo vasto, e frondoso Parque D. Carlos I. Fomos acolhidos por um banho de frescura e tranquilidade. Nesse verdejante parque encontra-se o mais destacado museu da cidade: o Museu de José Malhoa. A quem ainda não o viu, recomendo uma demorada visita pois irá empreender uma riquíssima viagem pela pintura portuguesa de meados do século XIX a meados do século XX, com a obra de José Malhoa a ocupar um lugar destacado.
Caldas da Rainha é, aliás, uma cidade culturalmente rica, destacando-se ainda a Mata da Rainha D. Leonor, a Igreja de Nª. Senhora do Pópulo, a Casa-Museu Rafael Bordalo Pinheiro, o Museu de Cerâmica, onde se expõem obras de arte em olaria originária daquela cidade, além de outros locais dignos de uma visita.
Pernoitámos na cidade real e, no dia seguinte, abalámos para a segunda etapa da jornada. Direcção: Norte. Destino: Santuário de Fátima.
Rumámos, eu e a Florbela, para as Caldas da Rainha para recolher os meus cunhados que nos acompanhariam na digressão. Almoçámos, divinamente, uma espectacular caldeirada de fresquíssimo peixe de Peniche, no Restaurante Cortiço mesmo à beira da estrada da Tornada, via que foi muito percorrida pela nossa excelsa Rainha, D. Leonor, esposa do nosso também excelso Rei D. João II.
Conta-se, até, que teria sido em 1484, durante uma viagem da soberana de Óbidos para Alcobaça, que a rainha passou por um descampado onde várias pessoas do povo se banhavam em águas de odor intenso Fazendo alto, Sua Majestade indagou da razão porque se aguavam ali, sedo-lhe respondido que aquelas águas tinham poderes curativos. Curiosa, a soberana quis experimentar o valor daquelas águas sulfurosas porque, também ela, padecia de males de pele e com aquelas milagreiras águas se impregnou. No ano seguinte, tendo obtido a cura, a Rainha determinou erguer naquele local um hospital termal, que ainda hoje existe, embora a construção presente seja, no essencial, do tempo de D. João V. Teria sido ali que nasceu a actual cidade das Caldas da Rainha. Excelente foi esta magnífica rainha por outras tantas obras de cariz social, a maior de todas teria sido a criação das Misericórdias.
Ainda de manhã, demandámos até à popular e muito frequentada Praça da Fruta onde pudemos apreciar os apetecíveis e coloridos produtos agrícolas geometricamente expostos.
Dirigimo-nos a um feirante cujas vincadas rugas do rosto denunciavam uma idade já avançada e rudemente vivida:
- Amigo, esta bela fruta que o senhor aqui vende é produto cá da terra ou vem da estranja?
- De fora? Nunca! Aqui na minha banca só merco artigo nacional. E do bom, pode crer. Infelizmente, muitos vendedores já têm que recorrer a mercadoria estrangeira. Deram cabo da agricultura portuguesa, gente malvada.
Compreendemos o melancólico desabafo do feirante, cheio de razão. Faz tempo, antes da nefasta globalização, o nosso país era quase auto-suficiente em produtos agrícolas. Hoje, meus amigos, até para comer recorremos aos géneros forasteiros. Mais uma sentença que, reconhecidamente, agradecemos aos protozoários políticos que destruíram a lavoura e as pescas portuguesas.
À tarde, favorecidos por um cálido e luminoso dia, deambulámos pelo vasto, e frondoso Parque D. Carlos I. Fomos acolhidos por um banho de frescura e tranquilidade. Nesse verdejante parque encontra-se o mais destacado museu da cidade: o Museu de José Malhoa. A quem ainda não o viu, recomendo uma demorada visita pois irá empreender uma riquíssima viagem pela pintura portuguesa de meados do século XIX a meados do século XX, com a obra de José Malhoa a ocupar um lugar destacado.
Caldas da Rainha é, aliás, uma cidade culturalmente rica, destacando-se ainda a Mata da Rainha D. Leonor, a Igreja de Nª. Senhora do Pópulo, a Casa-Museu Rafael Bordalo Pinheiro, o Museu de Cerâmica, onde se expõem obras de arte em olaria originária daquela cidade, além de outros locais dignos de uma visita.
Pernoitámos na cidade real e, no dia seguinte, abalámos para a segunda etapa da jornada. Direcção: Norte. Destino: Santuário de Fátima.
Santuário de Fátima
O objectivo foi o de nos acolhermos, nós que somos crentes, ao conforto da fé mariana, reflectindo, introspectivamente, sobre o nosso trajecto de vida: recto, enviesado, solidário, egoísta? É ali, naquelas capelas silenciosas, na semi-obscuridade, convidativas ao recolhimento, que abrimos o nosso espírito e, sem reservas nem preconceitos, escancaramos o nosso bem guardado ego e meditamos sobre a nossa actuação no palco da vida. Podemos então, num exercício de franca honestidade, comprometermo-nos a arrepiar caminho de más práticas que exercemos e procurar percursos que nos conduzam ao desejado ideário cristão.
Acreditem que, após essa higiénica meditação, nos sentimos mais limpos, mais leves, mais fraternos e, em suma, com uma perspectiva de melhor compreensão da vida. Centrámos a nossa actividade religiosa no novo templo do Santuário: a ampla, moderna e bem projectada Igreja da Santíssima Trindade. que foi inaugurada no dia 13 de Outubro de 2007.
Foi a necessidade de acolher condignamente o cada vez maior número de peregrinos que determinou a construção de um novo templo no recinto do Santuário. Em 1974, eram cerca de dois milhões de visitantes por ano. Nesta altura, esse número ronda aproximadamente os cinco milhões.
O Santuário é actualmente composto por três lugares que se complementam entre si: a Capelinha das Aparições, onde se encontra a imagem de Nª. Senhora, a Basílica, onde estão sepultados os três pastorinhos e a nova Igreja da Santíssima Trindade.
A nova Igreja tem a forma de um círculo de 125 m. de diâmetro, sem quaisquer colunas. A sua capacidade é de 900 lugares sentados. No subterrâneo localizam-se as diversas capelas.
O autor do projecto foi o Arquitecto grego, Alexandros Tombazis.
Como pernoitámos perto do amplo espaço pedonal do Santuário, à noite tivemos oportunidade de assistir à tocante procissão das velas, impressionante manifestação de fé que espelha a arreigada crença na protecção divina.
Cumprida, com aprazimento, a missão de culto mariano, no dia, seguinte, depois de aconchegados com um bom pequeno-almoço buffet, rumámos para a terceira etapa da viagem: a vareira Ovar.
Mealhada/Ovar/Furadouro
No trajecto passámos por Mealhada, concelho da região Centro com uma forte vertente turística assente, sobretudo, nas Termas do Luso e na Mata Nacional do Buçaco. Falar da Mealhada pode começar pela referência ao mais destacado recurso gastronómico da região, o leitão assado, precisamente à moda da Mealhada. O pobre do bacorinho, só alimentado a leite, é assado em forno de lenha e, fumegante, assim é servido na mesa, acompanhado por um afamado vinho da Bairrada ou um bom espumante natural.
Desnecessário será dizer-se que os esfaimados viajantes ali abancaram e satisfizeram os seus canibais desfastios.
Como já no início tinha aludido, esta jornada nortenha tinha como objectivo visitar uma prima que reside na piscatória praia do Furadouro, do concelho de Ovar. Considero que os laços familiares devem sempre ser mantidos e consolidados para preservar a identidade das pessoas onde flui o mesmo sangue.
É triste quando descuramos o convívio familiar e os membros da família só se encontram quando um deles se fina. A corrente justificação de que “não há tempo para nada” ou “cada um tem a sua vida muito ocupada” é mesmo conversa da treta. Quantas vezes nos sentamos, num fim-de-semana, a ver um filme idiota e acabamos por dormir no sofá? Tempo perdido, claro! Pedro Abrunhosa tem uma canção em que afirma que “amanhã é sempre tarde de mais”. Sem dúvida…
As nossas hostes estacionaram na acolhedora cidade de Ovar, de onde irradiaríamos, quer para o Furadouro, quer para a bela zona da Ria de Aveiro.
Ovar é um concelho industrial com um leque muito variado de actividades que vão desde o têxtil e vestuário à metalurgia e produtos metálicos, da produção de rações à cordoaria, do material eléctrico à montagem de automóveis e ao fabrico de componentes.
Ovar dispõe de vastas áreas propícias à actividade turística, com quilómetros de praias enquadradas por pinhal e a beleza ímpar da Ria de Aveiro. É famosa a sua festa de Carnaval.
Passámos três dias de tranquilas férias, associando o remanso da estadia à descoberta de tantos locais de interesse turístico e, como o português não pode prescindir, degustando apetitosos petiscos regionais. Tivemos oportunidade de saborearmos umas gostosas e frescas enguias da Ria na bonita cidade de Aveiro. Aproveitámos para empreender um encantador passeio pelos canais da Ria, navegando nos seus típicos barcos.
E cumpri o meu particular objectivo visitando a minha prima no Furadouro, onde desfrutámos um aprazível dia de fraterno convívio. É reconfortante rever as pessoas de quem gostamos e partilhar com eles os afectos que sentimos.
A praia do Furadouro dispõe de um extenso areal. No verão é frequentada por muita gente proveniente do norte do país. Esgotam-se os alojamentos tal é a quantidade de veraneantes. A comprida avenida principal está repleta de cafés, restaurantes e lojas de comércio. È ali o centro urbano. Aqui se podem fruir bons momentos de lazer.
Para além das actividades lúdicas, o Furadouro é uma localidade piscatória com longos anos de faina marítima.
Ora bem, meus amigos, a rota delineada já registava, nessa altura, um estádio de cumprimento para cima dos cinquenta por cento. Com pena, abdicámos daquelas aprazíveis terras e prosseguimos a viagem rumo à zona beirã.
O objectivo foi o de nos acolhermos, nós que somos crentes, ao conforto da fé mariana, reflectindo, introspectivamente, sobre o nosso trajecto de vida: recto, enviesado, solidário, egoísta? É ali, naquelas capelas silenciosas, na semi-obscuridade, convidativas ao recolhimento, que abrimos o nosso espírito e, sem reservas nem preconceitos, escancaramos o nosso bem guardado ego e meditamos sobre a nossa actuação no palco da vida. Podemos então, num exercício de franca honestidade, comprometermo-nos a arrepiar caminho de más práticas que exercemos e procurar percursos que nos conduzam ao desejado ideário cristão.
Acreditem que, após essa higiénica meditação, nos sentimos mais limpos, mais leves, mais fraternos e, em suma, com uma perspectiva de melhor compreensão da vida. Centrámos a nossa actividade religiosa no novo templo do Santuário: a ampla, moderna e bem projectada Igreja da Santíssima Trindade. que foi inaugurada no dia 13 de Outubro de 2007.
Foi a necessidade de acolher condignamente o cada vez maior número de peregrinos que determinou a construção de um novo templo no recinto do Santuário. Em 1974, eram cerca de dois milhões de visitantes por ano. Nesta altura, esse número ronda aproximadamente os cinco milhões.
O Santuário é actualmente composto por três lugares que se complementam entre si: a Capelinha das Aparições, onde se encontra a imagem de Nª. Senhora, a Basílica, onde estão sepultados os três pastorinhos e a nova Igreja da Santíssima Trindade.
A nova Igreja tem a forma de um círculo de 125 m. de diâmetro, sem quaisquer colunas. A sua capacidade é de 900 lugares sentados. No subterrâneo localizam-se as diversas capelas.
O autor do projecto foi o Arquitecto grego, Alexandros Tombazis.
Como pernoitámos perto do amplo espaço pedonal do Santuário, à noite tivemos oportunidade de assistir à tocante procissão das velas, impressionante manifestação de fé que espelha a arreigada crença na protecção divina.
Cumprida, com aprazimento, a missão de culto mariano, no dia, seguinte, depois de aconchegados com um bom pequeno-almoço buffet, rumámos para a terceira etapa da viagem: a vareira Ovar.
Mealhada/Ovar/Furadouro
No trajecto passámos por Mealhada, concelho da região Centro com uma forte vertente turística assente, sobretudo, nas Termas do Luso e na Mata Nacional do Buçaco. Falar da Mealhada pode começar pela referência ao mais destacado recurso gastronómico da região, o leitão assado, precisamente à moda da Mealhada. O pobre do bacorinho, só alimentado a leite, é assado em forno de lenha e, fumegante, assim é servido na mesa, acompanhado por um afamado vinho da Bairrada ou um bom espumante natural.
Desnecessário será dizer-se que os esfaimados viajantes ali abancaram e satisfizeram os seus canibais desfastios.
Como já no início tinha aludido, esta jornada nortenha tinha como objectivo visitar uma prima que reside na piscatória praia do Furadouro, do concelho de Ovar. Considero que os laços familiares devem sempre ser mantidos e consolidados para preservar a identidade das pessoas onde flui o mesmo sangue.
É triste quando descuramos o convívio familiar e os membros da família só se encontram quando um deles se fina. A corrente justificação de que “não há tempo para nada” ou “cada um tem a sua vida muito ocupada” é mesmo conversa da treta. Quantas vezes nos sentamos, num fim-de-semana, a ver um filme idiota e acabamos por dormir no sofá? Tempo perdido, claro! Pedro Abrunhosa tem uma canção em que afirma que “amanhã é sempre tarde de mais”. Sem dúvida…
As nossas hostes estacionaram na acolhedora cidade de Ovar, de onde irradiaríamos, quer para o Furadouro, quer para a bela zona da Ria de Aveiro.
Ovar é um concelho industrial com um leque muito variado de actividades que vão desde o têxtil e vestuário à metalurgia e produtos metálicos, da produção de rações à cordoaria, do material eléctrico à montagem de automóveis e ao fabrico de componentes.
Ovar dispõe de vastas áreas propícias à actividade turística, com quilómetros de praias enquadradas por pinhal e a beleza ímpar da Ria de Aveiro. É famosa a sua festa de Carnaval.
Passámos três dias de tranquilas férias, associando o remanso da estadia à descoberta de tantos locais de interesse turístico e, como o português não pode prescindir, degustando apetitosos petiscos regionais. Tivemos oportunidade de saborearmos umas gostosas e frescas enguias da Ria na bonita cidade de Aveiro. Aproveitámos para empreender um encantador passeio pelos canais da Ria, navegando nos seus típicos barcos.
E cumpri o meu particular objectivo visitando a minha prima no Furadouro, onde desfrutámos um aprazível dia de fraterno convívio. É reconfortante rever as pessoas de quem gostamos e partilhar com eles os afectos que sentimos.
A praia do Furadouro dispõe de um extenso areal. No verão é frequentada por muita gente proveniente do norte do país. Esgotam-se os alojamentos tal é a quantidade de veraneantes. A comprida avenida principal está repleta de cafés, restaurantes e lojas de comércio. È ali o centro urbano. Aqui se podem fruir bons momentos de lazer.
Para além das actividades lúdicas, o Furadouro é uma localidade piscatória com longos anos de faina marítima.
Ora bem, meus amigos, a rota delineada já registava, nessa altura, um estádio de cumprimento para cima dos cinquenta por cento. Com pena, abdicámos daquelas aprazíveis terras e prosseguimos a viagem rumo à zona beirã.
Covilhã/Teixoso/Sortelha/Sabugal/Belmonte
A Beira Baixa situa-se, como todos sabemos, ó esperto! na região centro de Portugal. Nas Beiras encontram-se contrastes profundos entre o seu litoral e o seu interior. No litoral, onde as temperaturas são brandas e o verde das florestas de pinheiros dialoga com a brancura dos areais e das dunas, a vida vira-se para o mar e seus recursos. No interior, erguem-se serras, como a da Estrela, da Malcata, da Gardunha e outras. Sobre o dorso da serra do Buçaco passeia-se numa floresta de 14 séculos. Uma maravilha!
A Natureza foi mais exigente, por vezes mais agreste. Moldou os beirões com têmpera mais forte, mais enraizada, mais determinada.
Pois nós, estes quatro cromos, encaminhámo-nos para a cidade da Covilhã, terra da indústria de lanifícios, de cariz operário, berço de descobridores de quinhentos e hoje cidade universitária. Covilhã está localizada a 20 km. do ponto mais alto de Portugal Continental. É uma cidade muito bem arrumada, limpa, florida e construída à base de granito. Dado o aperto do tempo de que dispúnhamos, empreendemos uma breve visita a esta bonita e sólida cidade beirã e rumámos ulteriormente para uma pequena freguesia situada nas abas da Serra da Estrela, a 8 km. da Covilhã, chamada Teixoso. Aí se encontra um esplêndido centro de lazer constituído por uma muito bem equipada unidade de Turismo Rural, sita na Quinta de Santa Iria, propriedade do Cofre de Previdência dos Funcionários e Agentes do Estado do qual sou associado
Uma estadia neste bucólico ambiente proporciona momentos de lazer calmos e descontraídos longe do bulício das cidades e da agitação das praias.
Permanecemos ali três serenos dias. O tempo colaborou. Esteve óptimo.
De manhã, abríamos a janela do quarto e sentíamos o ar puro do campo, espraiando os olhos pelas serras envolventes e mergulhando-nos num retemperador banho de Natureza.
Depois, uma visita ao ginásio, para desenferrujar as pernas, um reconfortante banho quentinho e um apetitoso pequeno-almoço, com produtos da região, preparavam-nos para uma caminhada pela Quinta apreciando o arsenal rústico que compreende o empreendimento.
A meio da manhã escolhíamos um itinerário para ir à descoberta. Após a visita programada e, como portuguesinhos tradicionais que somos, não alheávamos o interesse cultural da indispensável vertente gastronómica que os lusos estômagos exigiam.
À tarde, quando regressávamos, umas refrescantes braçadas na piscina panorâmica preparavam-nos para a frugal refeição nocturna. Para finalizar o trabalhoso dia, um pouco de televisão, uma animada conversa e umas tacadas snooker completavam o menu turístico. E assim frui o tempo o reformado! Boa profissão, verdad?
Na Recepção recomendaram-nos uma visita à aldeia histórica de Sortelha. Uma visita a Sortelha faz-nos pensar que retrocedemos no tempo e parámos na História. Maravilhámo-nos com aquele conjunto harmonioso de habitações ancestrais e ruas empedradas à maneira romana.
Sortelha é uma das mais bonitas aldeias de Portugal que já visitei. O seu aglomerado habitacional está protegido pelas imponentes muralhas do Castelo. As casas tradicionais foram meticulosamente recuperadas e o conjunto está proporcionado e agradável. No seu interior existem restaurantes, alguns de muito boa qualidade, bares e lojas de artesanato.
O granito é o suporte para todas as edificações desta aldeia histórica, desde as casas ao empedrado das ruas estreitas, passando pelas muralhas.
A paisagem apreciada das muralhas do seu altaneiro castelo é deslumbrante.
Num típico restaurante sortelhense serviram-nos um suculento almoço serrano.
Para quem não a conhece, Sortelha merece uma visita.
No dia seguinte demandámos, nesta sede de descobertas, para a altaneira cidade de Sabugal, município que faz parte do distrito da Guarda. Fica em terras de Riba-Côa. Tem 40 freguesias. Procurei informar-me sobre a caracterização do município e apurei que o concelho de Sabugal é essencialmente rural, tendo como actividades predominantes a agricultura e a pecuária. Outras actividades ligadas à terra são também a silvicultura e a pastorícia (produção de queijo de ovelha e de cabra), a plantação do carvalho, do castanheiro e o cultivo do centeio.
Existem ainda diversas indústrias ligadas às confecções, aos mármores e aos granitos.
No reduzido tempo de que se dispunha pudemos, no entanto, visitar a bonita Igreja da Misericórdia, em estilo manuelino, e o bem tratado Castelo do Sabugal.
O Castelo do Sabugal está classificado como Monumento Nacional. Teria sido construído nos séculos XII-XIII, sob o domínio leonês. Foi posteriormente remodelado e ampliado por D. Dinis.
Numa tarde soalheira partimos da Quinta de Santa Iria com destino a Belmonte, cidade localizada nas faldas da Serra da Estrela e coroada pela massa granítica do antigo castelo.
Belmonte foi o berço do navegador Pedro Álvares Cabral que em 1500 descobriu o Brasil.
Começámos por visitar o Castelo, considerado Monumento Nacional. Subimos à Torre de Menagem onde se vêem vestígios da antiga alcaidaria (Paço dos Cabrais) e pudemos contemplar a Serra da Estrela em toda a sua extensão. No interior do castelo foi edificado um moderno anfiteatro ao ar livre, rodeado pelas imponentes muralhas. Subimos à janela manuelina, verdadeira jóia granítica. Junto ao castelo encontra-se uma pequena igreja romano-gótica dedicada a S. Tiago, que tem no interior uma Pietá esculpida em granito.
Concluída a jornada sabugalense empreendemos uma visita à cidade de Belmonte.
Em Belmonte fixou-se uma importante comunidade judaica que aqui se refugiou para fugir à perseguição movida por Castela. Moravam em casas situadas fora das muralhas do castelo, no Bairro de Marrocos.
Belmonte está repleto de locais históricos. É um destino que se recomenda a quem privilegia o lazer, a aprendizagem e a cultura.
O tempo era escasso e já só nos permitiu visitar o Eco-museu do Zêzere, uma estrutura que aborda o rio Zêzere. Já não nos foi possível ver os museus recomendados pelo Turismo: o Museu Judaico de Belmonte, estrutura única no nosso país e o Museu do Azeite. Tivemos pena. Fica para a próxima escapadela.
O Tempo, esse carrasco, corre célere. Chegada a hora, e com muita pena, regressámos aos nossos destinos, dando por finda esta tão agradável jornada por terras lusitanas.
Carlos Brandão de Almeida
Agosto de 2010
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