segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ANTES QUE ADORMEÇAS, EU TE DIGO - poema de João Coelho dos Santos


De: João Coelho dos Santos

Antes que adormeças, eu te digo
Que ser poeta foi, desde menino,
O meu destino!

Muito me afadiguei mas encontrei-te,
Entre alvoroços de contentamento,
Num certo dia em que fui beber
Á fonte dos desejos
E matei minha sede com teus beijos.

Escutei ecos de sinfonias e aleluias.
Na dúvida da origem e do final,
No embalar sereno do sonho,
No perfumado colo do amor,
Senti-me embriagado com néctares do Éden,
Contemplei os planetas e as estrelas
Em êxtase
Obedientes na abóbada celeste.

Meus versos andam, andam e não se cansam,
Falam de afetos e ternuras, de feridas e cicatrizes,
De morte e de vida, de paixão e de esperança,
De festa e de silêncio, de gritos de ecos distantes.

Tive uma ideia, breve, tão breve, que a perdi.
Quase me senti a mendigar no infinito.
Vi-te às portas do desconhecido.
Bailaram meus olhos no teu movimento
E disse-te: - até amanhã, amor.
Os impossíveis também se alcançam…

Do livro NA ESQUINA DA VIDA
Lançamento dia 25 de maio 2016
em Lisboa. 



sábado, 20 de fevereiro de 2016

Faleceu o escritor UMBERTO ECO

UMBERTO ECO –  Alexandria 5-01-1932 – Milão 19-12-2016

    Era ensaista, filósofo, escritor, tendo sido professor na Universidade de Havard, Oxford, Indiana, Columbia, na Universidade de San Marino e na Universidade de Bolonha onde era presidente da Faculdade de Ciências Humanas. 

     Começou a escrever romances, apenas perto dos seus 50 anos de idade. Era no entanto autor de vários livros de não ficção e de ensaios quando decidiu buscar novos desafios.

   Segundo a imprensa, as cerimónias do funeral ocorrerão no Castelo Sforzesco, em Milão, na terça-feira, dia 23. Este castelo abriga um museu que expõe obras de Da Vinci e Michelangelo e situa-se em frente à janela do apartamento de Umberto Eco.
Umberto Eco tinha no seu apartamento uma biblioteca de 30 mil volumes, e 20 mil exemplares na sua casa de veraneio perto de Rimini (Rimini onde S.António fez a sua exortação aos peixes) . Segundo Andreose, o velório será laico a pedido do escritor, que era ateu.
     O seu novo editor La Nave di Teseo,  marcou para março o lançamento do novo livro de Umberto Eco, “Pape Satan Aleppe”, nome  retirado da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri (1265-1321) e reunirá artigos publicados por Eco desde 2000.
     O escritor lutava contra um cancro, segundo informam as agências noticiosas.

     Lançado em 1980, o romance “O Nome da Rosa” era o seu livro mais famoso. Conta a história de frei Guilherme de Baskerville, enviado para investigar o caso de um mosteiro franciscano italiano, cujos monges são suspeitos de cometer heresias. A história, que se passa em 1327, envolve mortes misteriosas, crueldade e sedução erótica.

PINTOR JOSÉ PÁDUA - HOMENAGEM A SI E SUA OBRA

Este blogue tem servido - também - para homenagear poetas, artistas, músicos, filósofos, historiadores, romancistas e todo o género de escritores e pessoas que de algum modo contribuiram para o bem da humanidade. Homenagem em vida, tanto quanto possível.


Hoje coube a vez ao artista pintor - JOSÉ PÁDUA. 
Aqui fica um breve resumo da sua biografia e da sua obra. 

José Carlos Pádua nasceu na Cidade da Beira (Moçambique) em 13 de Maio de 1934, onde viveu até 1977. Em 1966 foi eleito pelo jornal A Tribuna o "Artista Plástico Moçambicano do Ano", pelo assinalável e multifacetado conjunto de obras que nesse mesmo ano realizou como pintor, decorador, ilustrador e gravador.

Regresso a casa (tema africano)

Entre 1974 e 1978 trabalhou exclusivamente para a Galeria de Arte R. Rennie, Harare, Zimbabwe.

A partir de 1977 passou a residir em Portugal, mantendo no entanto uma forte ligação com Moçambique, onde realizou exposições individuais de pintura em 1996 e 1998.


Um dos seus "Cristos"
Pintar, para Pádua, é uma necessidade. É um pintor compulsivo. Não pode ver um papel em branco. Até nos versos dos cheques chegava a fazer desenhos. 

Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1979,1980 e 1981, num curso de litografia e gravura em metal.

Em 1980 e 1981 foi distinguido pela Câmara Municipal de Lisboa com o 2.° e o 1.° prémios, respectivamente, em exposições colectivas sobre temas de Lisboa.


Moçambique é a sua paixão,
 ou não fosse natural da Beira 
É autor de inúmeras ilustrações em jornais, revistas e livros e de trabalhos na área da escultura e da azulejaria, bem como de murais em cimento em Moçambique (aeroportos do Maputo e da Beira, Banco Pinto & Sotto Mayor, Montepio de Moçambique, Banco de Crédito Comercial e Industrial, Cinema Novocine e piscina do Complexo Desportivo dos Caminhos de Ferro da Beira, assim como em várias residências particulares) e no Bank of Lisbon & South África em Joanesburgo.


Está representado no Museu Nacional de Artes Plásticas (Maputo), no Museu de Pintura (Beira), no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Lisboa) e em várias colecções particulares em Moçambique, Portugal, Espanha, Suécia, Brasil, Canadá, EUA, Reino Unido, Japão, Israel, África do Sul, Zimbabwe, Venezuela, etc.

Tem participado em inúmeras exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro
Fez a ilustração da capa do livro "Afrozambeziando Ninfas e Deusas" de Delmar Maia Gonçalves.
Tem participação em inúmeras exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro.
O Pintor José Pádua, a escritora Celeste Cortez
e o marido desta, em Setembro de 2010, no
dia em que foi homenageado no III Encontro dos
Escritores Moçambicanos na Diáspora. . 
Foi homenageado no III Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora em 2010.É Membro Honorário do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora desde 2011.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



Escritor brasileiro Guimarães Rosa 

(1908/1967), no seu extraordinário livro 

"Grande Sertão: Veredas"


Todo caminho da gente é resvaloso. Mas, também, cair não prejudica demais, a gente levanta, a gente sobe, a gente volta.

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. ...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

AS SAUDADES CONTINUAM

QUEM PARTE DEIXA SAUDADES:

          Fernando de Almeida Campos - Alvarelhos - Carregal do Sal - 13-02-1945 - Coimbra 02-03-2004.
    Viveu na Beira, Moçambique de 23-06-1950 a Dezembro de 1976. Trabalhou nos escritórios dos Serviços de Electricidade e como despachante na Cory,Mann George.                  
     Fez a tropa em Lourenço Marques e em Nampula.
Zé Veloso (marido da sobrinha, Celeste (irma) com a
  pequenina sobrinha Karina ao colo, o Fernando antes de ir para a
Igreja, a sobrinha Sami e o irmão Nelson. 
    No seu regresso a Portugal com os retornados, foi sócio do Salinas, em Carregal do Sal, durante alguns anos.
         Casou na Aguieira, Canas de Senhorim, a 27-10-1985. 
           Trabalhou com sua sobrinha Sami na empresa Saliartes Molduras e Decorações, desde 1996 até à sua ida para os hospitais. 
 Os anos foram passando, nem sempre bons, nem sempre alegres.Sofreste neste mundo ingrato. 
Como era teu jeito, sofreste com resignação a longa e difícil etapa dum maldito cancro, que se disseminou rapidamente por todo o corpo. Não, não pode ter sido assim tão rápidamente, mas era tão grande a tua capacidade de aceitar tudo, que foste sofrendo as dores, as metamorfoses do corpo. Foi a ultima cruz antes de partires, que aceitaste com resignaçãosorrindo quando te apetecia gritar. E que pesada deve ter sido essa cruz.Nem quero acreditar que, apesar da saudade, depressa se passaram quase doze anos que partiste.  Foi numa manhã cedinho, 02 de Março de 2004. Estavas desde o dia 31 de Janeiro nos cuidados paliativos do IPO de Coimbra.

      Nos cuidados paliativos enchia-se o teu quarto aos fins de semana, com pessoas vindas das terras por onde passaste em vida, gente de todas as camadas sociais, de todos os níveis. Era assim Fernando que gostavas: de juntar pessoas, porque a todas amavas, da mesma maneira, com o mesmo grau de amizade, sem te preocupares se eram doutores ou analfabetos, se eram gente importante ou gente humilde. 
Não, não esteve certo que partisses tão novo, não.
Só esteve certo os beijinhos que me deste, debruçando-te com dificuldade na cama que ocupavas havia mais de um mês, quando, me despedi para voltar para casa, para trocar de roupa, prometendo regressar no dia seguinte.
Tu sabias que seriam os últimos beijos que um irmão amigo dava à sua irmã querida. Eu também adivinhei que seriam os últimos. Sem palavras compreendemo-nos.
 Fernando à frente a ouvir atentamente
Apesar do sofrimento que nos roía por dentro, cada um de nós sorriu. Eu prometi voltar no comboio pendular na manhã seguinte. Não respondeste. Palavras para quê? Tu sabias. Voltei a prometer que voltaria no dia seguinte, no comboio. Mais uma vez ficaria perto de ti, passaria a tarde contigo, e, à noite, numa cama ao lado da tua, fingiria que dormia, mas ficaria alerta para te ouvir respirar e, ouviria, mais vezes, que chamavas com uma voz doce, maviosa: Mãe...Mãe. E quando olhava com a claridade da lampada de presença, via-te olhar para longe, de certeza para o Céu a repetires documente: Mãe, Mãe. E ficavas numa atitude contemplativa.
Na tropa, em Moçambique - Fernando, de pé, sorridente, ao lado do militar fardado de cor clara.
Até sempre Fernando, recebe o amor dos teus irmãos Celeste e Nelson, do teu cunhado Tó e das nossas filhas e restante família. E até um dia...
Eu sei, não precisei perguntar-te - não quis interromper-te - que falavas com a Mãe do Céu, porque a mãe que tivémos na terra, chamavamos de "mamã".
        Fernando, não podias esperar até que eu chegasse? Tens razão: não se diz adeus aos que amamos… estaremos sempre com eles.
    Fernando, aquele abraço cheio de carinho dos teus irmãos Celeste e Nelson, do teu cunhado Tó, das tuas sobrinhas e familiares.

      
   


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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

POESIA ALDRAVISTA 

- Movimento aldravista - Parte de artigo do jornalista LUCAS SIMÕES, publicado pelo jornal "O Tempo", em Mariana, Brasil, em Fevereiro de 2016. Obrigada Lucas por me ter entrevistado.
   
Palavras de Celeste Cortez:

“A poesia aldravista é simplicista, profunda, concisa, sintética, com novos ritmos sonoros, versos livres de amarras e, pela sua exiguidade ou nenhuma pontuação, não limita interpretações, desenvolvendo a criatividade, o prazer, a sensibilidade, o espírito poético, sendo um estímulo para os neurônios. Repensei que deveria dedicar-me a aprofundar a poesia aldravista para transmitir aos meus alunos da mesma maneira como lhes transmiti ou relembrei outros tipos de poesia. Fiquei viciada”, diz a professora portuguesa.

Ela publicou o
livro “Cântico de Palavras – Aldravias” em 2013, tendo a segunda edição no ano seguinte. E trata sua estreia, que deverá ser seguida por outros volumes, como uma forma de difundir um gênero universal. “Sei que alguns poetas aldravistas usam meu livro nas suas oficinas de poesia aldravista no Brasil e em outros países, e isso me enche de orgulho, por ter contribuído para divulgar essa arte sublime de poesia aldravista, que veio para ficar na poesia universal”, completa Celeste Cortez.
Poetas por aí (pelo mundo)
Milhares. No site Recanto das Letras, que condensa gêneros literários no Brasil, a aldravia aparece com 13.811 publicações de diversos autores do Brasil e exterior. Apesar de ter notícias de escritores oriundo de países como Moçambique, Turquia e até Japão, Andreia e José Donadon não conseguem estimar quantos poetas do gênero existem espalhados pelo mundo. “Podem ser milhares”, diz Andreia.

ABC da Aldravia
Regras. Aldravia, poema composto de até seis versos univocabulares, com sintaxe paratática (por coordenação), livre de amarras que venham a implicar na limitação de interpretações. Na aldravia, a palavra é o elemento essencial formador da poesia; por isso, a aldravia prescinde da utilização de recursos visuais adicionais, nada obstante aceitar-se experimentação que não torne complicada a leitura do poema. A partir do conceito “poudiano” de “o máximo de poesia, num mínimo de palavras, o poeta aldravianista deve observar os seguintes critérios para a elaboração das aldravias:
- Iniciar os versos com letras minúsculas. Em caso de nomes próprios, vale a opção do autor
- A divisão em palavras-verso já implica pausa; por isso, não é recomendada a utilização de pontuação. Além disso, a pontuação limita possíveis interpretações relativas a livres escolhas do leitor em deslizar pausas para criar novos sentidos:
Mineiro tira minério cimenta seu cemitério (Andreia Donadon/MG)
- As pontuações de interrogações ou de exclamação podem ser utilizadas, se a sintaxe da aldravia, por si só, não denunciar sua proposição:
Lágrimas de luz: estrelas choram (José de Castro/RN)
- Nomes próprios duplos (com ou sem ligação por hífen), cuja divisão resulta em outro nome, como Di Cavalcati e Van Gogh, podem ser considerados único vocábulo
- Nomes e formas pronominais ligadas por hífen podem ser considerados vocábulos únicos
- Privilegiar a metonímia e evitar a metáfora. Sugerir mais do que tentar escrever todo o conteúdo. Incompletude é provocação aldrávica.




http://www.jornalaldrava.com.br/pag_sbpa_celeste.htm

Mudança de Idade, poema de MIA COUTO 

Para explicar
os excessos do meu irmão
a minha mãe dizia:
está na mudança de idade.
Na altura,
eu não tinha idade nenhuma
e o tempo era todo meu.
Despontavam borbulhas
no rosto do meu irmão,
eu morria de inveja
enquanto me perguntava:
em que idade a idade muda?
Que vida,
escondida de mim, vivia ele?
Em que adiantada estação
o tempo lhe vinha comer à mão?
Na espera de recompensa,
eu à lua pedia uma outra idade.
Respondiam-me batuques
mas vinham de longe,
de onde já não chega o luar.
Antes de dormirmos
a mãe vinha esticar os lençóis
que era um modo
de beijar o nosso sono.
Meu anjo, não durmas triste, pedia.
E eu não sabia
se era comigo que ela falava.
A tristeza, dizia,
é uma doença envergonhada.
Não aprendas a gostar dessa doença.
As suas palavras
soavam mais longe
que os tambores nocturnos.
O que invejas, falava a mãe, não é a idade.
É a vida
para além do sonho.
Idades mudaram-me,
calaram-se tambores,
na lua se anichou a materna voz.
E eu já nada reclamo.
Agora sei:
apenas o amor nos rouba o tempo.
E ainda hoje
estico os lençóis
antes de adormecer.


Ler mais: http://www.contioutra.com/dez-inesqueciveis-poemas-de-mia-couto/#ixzz3zhWuKFmu
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