Abracadabra! Abracadabra!
É de varas e de trapos
Mas espanta, o espantalho.
Ribombam sombrios trovões…
Sente vento de lobos e de estrelas frias.
Um torpor a invade.
Uma miríade de constelações
A espreitam do sombrio céu,
Nessa noite longa e fria.
Até aos paroxismos da anarquia,
Reclama a liberdade irresponsável
Para se tornar notável.
Sai da sombra da sombra.
Abre portas e gavetas,
Liberta-se de grilhetas.
Na amarela abóbora oca
Colocada sobre a mesa
Abre olhos, nariz e boca,
Onde introduz vela acesa.
Não lhe importa a sua idade,
O que quer é liberdade…
Não mais irá ficar presa.
Na teia tece a aranha.
No alto esvoaça um morcego.
Escuta o piar da coruja
Nesse espaço noturno
De silêncio e medos.
Acaricia o sapo e o gato preto.
Cobre-se de capa negra,
Coloca chapéu pontiagudo,
Com luva preta na mão,
E segura seu bastão.
Cavalga no dorso da vassoura
E ela aí vai, a bruxa,
Pelo céu fora,
Cabeleira ao vento, negra ou loura.
Tu dizes que não existe,
Mas sua imagem persiste!
Abracadabra! Abracadabra!
Do livro
Na Esquina da Vida
João Coelho dos Santos