quarta-feira, 20 de maio de 2015

SANTO ANTÓNIO - O MEU! O TEU! O NOSSO!


    SANTO ANTÓNIO  


    O MEU! OTEU! O NOSSO!

Por Celeste Cortez - publicado na revista FENIX - 

ANTOLOGIA LOGOS Nº.14 - MAIO DE 2015 

(reprodução proibida nos termos da lei, a não ser com autorização por escrito da autora)

Santo António é conhecido em Portugal e Brasil por Santo António de Lisboa e em Itália por Santo António de Pádua. Regra geral ao nome dos santos católicos, acresce como que um sobrenome – o da cidade onde faleceu - onde por norma permanecem suas relíquias. Se eu tivesse o poder, creiam que obrigaria o envio das relíquias para sua terra natal – não terei razão? - terra de sua língua “mater”, Lisboa, onde existe um Museu em seu nome, ao lado da igreja que lhe é dedicada no lugar de seu nascimento, perto da Sé, onde Santo António é venerado nas romarias no adro da igreja. 
          Ao nascer foi-lhe dado o nome de Fernando e embora não se tenham encontrado certificados que o atestem, foi passando-palavra que era descendente de uma nobre família oriunda de França, rica, poderosa, de sobrenome Buillon, que traduzido para português daria Bulhões, família essa que sonhava para seu filho uma carreira na Magistratura. Será que nos dias de hoje, com casos de corrupção a nível mundial, com a Troika e outros problemas da sociedade do nosso tempo, seus pais teriam a mesma vontade de o ver magistrado? Parece-nos que não.

Se não queria ser magistrado poderia ser Bispo, ter-lhe-iam dito os pais querendo convencê-lo. Um moço de quinze anos poderia deixar-se convencer facilmente, mas isso não sucedeu com ele, já tinha a sua personalidade. Depois de muito rezar e refletir, entrou num Mosteiro em Lisboa, para ser Frade. Mais tarde pediu para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, onde se formou em filosofia e teologia, e foi ordenado sacerdote aos vinte e cinco anos de idade. 
Pelo desejo ardente de ser missionário e por ter ficado impressionado pelos Missionários Franciscanos com quem lidou em Coimbra, e mais impressionado quando o corpo desses frades mortos ao serviço da sua missão, retornaram a Coimbra, sendo ali venerados como mártires, mudou o nome de Frei Fernando para Frei António, seguindo a vida de Franciscano - Irmandade religiosa fundada por S. Francisco de Assis que se venera em Assis, Itália 
Frei António, com otimas qualidades de orador, embarca para falar de Jesus Cristo pelas praças. Vai para África, mais concretamente Marrocos. É mesmo! Marrocos é África, embora em comparação por exemplo com Angola que é na África Ocidental e Moçambique na África Oriental, Marrocos nos pareça pertinho de Lisboa, nestes últimos anos em que todo mundo fala de globalização. Quem vai a Marrocos nem se despede, só diz: Tchau, vou até Marrocos fazer umas compritas, conhecem aqueles chinelos marroquinos, vou trazer-vos um par de oferta, volto daqui a dois dias. Ou já nem oferecem os chinelos marroquinos, que a vida com a crise, está pela hora da morte.
Aqui ao meu lado há alguém a bichanar ao meu ouvido que nessa altura Santo António ainda não era santo, para ser santo teria de ter sido canonizado pelo Papa e isso não tinha sucedido. Acham que ainda não é altura de lhe chamar Santo? Enganam-se. Conta-se, seja lenda ou verdade, que o menino Fernando enquanto rezava na Catedral de Lisboa, afugentou o demónio traçando o sinal da cruz no chão. E se ele não fosse Santo ou não estivesse talhado para o ser, como teria convencido aos quinze anos, seus pais, dizendo que queria ir para um Mosteiro? Estamos no ano 1210, e não no século XXI! E teria um castigo com um valente raspanete: Espere aí meu menino, aqui quem manda são os papás. O menino fica fechado no seu quarto a olhar para a parede, durante duas horas, nem pense saltar pela janela. E cuidadinho, deixe o seu telemóvel ligado para o caso de querermos comunicar consigo. Pode escrever no seu computador sim, mas está proibido de ir visitar seus amigos no facebook. 
Desculpem leitores, já me esquecia que nessa altura nem telefone havia, quanto mais telemóvel e tecnologias que apareceram na nossa época! Estava embalada na escrita. Vou colocar travões na caneta.
Voltando a falar de Marrocos não havia lá cristãos, sim mouros, por isso a preocupação de Santo António era convertê-los, mas entretanto ficou muito doente. E não foi o cansaço e o enjoo do avião ou do comboio na ida, porque nem caminho de ferro havia para Marrocos, nem para outro qualquer lugar próximo ou longínquo. Quanto a avião, os leitores sabem quando começaram a voar.
           Foi mandado regressar a Lisboa, mas a vida, o destino, sei lá, prega-nos partidas, a nós e, pelos vistos, aos santos também: O navio - teria um mau comandante? - Foi levado pelos ventos contrários e foi parar à longínqua Sicília, na Itália. Reza a história que Frei António era um homem de saúde frágil como sabemos. Com sua generosidade para o sofrimento, aguentou, que remédio, a viagem de navio. Navio? Não, não é desses que está a pensar leitor. Não é navio de cruzeiro, com alguns andares, que tem piscina para dar uns mergulhos, empregados simpáticos – as vezes até bonitoes – que servem aos passageiros uma quantidade de iguarias de todo o mundo, onde o camareiro faz a cama pondo nosso pijama de seda amarrado com amor à gravata do marido! Era sim um pequeno barquito que balouçava, balouçava, qual casca de noz esperando ventos favoráveis para o barco andar. Santo António, foi aguentando, sofrendo e rezando por quem precisava. 
          Regressemos ao assunto, o meu Santo António. Diga, diga leitor, sou toda ouvidos. Fale um pouco mais alto se faz favor: Ah! Compreendi: Para todos ficarmos felizes deverei dizer sempre “o nosso Santo António”. Sua sugestão foi aceite. Voltemos a falar da vida do “nosso Santo António”, isto sem sermos "cuscas" que é muito feio e prejudicial. E o nosso Santo não aprovaria.
No dia de Pentecostes de 1221, encontra-se com São Francisco de Assis, o pobrezinho - aquele que falava com os lobos e fez um sermão aos passarinhos. O nosso Santo António uns anitos mais tarde, fez um poético sermão aos peixes. Como seria bom que houvesse santos no nosso mundo que falassem com os lobos dos políticos que comem tanto, que amassem os passarinhos-meninos que às vezes não têm comida e brincam na rua sozinhos, que fizessem sermões poéticos aos peixes-meninos-malandros que na escola batem nos seus companheiros! 
Graças à sua inteligência e aos estudos, Santo António foi um homem cultissimo. Na sua ânsia de pregar o Evangelho de Cristo, esteve na França, na Itália, deu quase a volta ao Mundo, não em oitenta dias como Júlio Verne porque, como disse - quantas vezes já falei nisto? - sua saúde frágil não dava para andar tão depressa. O certo é que se conta que correu a cidade de Rimini, na Itália, rezando e meditando, na esperança de lhe aparecerem os hereges para lhes pregar um sermão. Mas os hereges não se dignaram aparecer. Então o nosso Santo António – como disse atrás, os italianos dizem que o Santo é deles, mas é portuguesinho da silva, não é? – Também já disse isto uma dúzia de vezes para que conste e nunca mais seja esquecido. Como ia a dizer, no ponto em que o rio Marecchia desagua no mar Adriático, Santo António chama o seu auditório: Venham vocês, peixes, ouvir a palavra de Deus, já que os homens “petulantes” não se dignam ouvi-la”! 
Em que tom de voz é que o Santo teria pronunciado a palavra “petulantes”? Ele teria uma voz harmoniosa como seu estatuto de futuro santo exigia. Os peixinhos já cá não estão para nos dizer, sabemos no entanto que apareceram à tona da água, às centenas, aos milhares, ordenados, palpitantes, a escutar a palavra de exortação. Quanto aos homens, também já cá não estão para nos contarem, mas diz-nos a história que o fenómeno dos peixes, muito quietinhos ao cimo da água, deu origem à curiosidade dos homens, seguiu-se a maravilha e o entusiasmo, o arrependimento e o regresso à Igreja dos tais petulantes, que, espero, tenham deixado de o ser. Petulantes? Há tantos por cá neste nosso tempo, que talvez os que se foram tenham deixado sua semente. Santo António não nos livrou deles. Uma questão de livre arbítrio? Ó bondoso Santo António!
Viveu o nosso Santo durante quase dois anos em Montepaolo (Monte Paulo), como o nome indica eram mesmo montes. E a travesseira onde dormia era uma pedra que se encontra na Basílica em Pádua. Eu vi-a, sim, vi a pedra que era a almofada do nosso Santo António. Com uma almofada daquelas, podem imaginar o colchão... Era o chão, eram outras pedras. 
Santo António veio a falecer aos 36 anos. Há registos que dizem que foi aos 40 anos de idade. Não faleceu em Pádua como se diz, mas em Arcella, próximo de Camposampiero. O povo, “o popolo”, a multidão, levou-o a sepultar na Igreja de Nossa Senhora. Desde 1263 os seus restos mortais estão em Pádua, (Padova para os Italianos). 
A Catedral é muito grande e muito bonita, digna de Nosso Santo António. Quando programar sua viagem a Itália, tenho a certeza que não deixará de visitar Pádua para conversar com ele, orando e pedindo pela paz de todos nós, pela paz do mundo.





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