sexta-feira, 30 de maio de 2014

      
POETA - ANTÓNIO GONÇALVES DIAS – BRASIL 1823-1864 (41 anos)  

Filho do comerciante português de Trás os Montes João Manuel Gonçalves Dias e de Vicência Ferreira, mestiça, tinha muito orgulho na sua ascendência:brancos, índios e negros. 
Foi aluno de Direito em Coimbra a partir de 1840, tendo-se formado bacharel em direito.
Gonçalves Dias foi colega dos principais escritores da primeira fase do Romantismo português, Alexandre Herculano, Almeida Garrett e António Feliciano de Castilho. Inspirado por essa convivência e a saudade da pátria, escreveu a "Canção do Exílio" - poema que se tornou tão célebre que alguns de seus versos são citados no Hino Nacional brasileiro, cuja letra é de Joaquim Osório Duque Estrada.

É celebre o seu amor por uma moça branca, mas a família desta, com preconceitos raciais não permite o casamento. 

Gonçalves Dias regressou ao Brasil e em 1849 foi nomeado professor de Latim e História. Depois de ter passado por cargos importantes, acaba por adoecer. Procura a cura em 1862-1863 nas termas de Vicky. Marienbad, Dresda, Koenigstein, Teplitz e Carlsbad. 
1863 – 25 de outubro: Embarca em Bordéus para Lisboa, onde termina a tradução de A noiva de Messina, de Schiller.


1864 – Fins de abril: Volta a Paris. Estações de cura em Aix-les-Bains, Allevard e Ems (maio, junho e julho).

1864 – 10 setembro, embarca  no navio Ville de Boulogne. Piora em viagem e regressa ao Brasil a 3 de Novembro do mesmo ano.
O barco em que seguia naufragou e Gonçalves Dias morre no seu camarote, nas costas do Maranhão.
Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.



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quarta-feira, 28 de maio de 2014

poema de CELESTE CORTEZ : MUANA

MUANA (homenagem às macaiais de Moçambique:
(crianças que tomavam conta de criancinhas) de Moçambique,
Poema de Celeste Cortez
Muana,
pretinha,
de cabelo carapinha,
o menino branco vais embalar
com ele brincando,
praticando de mamã,
teu amor vais dar


Muana
de olhinhos risonhos,
de bata e avental
levando pela mão,
menino loirinho,
para passear

Cuidado muana:
o menino não se pode sujar

Muana
que cresces sem juventude passar
o corpo ondulas ao vento
pensando na aldeia
num batuque ao luar,
histórias inventas para ao menino contar:

Vês, menino,
a lua, seus olhos olhando pr’a nós?
se tu fazes maldades, ela chora,
e as lágrimas caem em cima de nós

O menino esfrega apressado,
as mãos no seu fatinho,
que se quer imaculado

Muana
limpa de repente,
não vá nódoa deixar para alguém notar
por que muana quer ser a melhor das mães
e menino branco continuar a embalar e a amar

Muana
que cresceste sem juventude passar,
o menino branco embalaste
praticando de mamã
teu amor foste dar
o corpo ondulas ao vento
sem pensar em batuques
nem em noites de luar
pensando na aldeia
nos filhos que hás-de criar.

1º.Prémio de Poesia 2010 – da Actis - Universidade
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terça-feira, 27 de maio de 2014

NOTÍCIAS DE MEUS CONFRADES do BRASIL -  POETAS ALDRAVISTAS:

Aldravistas Lançaram livro no
13º Circuito de Literatura CLESI
Autores aldravistas lançaram livros no 13º Circuito de Literatura CLESI, no Teatro do Centro Cultural USIMINAS, dia 24 de maio, às 20 horas, em Ipatinga, MG.

Aldravistas Lançam livros 
no 13º Circuito de Literatura de Ipatinga
J. B. Donadon-Leal apresenta os livros aldravistas no Centro Cultural USIMINAS

O Clube dos Escritores de Ipatinga premiou no dia 24 de maio de 2014, no teatro do Centro Cultural Usiminas, os vencedores dos concursos literários realizados no 13º Circuito de Literatura: 11º Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga, 5º Prêmio Nacional de Contos, 28º Festival Estadual de Poesia e 12º Fesp Destaque Infantojuvenil – Categorias 8 a 11 anos e 12 a 15 anos. Na cerimônia o Clesi divulga a obra vencedora do 5º concurso para edição de livro da Série Giro-Lê. 
O Circuito recebeu obras de vários estados da Federação. Foram cerca de 1.647 obras avaliadas, nas categorias poesia e conto. Na programação noite de autógrafos dos dois títulos editados e lançados pelo Clesi no 8º Salão do Livro: o volume 18 da Série Poesia de Bolso, composto pelos conjuntos de poemas vencedores do 9º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga e volume II da coletânea Prosa Gerais, que apresenta o trabalho de 34 autores, em 48 textos, premiados em concursos realizados entre 2006 e 2012. 
O Clube dos Escritores de Ipatinga recebeu também Escritores Aldravistas de Mariana para o lançamento de seis livros inéditos, integrantes da Coleção Poesia Viva – a poesia bate à sua Porta, projeto que venceu o Prêmio VivaLeitura - do Mec/Minc, em 2009. Serão lançados: “Os quatro meninos”, “Brevidades” e “Megalumens” de Andreia Donadon Leal. A escritora e artista plástica é natural de Itabira. Licenciada em Letras pela UFOP, Pós-graduada em Artes Visuais - Cultura e Criação, Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Viçosa, diretora de projetos culturais da Aldrava Letras e Artes, e idealizadora do Projeto Poesia Viva - a poesia bate à sua porta.
O escritor J.S. Ferreira lança “Algo nas Nuvens”. Ferreira é formado em Letras pela Faculdade de Itabira, Vice-Presidente da Associação Aldrava Letras e Artes e membro da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil. É autor de um dos títulos da série Giro-Lê, “Jenipapo”, lançado em 2007 pelo Clesi. 
O poeta e ensaísta J.B. Donadon –Leal lança “João-sem-braço. Donadon é Doutor em Semiótica e Linguística pela USP, Pós-Doutor em Análise do Discurso pela UFMG e Professor de Teoria da Comunicação e Semiótica da UFOP. É Presidente do Conselho Editorial do Jornal Aldrava Cultural e Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da ALACIB.
Presença também do idealizador do Jornal Aldrava Cultural e do Movimento Aldravista de Arte e Literatura, Gabriel Bicalho, que lança “As crianças que ainda somos”. Bicalho é fundador e presidente da Associação Aldrava Letras e Artes, membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, da Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova e da ALACIB. O escritor recebeu o primeiro lugar no Iº Concurso Nacional de Poesia - Literatura para Todos - MEC/2006, com o livro Caravela - redescobrimentos. 
A cerimônia de premiação foi abrilhantada por uma apresentação do coro Fundação São Francisco Xavier, sob a regência do maestro Leandro Morais de Almeida. O coro está em atividade desde 2001 e tem como característica apresentar um repertório de Música Popular Brasileira. Desenvolve os projetos “Doutores da Música”, “Semana da Música”, “Cantata de Natal” e o musical “Concerto de Inverno”. 
Na oportunidade tomou posse a nova diretoria do Clube dos Escritores de Ipatinga, para o biênio 2014/2016, eleita em março e que tem como presidente o jornalista Wellinton Fred; vice-presidente Nivaldo Resende; primeiro secretário, Nélio Martins Canêdo; segundo secretário, Rubem Leite; primeira tesoureira, Zarife Selim de Salles; segunda tesoureira, Adriane Martins Pereira Lima; diretor de divulgação Wemerson Félix e diretora social, Meiriane Carla de Castro. O conselho deliberativo e fiscal é composto por Moacir Chrisóstomo e Ademar Pinto Coelho.

O Clube dos Escritores de Ipatinga é patrocinado pela Usiminas. Conta com o apoio do Usicultura e incentivo do Governo de Minas Gerais por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. 
Autores aldravistas com escrtores do CLESI

J. B. Donadon-Leal autografa no 13º Circuito de Literatura de Ipatinga

J. S. Ferreira autografa no 13º Circuito de Literatura de Ipatinga

Andreia Donadon Leal autografa no 13º Circuito de Literatura de Ipatinga

Gabriel Bicalho autografa no 13º Circuito de Literatura de Ipatinga

Zarife, Andreia Donadon e Marilia Siqueira

A escritora Goretti de Freitas doou livros ao Projeto Poesia Viva


Projeto Poesia Viva no Hospital de Mariana
Andreia Donadon Leal com Ryam e Vinícius na biblioteca e brinquedoteca do Hospital
Clique na imagem e veja mais
 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

leitura de um livro - comentários de uma leitora do romance "Mãe Preta"

COMENTÁRIOS – MÃE PRETA
2013 -

Iniciei a leitura de "Mãe Preta", da escritora Celeste Cortez, ontem à noite ; e, desde logo, fui cativada pela figura dolorida mas vertical de Lina, magistralmente gravada na trama do romance e a comovente bondade do pequeno Tóti. Mas não só: através destas figuras julgo ter vislumbrado um pouco da alma da Autora, cheia de claridade e ternura, tão sensível e tão conhecedora dos seres e dos lugares que retrata. E também isso me encanta. Emergente do fundo de uma memória muito antiga, o esplendor lilás das jacarandás de Vila Pery encharcando-me os olhos e a Cabeça do Velho recortando-se ao longe...e muito forte a vontade de continuar a ler pela noite fora, seduzida, rendida à beleza das imagens, da prosa fluente, à construção perfeita das frases salpicadas de expressões nativas de que tanto gosto, até a tensão ocular me obrigar a fechar o livro. Ainda falta bastante para chegar ao fim e não sei se demorarei mais do que queria porque estou doente...mas não quero esperar mais para dar os PARABÉNS à Autora, Celeste Cortez com sincera admiração e forte simpatia. E deixar-lhe aqui um muito sentido obrigada! Aqui, em público, porque estas coisas não são para ser ditas em privado.
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sexta-feira, 9 de maio de 2014

NADINE - PARABÉNS E FELICIDADES






É com muito amor que apresentamos hoje a nossa primeira neta . NADINE


o BATISADO (na altura escrevia-se baptisado da NADINE
vestido oferecido pelos avós Celeste e Tó e feitio desenhado pela avó Celeste



NADINE ao colo da sua madrinha de batismo (na altura escrevia-se baptismo), tia Luísa
com familiares e amigos intímos de seus pais

A NADINE tem quase 3 anos, está ao colo do avô Tó
enquanto a avó Celeste segura a prima KARINA 
NADINE patinadora no gelo, na África do Sul (também patinou no gelo em Portugal,
no ringue que houve no Cascaishopping

NADINE festa na Escola Primária - Danças do Leste 

NADINE e FELIPE

NADINE - no casamento da cunhada 

quarta-feira, 7 de maio de 2014

EXPOSIÇÃO DE ARTE DO PINTOR LUIS ATHOUGUIA , em Vila Velha de Rodão
Na Obra de Luís Athouguia, a aproximação à dimensão infinita da criação, desperta os sentidos e apela à nossa cumplicidade.
Na orquestração da sua Obra, instala-se um léxico original, vigoroso e inconfundível, do abstraccionismo mais estreme, em que os lemas enfrentam a tragédia da sua própria inexistência, num texto cromático e formal que se sustenta da imponderabilidade de todos os mistérios, por ele sugeridos mas nunca revelados.
Diagramas de fenómenos desconhecidos, as formas do vocabulário athouguiano organizam-se como crisálidas de um metamorfismo encantatório, de um oráculo revelador, de um rito impenetrável.
 Lugar de todos os rituais, na pintura de Athouguia as figurações dos seres e das coisas oferecem-se a leituras múltiplas e incoincidentes e sobre elas pende a luz ácida da angústia de toda a criação, da agonia do destino e do supremo mistério.
Representações fugazes do tudo e do nada, por entre subtis evocações dos quatro elementos fundamentais de Aristóteles e dos reinos da natureza.

(excertos de textos de catálogos) 
Carlos-Antero Ferreira
Poeta, Académico, Professor Catedrático 

CESÁRIO VERDE - análise breve da sua forma poética

POETA - CESÁRIO VERDE – 1855-1886 (31 Anos)
BREVE ANÁLISE DA SUA FORMA POÉTICA por Celeste Cortez 

Foto de um quadro do pintor Silva Porto, retratando a época 1870
CESÁRIO VERDE, nasceu em Lisboa, mas reza a sua biografia que faleceu no Lumiar, quer dizer que nessa altura Lumiar não era freguesia de Lisboa, como veio a ser.
Como poeta foi considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX. É naturalista e  realista. Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses, para se dedicar à profissão de comerciante como o pai. No seu curso conhecer Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884).Tenta curar-se mas vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia que foi publicada em 1901.
No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Usa o realismo, o naturalismo.  Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

A TERRA-MÃE, O CAMPO -  Para ele o campo é o único lugar para se viver e as pessoas ali são simples, e gente boa. Mas não é bucólico, não é idilico, não inventa luas especiais, um sol poético, coisas assim. mas um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Retrata os camponês no seu trabalho diário com objectividade e realismo. A MULHER DO CAMPO é quase sempre feia, mas linda por dentro. (bondade, vigor, etc.) São estas as mulheres que ele  coloca na cidade como: vendedeiras, engomadeiras, trabalhadoras que ele admira, e que têm sempre uma força interior especial. 

CIDADE - o ambiente físico cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos) quintais e casas velhas, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas e pelas varinas rechonchudas…  A MULHER DA CIDADE: A fidalga convencida, a mulher fatal, a calculista, sem sentimentos, a mulher dominadora. Mas na cidade DESCREVE OUTRO GÉNERO DE MULHER: a débil, ingénua, terna. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterônimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro.

No poema  AVE MARIAS, na página seguinte, editada hoje neste blogue, vê-se um ambiente melancólico, não só o anoitecer mas a cor londrina, provoca-lhe enjoos, melancolia,  este cenário provoque a dor. Sente-se oprimido, por isso lhe ocorrem um desejo de evasão para exposições e outros países. Evoca capitais europeias, cujo progresso contrasta com o caos de Lisboa, mas também evoca os tempos áureos da Lisboa da altura das Descobertas (do tempo do ouro e das especiarias e das sedas). Chama-nos à consciencialização que o progresso tecnológico vai fazer à existência humana.
Celeste Cortez .- 

poema de CESÁRIO VERDE e breve análise























(POEMAS que fazem parte de: Sentimento de um Ocidental:Avé Marias,Noite fechada,Ao  gás e Horas Mortas) de Cesário Verde 1855-1886


                                      AVÉ-MARIAS
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
UMA BREVE EXPLICAÇÃO DO POEMA - breve por falta de espaço, por CELESTE CORTEZ.

Neste poema Cesário Verde retrata com exactidão e realidade um ambiente melancólico, triste, escuro, não só devido ao anoitecer, mas à própria cor monótona e londrina (Londres está normalmente com nevoeiro) característica de bairros fabris, o que provoca ao poeta enjoo, perturbação, melancolia, chegando mesmo a despertar-lhe um desejo absurdo de sofrer.
A sua mente vagueia, deseja talvez estar naqueles lugares: exposições e capitais de países tais como: Espanha, França, Alemanha, Rússia, o mundo! Invoca crónicas navias: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Só poderia ser ressuscitado, porque se passaram séculos... visto que Cesário Verde nasceu em 1855 e em 1886 com apenas 31 anos faleceu. 

Interessante como descreve os táxis da época, ou seja as parelhas de mulas ou cavalos: "Batem os carros de aluguer ao fundo". 
Às portas (das lojas) enfadam-se os lojistas! Por falta de clientela. 
Galhofeiras, (galhofa é boa disposição, riso, faladoras) as varinas, mexem as ancas. Gordas ou magras, as varinas terão de mexer as ancas para segurar a canastra na cabeça, para equilibrar, quer levem peixe quer levem os seus filhos pequenos na canastra.
As gatas parecem miar mais do que os gatos. Seja como for, gatas terá de rimar com fragatas e gatos não rimaria. E o peixe podre gera os focos de infecção, sem sombra de dúvida. Por isso o próprio poeta veio a morrer tuberculoso, doença daquela época.

Celeste Cortez. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Que noite serena - Álvaro de Campos heterónimo de Fernando Pessoa

Que Noite Serena!


Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!

Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...
O terceiro andar das tias, o sossego de outrora,
Sossego de várias espécies,
A infância sem futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
E tudo bom e a horas,
De um bem e de um a horas próprio, hoje morto.
Meu Deus, que fiz eu da vida?

Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!

Quem é que cantava isso?
Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
E dói, dói, dói...
Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.
Álvaro de Campos,(heterónimo de Fernando Pessoa) in "Poemas"

O sujeito poético evoca o passado, que se caracteriza como calmo, suave, sossegado, bom, como vemos nos versos: “Suave todo o passado”, “O sossego de outrora/Sossego de várias espécies” e “E tudo bom e horas/De um bem…”. 
O poeta refere serem bons esses tempos, porque não se preocupava com o futuro: “A infância sem futuro pensado”.


Entretanto a vida mudou por sua culpa e pergunta a si próprio: “O que fiz da vida”? E dói, dói, dói. Esta repetição de “dói” refere o sofrimento do poeta ao recordar a sua infância feliz e a impossibilidade de voltar a vivê-la. A infância (boa ou má)m de nenhum de nós,  não consegue ser repetida. O tempo não volta atrás.
Parem com isso dentro da minha cabeça, diz ainda o poeta: São as recordações que atormentam o sujeito poético. 


E muito mais há a dizer deste poema, na sua análise e interpretação de português, mas o espaço de que dispomos é pequeno. 

Aulas de poesia na Actis – Celeste Cortez 



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