sábado, 15 de junho de 2013

UTOPIA QUANTO BASTE, por Carlos Brandão de Almeida

UTOPIA QUANTO BASTE

N
a sua encíclica, Centesimus Annus, o Papa João Paulo II, apóstolo e peregrino de Fátima, abordou, com todo o realismo, o fracasso da ideologia colectiva que agonizava em doloroso estertor os povos forçados a suportá-la durante largas dezenas de anos. Os mais esclarecidos sabiam, desde há muito, que o Estado Patrão é um Monstro contra-natura, coarctador das mais elementares liberdades individuais.
Mas, o Santo Padre condenava também os malefícios de um capitalismo desregrado, igualmente monstruoso, incapaz de administrar com justiça a distribuição da riqueza e, por isso, algoz de milhares de seres. Esse modelo de sociedade, no seu quadro mais radical, venera dois deuses: o Tempo e o Dinheiro. Time is Money é a bandeira dos adoradores dessa forma de vida.
Colectivismo científico e capitalismo selvagem têm, afinal, um denominador comum: a escravidão aos valores materiais em detrimento dos princípios espirituais geradores da solidariedade e da fraternidade humana.
Pecam igualmente pela ausência do mais belo sentimento concedido aos homens e razão primeira da crucificação de Jesus Cristo: o amor ao próximo. Amor ao próximo que tão arredio anda das relações humanas que presenciamos nos dias de hoje.
Lembro-me de uma história oriental passada entre um pobre e um sovina: O mendigo bateu à porta do forreta e pediu-lhe um pouco de pão para matar a fome. Respondeu-lhe o avaro que não era padeiro, que nada tinha para ele. Insistiu o pedinte esmolando-lhe um pouco de carne. Ainda menos, respondeu-lhe o somítico, eu não sou açougueiro. Então um pouco de farinha porfiou o pobre. Respondeu-lhe o avarento, já enfadado, dizendo que não era moleiro. Ao menos, instou o coitado, umas moedinhas. Já chega, ripostou o unhas-de-fome, eu não sou nenhum banco, segue o teu caminho e não me maces. Triste, o pedinte rogou que o deixasse descansar à sombra, em sua casa. Exasperado o agarrado permitiu-lhe a entrada. Senta-te ali. Então o mendigo entrou em casa e, de pronto, começou a fazer as suas necessidades. O dono da casa, enfurecido, gritou-lhe: malandro, o que estás tu a fazer? 
- Num sítio tão inútil como este – sentenciou o pobre - não vejo coisa melhor do que defecar!
Com efeito:
- Se eu acumular diplomas, cursos e estágios mas for indiferente aos problemas dos outros, a minha cultura não passará de um inútil armazém de canudos;
- Se eu ignorar os problemas da região onde habito, fugindo à realidade que me rodeia, não passo de um desenraizado egoísta;
- Se eu desfrutar de uma vida abastada e não me lembrar de ajudar os que têm fome, os desempregados, os doentes e todos os que necessitem dum providencial apoio, sou apenas um inútil manequim.
A todas estas situações é comum a ausência de generosos valores morais sobrelevados pelo império do materialismo.
Façamos uma sincera introspecção que nos leve a rejeitar enfeudamentos a modelos de sociedade desumanizante. Encaminhemo-nos sim pelas virtudes dos valores espirituais e de solidariedade. Importa, pois, não tolerarmos a injustiça e as profundas desigualdades que povoam a nossa sociedade.
Sabemos que a Utopia é inatingível mas esforcemo-nos por nos aproximarmos dessa quimera.

Carlos Brandão de Almeida
2013-02-11
                                                                                                             
                                                                                                     


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