quinta-feira, 30 de junho de 2016

HAVEMOS DE IR A VIANA - CANÇÃO DE AMÁLIA RODRIGUES

Havemos de ir a Viana




VIANA DO CASTELO
cidade do Norte de Portugal

com o seu castelo
com a Senhora da Agonia
com os seus trajes regionais
com as suas lindas mulheres
mereceu uma linda canção que foi cantada pelo grande fadista portuguesa AMÁLIA RODRIGUES. (falecida). 


Música: Alain Oulman
Letra: Pedro Homem de Melo
Intérprete: Amália Rodrigues




Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las. 
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana. 
Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento. 
Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana. 
Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.
 Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

O VESTIDO DE FESTA DA LINA MANDUNDE - ROMANCE MÃE PRETA"


Da internet, com a devida vénia.


O VESTIDO QUE LINA VESTIU PARA IR À FESTA  


EXTRACTO DO ROMANCE "MÃE PRETA": 
..." Não era por ter ido pôr um vestido de festa e, afinal não assistir a festa nenhuma. Não tinha sido a primeira vez que punha aquele vestido de seda e não tinha ido para qualquer festa. Fizera-o para me sentir bem, num dia em que a minha Irmã Coragem não estava por perto e eu precisava de estar bem arranjada para me sentir mais feliz. Mas naquele dia tinha-o vestido para não ficar atrás das mães das colegas da minha filha. Elas eram brancas e eu preta. 
Precisava de sair dali o mais depressa possível, não queria que alguma convidada passasse e me visse, nem que fosse para abrir a boca por estranhar ver-me ali de trajo elegante, mala chique e sapatos de salto alto.
Fui descendo até à rua o mais depressa que me foi possível, cambaleando, não por causa do tacao dos sapatos mas por ter ficado meio atordoada pelo que acabara de acontecer. Procurei fora da porta um lugar abrigado por um
Foto de Jacaranda, de Celeste Cortez 
 
jacaranda, parecendo-me que ao pisar algumas das suas flores lilás, caídas no chão – que se harmonizavam com as flores pequeninas, cor de alfazema do meu vestido – choravam de tristeza, fazendo um dueto com o meu choro abafado,  que eu, a todo o custo, tentava evitar, sem o conseguir. 

Naquela altura, a copa larga do jacaranda interessava-me para me encobrir e poder ver as pessoas que chegassem. Não era que isso me interessasse – não era bisbilhoteira – mas havia duas razões: primeiro, ter a certeza de que estaria por perto quando a festa acabasse para levar a Glórinha para casa e, segundo… sim, talvez quisesse ter a certeza se tinha sido dispensada de uma festa por não estar à altura. Estaria mal vestida? Será que não se usava aquele tecido? Aqueles sapatos? Aquela mala?
Deixei-me ficar. Se os convidados viessem do lado esquerdo, teria tempo de contornar a árvore para o lado direito, se viessem do lado direito, contornaria a árvore para o lado oposto.
Ouvi a voz da razão a segredar-me: “O que esperavas, Lina? Esqueceste que és preta? O facto de a menina ser a maior amiga da tua filha não significa que os brancos te tenham de convidar. Quantas vezes te convidaram mesmo quando eras a mulher de um preto assimilado? Duas. E não foi para casa de gente muito importante, foi para casa de pessoas mais simples, embora brancos. Mas depois quando..."
----------------------------------------

A autora envia o livro, depois de pago.
Indique a sua morada através do email celeste.cortez2010@gmail.com. O email deverá ter o título de LIVRO MÃE PRETA.  

domingo, 26 de junho de 2016

CRÓNICA - Alegrias e tristezas, por Celeste Cortez



CRÓNICA de Celeste Cortez, 26-06-2016


Ontem a Seleção Portuguesa de Futebol jogou e ganhou. Partilhei os meus sentimentos de alegria, de euforia, os meus sentimentos de felicidade.  

A nossa saúde, dizem os cientistas, depende de alegrias, de risos, de muitos momentos de felicidade. E eu aproveito todos os momentos para ser feliz. Faço o que posso para o ser. Mas infelizmente há circunstâncias limitativas. Aceito que não posso ser sempre feliz. Que pena, mas tenho de aceitar quando nada posso fazer para mudar o que desejo.

Hoje. Hoje é outro dia. Estou feliz na mesma, porque tenho família - a maioria bem longe é certo, mas está dentro do meu coração. Hoje chegou o meu irmão e a esposa e foi tão bom sentir a partilha de abraços. A partilha de sorrisos, de laços que nos unem. Mas a vida não pára, tomaram o pequeno almoço e partiram para a sua casa. Voltarão em breve e nós iremos estar com eles na sua casa também.
Agora. Agora é o tempo que corre, o tempo que já passou e não se deteve. Em que nasce o que não existia e morre o que tem de morrer, o que tem vida.
Neste momento que li o artigo que partilho, que transcrevo no final destas minhas considerações. Fiquei triste mas sei que em muitos casos é verdade. É verdade porque sucede. E é verdade porque as pessoas de idade - se bem o sei - são mais sensíveis também.Algumas já sofreram tanto...

Fiquei triste ao ler o referido artigo, mas a minha ideia ao transmitir-vos, ao partilhar convosco o que me entristeceu, o que me entristece, não é de maneira nenhuma para que fiqueis também tristes. Eu não faria isso, nunca. 

Mas tenho de repassar porque muitos dos meus amigos farão como eu, repassarão... No caminho, poderemos cruzar com alguém que não tenha reparado que seus pais, seus avós, seus tios, envelheceram. E envelheceram precisando do carinho de todos. Poderemos cruzar com alguém que se tenha esquecido de doar com amor a quem precisa, a quem os criou, ou de quem tenha recebido carinho.  

E de amor, precisamos todos, as crianças, os jovens, os adultos, os velhos. Até as coisas, os animais, as plantas, tudo o que existe no universo precisa de amor. 

Vou então partilhar uma história, como disse atrás. Vamos fazer dela um grande momento de reflexão? Vamos pensar como fazer para tornar o mundo dos mais velhos mais agradável? Como dar amor a quem precisa? 

…”QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL - Já não sei em que data estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo. E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.

Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás.
Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas.
Banco do filme Nothing Hill, que se encontra num jardim de Perth,Austrália
por oferta de um cidadão, em memória de sua esposa. 

Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivessem com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão...Mas ninguém vem . No dia seguinte disse lhes:

- Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta.E meu neto perguntou:
- Estás viva vó? (rindo)
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu foi então que me convenci de que sou invisível.
Uma vez os netos vieram dizer-me que iríamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía!
 Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia...
Um dia a minha neta que acabava de ter um bébé me disse que não era bom que os velhos beijassem os bébés por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los!

Eu não tenho magoa deles, eu perdoo a todos, porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível? 
Abraços e Paz!
Texto original - " El dia que me volvi invisible "
Autora - Silvia Castillejon Peral - Cidade do México – 2002”
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...