quinta-feira, 29 de novembro de 2018

PRÉMIO "JUSTO ENTRE AS NAÇÕES"- faleceu a religiosa que salvou judeus da perseguição nazista

Repasso esta notícia com a devida vénia, do jornal
CRACÓVIA, 23 Nov. 18 / 01:00 pm (ACI).- A Arquidiocese de Cracóvia (Polônia) informou o falecimento de Cecylia Maria Roszak, religiosa de clausura dominicana de 110 anos que salvou judeus na perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Irmã Cecylia nasceu em 25 de março de 1908, na aldeia de Kielczewo, na região centro-oeste da Polônia. Depois de se formar na escola de comércio aos 21 anos, entrou no convento de clausura das irmãs dominicanas em Cracóvia.
Em 1938, viajou com um grupo de religiosas a Vilnius (agora na Lituânia, mas, na época, na Polônia), onde queriam fundar outro convento, um plano que não foi possível terminar devido ao início da Segunda Guerra Mundial.
Durante dois anos, Vilnius sofreu a ocupação soviética e depois a dos nazistas. Naquela época, Irmã Cecylia e as outras religiosas do seu convento arriscaram suas vidas para esconder 17 membros da resistência judaica.
Em 1941, os refugiados judeus decidiram deixar o convento e voltar para o gueto a fim de ajudar a estabelecer a resistência naquele lugar. A superiora, Irmã Anna Borkowska, implorou para que eles ficassem, mas seu pedido não teve êxito.
Em setembro de 1943, a superiora foi presa, o convento de Vilnius foi fechado e as religiosas se separaram. Irmã Cecylia Roszak voltou para a Polônia.
Em 1947, Irmã Cecylia e as outras dominicanas voltaram para a casa principal, onde serviu como porteira, tocava o órgão e cantava. Também foi priora em várias ocasiões.
Em 1984, as religiosas que protegeram os judeus da resistência em Vilnius receberam o prêmio "Justo entre as Nações", que reconhece os não judeus que arriscaram suas vidas ou a sua liberdade para ajudar o povo judeu durante o Holocausto.
Aos 101 anos, Irmã Cecylia passou por uma cirurgia no quadril e no joelho, mas ainda podia participar de várias atividades do convento, incluindo a oração por outras religiosas doentes.
Em 25 de março de 2018, completou 110 anos e recebeu a visita do Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jedraszewski.
Irmã Cecylia faleceu em 16 de novembro de 2018.

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domingo, 11 de novembro de 2018

MINUTO DE SILêNCIO, PARA RECORDAR O ARMISTÍCIO E OS MORTOS DA 1ª. GRANDE GUERRA


 COM UMA LÁGRIMA DE TRISTEZA RECORDANDO OS MILHARES DE MORTOS DA GUERRA DE 1914-1918 – NO DIA DO SEU 1OOº. ANIVERSÁRIO.
1-P1070027.JPGO DIA DO ARMISTÍCIO - A 11 de novembro de 1918, às 11 horas, assinou-se o acordo de paz entre os Aliados e a Alemanha, num vagão-restaurante, na floresta de Compiègne, França colocando-se oficialmente um ponto final na Primeira Guerra Mundial, iniciada quatro anos antes. O vencido Hitler, como vingança após a assinatura deste acordo,  ordenou às SS a destruição da carruagem onde os Aliados e a Alemanha o assinaram.
Portugal participou da Primeira Guerra auxiliando os batalhões britânicos estacionados na Bélgica e também na África, enviando tropas para combater em Angola e Moçambique.
As armas silenciaram. Os canhões calaram-se. Fez-se silêncio.
Elevemos o nosso pensamento – durante 1 minuto – às 11 horas (pela hora de França, onde foi assinado o armistício). Lembremo-nos  dos milhares de homens que morreram em combate e de todos os que morreram por causa daquela maldita guerra.
O NOSSO MINUTO DE SILENCIO É NO MOMENTO EM QUE NOS LEMBRARMOS. O NOSSO MINUTO DE SILENCIO É AGORA.
Celeste Cortez. 


quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DIA 1 DE NOVEMBRO




          DIA 1 DE NOVEMBRO
          Em muitos países é dia de TODOS-OS-SANTOS, também em Portugal. Mas hoje venho trazer-vos uns APONTAMENTOS SOBRE O TERRAMOTO DE 01 DE NOVEMBRO DE 1755, precisamente no dia de TODOS-OS-SANTOS. E porque esse terramoto inspirou um poeta,filósofo iluminista da época, de nome VOLTAIRE, também publico o (extenso poema)  “RUÍNAS DE LISBOA"  do referido VOLTAIRE. 
          Fez parte da aula de Cultura Geral-poesia-história que leciono, e lecionei precisamente na véspera do dia 1 de Novembro, ou seja no dia 31-10-2018, véspera da data em que houve o terramoto em 1755:

PORTUGAL, 1 de Novembro de 1755 
          - Lisboa uma das capitais mais opulentas da Europa durante os séculos dos Descobrimentos, (XV, XVI e XVII) ficou destruída em apenas um dia. No dia 1 de Novembro de 1755, dia de Todos-os-Santos, grande parte da população de Lisboa encontrava-se em igrejas, quando um rugido saiu das entranhas da terra. Violento terramoto (magnitude 9 (ou aproximado), na escala de Richter, abriu fendas com 5 metros de largura. Uma réplica provocou o tsunami com vagas que teriam atingido de 10 a 20 metros e devastaram o que o abalo deixara de pé. Horas depois, segue-se um forte incêndio. 
Foram destruídas colunas, paredes, arcos, estruturas, muitas caindo em cima de milhares de pessoas. Acabou assim a época de ouro de Lisboa, cidade que tinha um dos portos mais importantes para o comércio da Europa com as Américas, Ásia e África, tendo sido também um desastre para a economia e comércio. 
Não foi porém só Lisboa que sofreu, mas outros locais do litoral do país, como Cascais, onde, segundo fontes de blogues dedicados ao assunto, alguns monumentos civis, militares e religiosos se mantiveram de pé mas tiveram de ser recuperados ou reconvertidos, para ainda hoje serem apreciados. Ruiu a Igreja da Ressurreição que se situava sensivelmente onde actualmente se encontra a estação de comboios, mais precisamente, parece, onde está o hotel Albatroz. Também houve graves problemas em Setúbal e Barlavento Algarvio. Estima-se 100.000 pessoas (a cidade teria 275.000), outros historiadores retificam estes números. 
Este terramoto matou muito mais pessoas e fez estragos maiores, muito maiores, do que o Terramoto de 26-01-1531, até porque em 1755, a população de Lisboa era muito superior e os monumentos em maior quantidade.

O QUE SE PERDEU? - É praticamente incalculável o valor perdido: conventos, palácios, concretamente um dos desaparecidos foi o PALÁCIO REAL (Paço da Ribeira (à beira-rio). O Castelo, a Casa da Ópera do Tejo (sumptuosa) que tinha sido inaugurada poucos meses como a maior da Europa. O Hospital de Todos-os-Santos, (que não tinha sido afetado no grande terramoto de 26-01-1531, as livrarias (biblioteca) do marquês de Louriçal . O convento do Carmo que continua como ficou após o terramoto, e o convento de S. Domingos, e do Espírito Santo, etc. 
Desapareceram tesouros de valores inestimáveis como manuscritos antigos, pinturas, livros (uma historia do Imperador Carlos V e bíblias hebraicas), a valiosa biblioteca de 70 mil volumes do Palácio Real, mapas, cartas geográficas, e outros tesouros trazidos da Ásia e de África pelos navegadores portugueses. E ainda baixelas valiosas, esculturas, tapeçarias e outras obras de arte que enchiam os palácios da cidade. 

Lisboa foi reconstruida, diferentemente, em cima das ruínas da cidade medieval. Uma nova cidade pombalina, por ter sido mandada reconstruir pelo secretário de Estado (função homóloga ao actual primeiro ministro) do Rei D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, depois Conde de Oeiras e mais tarde Marquês de Pombal.

O terramoto impressionou vivamente a Europa da época. Numerosas obras literárias se inspiraram ou se referiram ao cataclismo – entre muitos outros, nomes com os de Voltaire, Kant, Goethe.
Um dos poemas sobre “As ruínas de Lisboa”, é de François Marie Arouet, que usava o nome de Voltaire, (France 1694-1778), um filósofo iluminista.
Dizem alguns escritos na internet, que Voltaire teve conhecimento do Terramoto de Lisboa de imediato. Como? Pela RTP ou TVI? Através da Sic ou da CMTV? Impossível, Nem sequer havia telégrafo que foi inventado por Samuel Morse em 1838. Telefone? Foi inventado pelo italiano António Meucci em 1860 e melhorado (sem ter conhecimento da invenção de Meucci) por Graham Bell em 1876/1877. 
Voltaire encontrava-se na residência da propriedade de Saint-Jean, que ele batizou de “Les Délices”, em Genebra, onde teve conhecimento três semanas após o terramoto. Foi ali que ele compôs este poema, que aqui apresentamos com tradução do escritor, poeta, tradutor, grande sábio contemporâneo Vasco Graça Moura (1942-2014)

O poema foi publicado em 1756. O Museu Voltaire, em Genebra, onde estive este mês de Outubro, tem cópia da Coleção de gravuras das ruínas de Lisboa:
POÉME SUR LE DESASTRE DE LISBONNE - POEMA SOBRE O DESASTRE DE LISBOA - VOLTAIRE -
Ó míseros mortais! Ó terra deplorável!
De todos os mortais monturo inextricável!
Eterno sustentar de inútil dor também!
Filósofos que em vão gritais: "Tudo está bem";
Vinde pois, contemplai ruínas desoladas,
restos, farrapos só, cinzas desventuradas,
os meninos e as mães, os seus corpos em pilhas,
membros ao deus-dará no mármore em estilhas,
desgraçados cem mil que a terra já devora,
em sangue, a espedaçar-se, e a palpitar embora,
que soterrados são, nenhum socorro atinam
e em horrível tormento os tristes dias finam!
Aos gritos mudos já das vozes expirando,
à cena de pavor das cinzas fumegando,
direis: "Efeito tal de eternas leis se colha
que de um Deus livre e bom carecem de uma escolha?"
Direis do amontoar que as vítimas oprime:
"Deus vingou-se e a morte os faz pagar seu crime?"
As crianças que crime ou falta terão, qual?,
esmagadas sangrando em seio maternal?
Lisboa, que se foi, pois mais vícios a afogam
que a Londres ou Paris, que nas delícias vogam?
Lisboa é destruída e dança-se em Paris.
Tranquilos a assistir, espíritos viris,vendo a vossos irmãos as vidas naufragadas,
vós procurais em paz as causas às trovoadas:
Mas se à sorte adversa os golpes aparais,
mais humanos então, vós como nós chorais.
Crede-me, quando a terra entreabre abismo ingente,
ais legítimos dou, lamento-me inocente.
Tendo a todo redor voltas cruéis da sorte,
e malvado furor, e armadilhada a morte,
dos elementos só sofrendo as investidas,
deixai, se estás connosco, as queixas ser ouvidas.
É o orgulho, dizeis, em sedição maior,
que quer que estando mal, ‘stivessemos melhor.
Pois ide interrogar as margens lá do Tejo;
nos restos remexei sangrentos do despejo;
perguntai a quem morre em tão medonho exílio
se é o orgulho a gritar: "Céu, vem em meu auxílio!
desta miséria humana, ó céu, sê solidário!"
"Tudo está bem, dizeis, e tudo é necessário."
Todo o universo então, sem o inferno abissal,
sem Lisboa engolir, se acresceria em mal?
Seguros estarei de a causa eterna aqui,
que tudo sabe e faz, tudo criou para si,
não nos poder lançar em tão triste clima
sem acender vulcões, andando nós por cima?
Pois assim limitais a mais alta potência?
Assim a proibis de exercitar clemência?
O eterno artesão em suas mãos não tem
prontos meios sem fim aos fins que lhe convêm?
Quisera humilde, e sem que ao mestre recalcitre,
que esse gosto a inflamar o enxofre e o salitre
seu fogo fosse atear lá no deserto imerso.
Eu respeito o meu Deus, porém amo o universo.
Se ousa o homem gemer de um flagelo horrível,
não é orgulho, não! Apenas é sensível.
Os que habitam em dor os bordos desolados,
dos tormentos, do horror, seriam consolados
se lhes dissesse alguém: "Caí, morrei tranquilos;
para um mundo feliz, perdeis vossos asilos;
A casa onde Voltaire escreveu este poema. Saint Jean,
em Genêve, hoje
Museu Voltaire. 
outras mãos erguerão vosso palácio a arder,
nos muros a ruir, mais povos vão nascer;
o Norte ganha mais com tudo o que perdeis;
vosso mal é um bem, segundo as gerais leis;
Deus vê-vos tal e qual ele olha os vermes vis
de que na cova sois a presa e que nutris?"
Aos desvalidos é horrível tal linguagem!
Minha dor, ó Cruéis, não consintais que ultrajem.
Não, não me apresenteis ao peito em ansiedade
as imutáveis leis de uma necessidade,
corpos a encadear, e espíritos e mundos.
Ó sábios a sonhar! Quiméricos profundos!
Deus segura a cadeia e não é encadeado;
seu benfazejo ser tudo há determinado;
é livre e justo, e não cruel nem vingativo.
Porque sofremos pois num jugo equitativo?
Mister o nó fatal seria desatar,
nosso mal curareis tratando de o negar?
Cada povo, a tremer, sob uma mão divina,
na origem para o mal que vós negais se obstina.
E se essa eterna lei que move os elementos
penhascos faz cair sob o esforçar dos ventos,
se aos carvalhos o raio a vasta fronde abrasa,
não sentem todavia o golpe que os arrasa:
Mas vivo, mas sinto eu, mas, coração opresso,
a esse Deus que o formou o seu socorro peço.
Filhos do Omnipotente e míseros nascemos
e para o pai comum as mãos eis que estendemos.
O vaso, sabido é, não diz nunca ao oleiro:
"Porque sou eu tão vil, tão fraco e tão grosseiro?"
Da fala não tem dom, não tem um pensamento;
essa urna que ao formar-se cai no pavimento,
não recebeu da mão do oleiro um coração
que bens quisesse ter e sentisse aflição.
"Essa aflição, dizeis, é o bem de um outro ser."
Do meu corpo a sangrar mil vermes vão nascer;
quando a morte põe fim ao mal que eu hei sofrido,
bela consolação, por bichos ser comido!
Calculadores vãos dos dramas humanais,
não me consoleis pois, que as penas me azedais;
em vós não vejo eu mais que esforço impotente
de orgulho em sorte má que finge ser contente.
Do grande todo só fraca parte hei de eu ser:
sim, mas os animais, forçados a viver,
e todo ser que sente e à mesma lei nasceu
têm de viver na dor e de morrer como eu.
Sob a tímida pressa, o encarniçado abutre
dos membros dela em sangue a bel-prazer se nutre;
para ele tudo é bem; porém e sem demora
a águia de bico de aço o abutre já devora;
o homem com mortal chumbo atinge a águia altaneira:
e ele em campo de Marte acaba sobre a poeira,
dos golpes a sangrar, junto aos mais moribundos,
de pasto indo servir aos pássaros imundos.
Os seres de todo o mundo assim todos padecem;
nados para o tormento, uns por outros perecem:
e vós arranjareis, nesse caos fatal,
do mal de cada ser, ventura universal!
Que ventura! Ó mortal, que és fraco e miserável!
Gritais: "Tudo está bem" e a vós é lamentável,
o mundo vos desmente e vosso coração
cem vezes vos refuta a errada concepção.
Humanos, animais, elementos em guerra.
Preciso é confessar que o mal está na terra:
seu princípio secreto é-nos desconhecido.
Do autor de todo o bem o mal terá saído?
Pois o negro Tifão, o bárbaro Arimano,
nos forçam a sofrer por seu mando tirano?
Meu espírito não crê em monstros odiosos
de que o mundo a tremer fez deuses poderosos.
Mas como conceber, só de bondade, um Deus
que os bens prodigaliza aos caros filhos seus
e neles derramou só males às mãos cheias?
Que olhar poderá ver-lhe o fundo das ideias?
Não ia o mal nascer do ser que é mais perfeito;
não vem de mais ninguém, se é Deus o só sujeito.
E todavia existe. Oh, bem tristes verdades!
Oh, mistura de espanto e de contrariedades!
A nossa raça aflita um Deus vem consolar
e a terra visitou sem a modificar!
Que o não pôde, um sofista em arrogância diz;
diz outro "Pode sim, o ponto é que o não quis;
decerto há de querer"; e enquanto se arrazoa
há fogo subterrâneo a engolir Lisboa
e de cidades trinta os restos a espalhar,
do ensanguentado Tejo ao gaditano mar.
Ou nasce o homem culpado e Deus pune-lhe a raça,
ou único senhor que ser e espaço traça,
sem pena e sem se irar, tranquilo, indiferente,
da sua própria lei vai na eterna torrente;
ou contra ele a matéria informe se rebela
e em si defeitos traz necessários como ela;
ou Deus nos põe a prova e essa mortal viagem
para um eterno mundo estreita é a passagem.
Nós sofremos aqui dor passageira, sim:
a própria morte é um bem que às misérias põe fim.
Mas um dia ao sair desse caminho atroz,
dirá que mereceu ventura algum de nós?
Seja lá como for, é certo que se trema.
Nada sabido é, nada há que não se tema.
À natureza muda as questões pôr não vale;
precisa-se de um Deus que ao género humano fale.
Só ele poderá a sua obra explicar,
ao fraco dar consolo e ao sábio iluminar.
Sem ele, abandonado, erra, duvida e falha,
o homem que busca em vão apoio numa palha.
Leibnitz não me ensinou por quais nós invisíveis,
na ordem do melhor dos mundos já possíveis,
em desordem eterna, um caos de desventura
a nosso vão prazer a dor real mistura,
nem por que é que os dois, culpado e inocente,
o inevitável mal sofrer hão de igualmente.
Nem posso conceber tudo estivesse bem:
sendo eu como um doutor, ah, nada sei porém.
O homem, diz Platão, já teve asas; e mais:
impenetrável corpo às agressões mortais;
o passamento, a dor não vinham a seu lado.
Quão diverso hoje ele é desse brilhante estado!
Rasteja, sofre, morre; e assim quando se gera;
e na destruição a natureza impera.
Frágil composto pois, de nervos e ossos feito,
e a qualquer colisão de elementos atreito;
tal mistura de sangue e líquidos e pó,
para se dissolver se reuniu tão-só;
e em seu pronto sentir, os nervos delicados
se submetem à dor, ministra de finados:
da voz da natureza é quanto me asseguro.
Abandono Platão, mando embora Epicuro.
Mais que os dois sabe Bayle; e eu vou-o consultar:
de balança na mão, ensina a duvidar,
sábio e grande demais para não ter sistema,
a todos destruiu, e é contra si que rema:
como o cego a lutar que os Filisteus prenderam
sob os muros caiu que as mãos dele abateram.
Do espírito que pode a mais vasta conquista?
Nada; o livro da sorte encerra à nossa vista.
O homem, estranho a si, é do homem ignorado.
Onde estou, onde vou, quem sou, donde tirado?
Átomos em tortura em lama que se empasta,
cuja sorte se joga e a morte então arrasta,
mas postos a pensar, e átomos que viram,
guiados pela mente os céus que já mediram;
ao seio do infinito aspira o nosso ser,
sem um momento só nos ver, nos conhecer.
O mundo, este teatro, orgulho e erro abalam,
e é de infortúnios só que de ventura falam.
Busca-se o bem-estar em queixas a gemer:
a morte ninguém quer, ninguém quer renascer.
Às vezes, quando à dor os dias consagramos,
pela mão do prazer os prantos enxugamos;
mas o prazer se vai e como a sombra passa;
sem conta nossos são perdas, choro e desgraça.
O passado é-nos só uma lembrança triste;
e o presente é atroz, se o porvir não existe,
se a noite tumular no ser que pensa avança.
Bem será tudo um dia, é essa a nossa esp’rança;
hoje tudo está bem, é essa a ilusão.
Com sábios me enganei e só Deus tem razão.
Humilde nos meus ais, sofrendo em impotência,
eu não atacarei porém a Providência.
Viram que outrora em tom não lúgubre cantei
do mais doce prazer a sedutora lei:
outro tempo e costume: a idade dá sagueza,
do humano extraviar partilho ora a fraqueza,
quero na treva espessa a mim iluminar,
e apenas sei sofrer e já não murmurar.
Um califa uma vez, como a sua hora desse,
ao seu Deus foi dizer apenas uma prece:
"Ser sem limite e rei único na verdade,
trago-te o que não tens na tua imensidade,
faltas, erro, ignorância e males em pujança."
Mas inda ele juntar podia a esperança.

HELENA RAMOS - locutora da Radio-Televisão Portuguesa - faleceu

HELENA RAMOS;  locutora e figura muito conhecida da televisão, faleceu hoje 5ª.feira, dia 1 de Novembro de 2018, dia de TODOS-OS-SANTOS. 
Helena Ramos começou como locutora de continuidade na RTP, para onde prestou provas em 1978, e se manteve até a atualidade, ultimamente mais ligada aos canais 2 e Memória.
Apresentava atualmente o programa Tributo , na RTP Memória, cuja última edição com a sua apresentação foi para o ar nesta terça-feira. Neste canal, foi, também, a cara do Cartaz de Memórias e de Há Conversa.
Fonte da RTP adiantou à Lusa que a causa da morte foi "doença prolongada". O velório será a partir das 17:30 desta quinta-feira na igreja da Luz, em Lisboa.

MURAL - MONDAY MURAL


Segunda feira é dia de publicação de MURAL.

Este acima, está num edifício de apartamentos, no Bairro da Cruz da Guia, em Cascais

Escreva no lugar dos comentários a sua apreciação. 

On monday, is a day for a MURAL publication. Enjoy it. 

This one above, is in a block of flats, Cascais - Portugal.

Please leave your comments.  




CELESTE RODRIGUES - Canta: MEU CORPO




Maria Celeste Rebordão Rodrigues,

fadista celebrizada como Celeste Rodrigues, nasceu em Alpedrinha, Fundão, a 14 de março de 1923 . Faleceu em Lisboa a Lisboa, 1 de agosto de 2018, com 95 anos de idade. Cantou, e bem,  até muito recentemente. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

AGRADECIMENTO AOS MEUS SEGUIDORES


AOS SEGUIDORES DESTE BLOGUE: 

Informo que não consigo aceder ao site de quem se tornou SEGUIDOR. 
Gostaria de conhecer os vossos blogues para vos agradecer. Ou não tendo blogue, o vosso email. 
Assim, peço que cada um deixe uma pequena mensagem num dos meus posts que comentar, a fim de eu poder ir retribuir a visita. 
Desde já, muito grata, desejo as maiores felicidades. Estas flores são para vocês. 

Celeste Cortez(escritora)

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A Poesia é Uma Arma Carregada de Futuro (Gabriel Celaya) poema - Demétri...

Gabriel Celaya –(1911-1991).  La poesía es un arma cargada de futuro

Quando já nada se espera particularmente exaltante,
mas palpitamos e seguimos aquém da consciência,
feramente existindo, cegamente afirmando
como um pulso que golpeia as trevas;
quando miramos de frente
os vertiginosos olhos claros da morte;
dizemos as verdades:
as bárbaras, terríveis, amorosas crueldades.
Dizemos os poemas que enchem os pulmões
dos que, asfixiados,
pedem ser, pedem ritmo,
pedem lei para aquilo que sentem em excesso.
Com a velocidade do instinto,
com o raio do prodígio,
como mágica evidência, o real que se transforma
no idêntico a si mesmo.
Poesia para o pobre, poesia necessária
como o pão de cada dia,
como o ar que exigimos treze vezes por minuto,
para ser e, enquanto somos, dar o sim que glorifica.
Porque vivemos aos tropeços,
porque apenas nos deixam
dizer que somos quem somos,
os cânticos não podem ser sem pecado, um adorno.
Estamos chegando ao fundo!
Maldigo a poesia concebida como um luxo
cultural para os neutros,
que, lavando-se as mãos, se desentendem e evadem!
Maldigo a poesia de quem não toma partido,
partido até manchar-se!
Faço minhas as faltas. Sinto em mim os que sofrem
e canto respirando.
Canto, e canto, e, cantando para lá de minhas penas, me amplio.
Quisera dar-lhes vida, provocar novos atos.
E calculo, por isso, com a técnica que posso.
Me sinto um engenheiro do verso e um operário
que forja com outros a Espanha em seus alicerces.

Assim é minha poesia: poesia-ferramenta,
ao mesmo tempo o pulsar do unânime e cego.
Assim é: arma carregada de futuro expansivo
que aponto o teu peito.
Não é uma poesia gota a gota pensada.
Não é um belo produto. Não um fruto perfeito.
É algo como o ar, que todos respiramos,
e é o canto que expande o que dentro levamos.
São palavras que repetimos sentindo como nossas
e voam.
São mais que o pensado:
 são gritos no céu e na terra, são atos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Monday Mural - Warrior Face

Mural in Bairro da Torre, Cascais (Portugal), painted in June this year for the initiative Arte Urbana Infinito (Infinite Urban art) and painted by Ayer Oner.

Taking part in Sami´s Colourfulworld Monday Murals 



segunda-feira, 16 de julho de 2018

PARABÉNS FILHA LUISA

A nossa filha Luísa faz hoje anos.
Agradecemos a Deus a benção de nos ter dado as nossas filhas,
mas é da Luísinha o dia de hoje. 
Que o celebres com muita alegria ao lado
de teu marido e filhos. Temos muita pena de não
podermos estar aí. 

Luisa aos 10 anos
Luisa, aos 16 anos

Luisa aos 15 anos


Luisa finalizando o seu curso na Universidade Wits de Jhb. 

Luisa, no dia do seu casamento




LUISA MAMÃ (Roberto e Nicholas)





Que o teu caminho seja iluminado de felicidade, amor e paz. 
LUISA, os filhos, as irmãs, as sobrinhas filhas das irmãs, um cunhado e os pais. 
Que o teu sorriso se mantenha toda a vida e que esta seja longa.
Abraços nossos com muitas saudades, MAMÃ e PAPÁ
16-07-2018.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

POETA - Cacilda Celso - FALECEU A 17/11/2010



Não creias, não, ó Pátria…

Não creias, não, ó Pátria, no destino,
Constrói-o antes tu, por tua mão.
Caminhos de trabalho ou desatino
-Verás onde te leva a tua opção…

Agora, meu país, não és menino
Tu sabes já de cor tua lição.
Se em ti tu confiares, vaticino
Que irás dar que falar como nação.

Tu fazes teu melhor com qualidade
Se buscas tuas forças na união
E encontras energias na vontade.

Desiste de viver numa ilusão.
Desiste da apatia e da saudade
- Ó Pátria, dá-lhe de alma e coração!

quarta-feira, 20 de junho de 2018

ESTRELA DA MANHÃ - ANTÓNIO GEDEÃO - 1906-1997


Estrela da Manhã, António Gedeão

Numa qualquer manhã, um qualquer ser,
vindo de qualquer pai,
acorda e vai.
Vai.
Como se cumprisse um dever.
Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos;
nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos
de quantos desejos ficaram antes por desejar.
Abre os olhos e vai.
Vai descobrir as velas dos moinhos
e as rodas que os eixos movem,
o tear que tece o linho,
a espuma roxa dos vinhos,
incenso na face jovem.
Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos
ressuma-lhe à flor da pele.
Vai, belo monstro.
Arranca
as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca
teus voluntariosos pés incandescentes.
Vai
Segue o teu meridiano, esse,
o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece,
onde a memória da espécie
grava os sonos imortais.
Vai
Lábios húmidos do amor da manhã,
polpas de cereja.
Desdobra-te e beija
em ti mesmo a carne sã.
Vai
À tua cega passagem
a convulsão da folhagem
diz aos ecos
«tem que ser».
O mar que rola e se agita,
toda a música infinita,
tudo grita
«tem que ser».
Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita
«Tem que ser».


segunda-feira, 21 de maio de 2018

ANTÓNIO ARNAUT - ESCRITOR e POLITICO -


    ESCRITOR, POLÍTICO
– ANTÓNIO ARNAUT – 1936-2018

António Duarte Arnaut (Nasceu em PenelaCumeeira28 de janeiro de 1936 – faleceu  no hospital de Santo António dos Olivais, em Coimbra, onde estava internado. Foi advogado, politico, escritor (prosa, poesia e ficção). Grande admirador de Miguel Torga, em sua homenagem escreveu um conto (Conto de Job), publicou Ensaios e fez conferências e participou na organização de uma antologia “Cântico em honra de Miguel Torga”.
Fundou o Serviço Nacional de Saúde e foi cofundador do PS.  
As suas obras de poeta e escritor:
Poesia
·         Versos da mocidade -  1954
·         Pátria, memória antiga. – 1986 e 1992.
·         Miniaturais outros sinais: poesia.
·         Conto de Job (Homenagem a Miguel Torga). 1996
·         Nobre arquitectura. 1997
·         Por este caminho.
·         l do teu corpo: antologia do amor.
·         Poética (1954-2004).
FICÇÃO
·         Rude tempo, rude gente. .
·         A viagem: contos do absurdo.
·         Ossos do ofício.
·         Rio  das sombras
·          
·         Poesia e ficção
·         O pássaro azul: contos e poemas de Natal.
·         As Noites Afluentes 
Ensaio e outras
·         Serviço Nacional de Saúde: uma aposta no futuro, 1978.
·         A condição portuguesa no Diário de Miguel Torga (Conferência), 1984.
·         Onze anos depois de Abril - Reflexão Política, 1985.
·         Para uma visão diacríptica do romance com Miguel Torga.
·         O dia do encontro - No 40.º aniversário da D. U. D. do Homem (Conferência), 1989.
·         Protótipos Torguianos (Conferência), 1990.
·         Estudos Torguianos.
·         Iniciação à advocacia: história, deontologia, questões práticas.
·         Introdução à maçonaria.
·         Estatuto da Ordem dos Advogados:
·         Entre o esquadro e o compasso: três intervenções. 1999.
·         Ética e Direito: algumas questões concretas.
·         Vencer a morte: conferência (seguida de três poemas).
·         Fernando Pessoa e a Maçonaria.
Antologias - Participou na organização das seguintes antologias:
·         Imaginários Portugueses: antologia de autores portugueses contemporâneos. Com outros.
·         Cântico em Honra de Miguel Torga. Com Rui Mendes.


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