segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

CANTO, MÚSICA & POESIA - II




Continuação do artigo CANTO, MÚSICA & POESIA e fotos do evento realizado na ALA, ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PORTUGAL, a 13 de DEZEMBRO DE 2014.









domingo, 28 de dezembro de 2014

ANO NOVO - VIDA NOVA - PROJECTO DE VIDA

Projectos - ANO NOVO VIDA NOVA
por Carlos Brandão de Almeida para o blogue: http://celestecortez.blogspot.com


Ano Novo, vida nova. Ando a ouvir dizer isto há um ror de anos. Todos os anos a frase se repete. Porquê? Boa pergunta!
É no início do ano, quando ele ainda está em embrião, que se costumam fazer projectos, dos mais acertados aos mais disparatados.
Mas, com toda a honestidade, importa confessar que, ao recapitularmos as realizações que nos propusemos concretizar ao longo de cada ano, concluímos que nem todas foram cumpridas. Pior: uma grande parte delas finou-se pelo caminho. Mas essa é a lei da vida!
E até é desejável que assim seja. Porquê? Perguntarão os mais acelerados. Pois porque, por certo, fomos excessivamente ambiciosos ao projectá-las.
Se tivéssemos concretizado todos os projectos provavelmente isso ter-se-ia ficado a dever a pouca ambição nossa ou a uma indesejável acomodação á rotina instalada. Estaríamos então virtualmente realizados, meio caminho andado para a estagnação pessoal.
Felizmente o que acontece é que a vida de cada um de nós é constituída por uma série infinita de aspirações. Estabelecem-se metas, dão-se-lhes as necessárias prioridades, vão-se cumprindo umas, ajustam-se outras e, realisticamente, vão-se eliminando ainda outras tantas. E, tal como o piloto do navio que constantemente ajusta a rota, para dar margem às alterações dos ventos e das correntes, também a máquina humana tem de saber ajustar a rota que traçou e manter um nunca acabar de opções.
A nossa esperança é que cada projecto contribua para levar a barca humana a bom porto, no dia-a-dia da vida. E, quando chegar a vez de encostar ao cais, que saibamos sentir o prazer da viagem, com um mínimo de choques e raspões e com a consciência tranquila, certos de que procurámos contribuir para deixar o mundo melhor do que o encontrámos.
Não fiquemos pois desgostosos e frustrados por não darmos término a qualquer projecto do início do ano. Podemos renová-lo amanhã, no princípio de um novo dia, ou da próxima semana, ou do próximo mês...
Se dermos o necessário tempo de incubação a cada projecto que traçarmos e desfrutarmos a viagem, enquanto ela dura, provavelmente veremos os nossos objectivos alcançados. Assim, ficaremos livres para estabelecer novas metas, ainda mais ambiciosas. A esse processo chama-se crescimento. E coitado de quem pense que já cresceu tudo e que já sabe tudo!

                        E a gente fala para o ano, valeu?
                                                                             
                                                    Carlos Brandão de Almeida





quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Natal de quem?


Sagrada Família pintada por Celeste Cortez 
O mais verdadeiro poema do "Natal" atual, é este do meu confrade e amigo - João Coelho dos Santos. Se o leitor conhecer outro mais verdadeiro, por favor diga-me, gostaria muito de conhecer. 

Natal de Quem

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.

- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei! 
- E as garrafas de vinho? 

- Já vão a caminho!

- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?

- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

 Rasgam-se embrulhos, 
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:


- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!






















                               FOI ESTE O NATAL DE JESUS…
                              


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CANTO, MÚSICA & POESIA - I -



CANTO, MÚSICA & POESIA passou, mais uma vez pela Ala - Academia de Letras e Artes de Portugal, no Monte Estoril, Portugal, onde uma sala cheia de poetas, escritores, músicos e espectadores, foi bem esclarecedora de que os sons do canto, da música e da poesia une as pessoas.
Em primeiro lugar, o vice-presidente da direcção da Ala, Dr. Jorge Felner da Costa, em nome da Academia de Letras e Artes de Portugal, deu as boas vindas a todos os que enchiam por completo a sala. 
A académica escritora Celeste Cortez, organizadora do evento cultural, abriu o evento referindo um pensamento do filósofo JACQUES RANCIèRE (1940), que diz que "A improvisão é o exercício através do qual o ser humano se conhece e se confirma na sua natureza de ser razoável, ou seja, de animal que faz palavras, figuras, comparações, para contar o que pensa dos seus semelhantes.”, pelo que ela desejaria, naquele momento, ter capacidade de improvisar para fazer palavras, figuras e comparações, para dizer o que pensa de todos os presentes por força de um nobre ideal: O gosto pelos sons do canto, da música, da poesia. Mas que, mesmo sem essa capacidade, poderia assegurar que nenhum dos presentes poderia dissociar estes três sons que andam juntos desde os primórdios, as três palavras tão sonantes, que reuniram as pessoas neste Canto, Música e Poesia. 

Na apresentação do programa colaboraram também os académicos escritor e poeta Manuel Amendoeira, Drª. Elisa Frugnoli e o poeta, escritor, dramaturgo Dr. João Coelho dos Santos, este também presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Poetas, associação de que a organizado Celeste Cortez também faz parte. O académico Manuel Amendoeira, numa breve alocução debruçou-se sobre o tema do concurso de poesia "Esta é a ditosa pátria minha amada" e o académico João Coelho dos Santos referiu a imparcialidade do júri no concurso, tendo a Drª. Elisa Frugnoli discursado sobre os poetas concorrentes. 
Os referidos académicos e a coordenado do concurso de Poesia e do Evento, escritora e poeta Celeste Cortez, leram poetas em representação de alguns poetas que não puderam estar presentes.  



Do programa fez parte o professor de música Walter Lopes, que tocou a intervalos regulares música clássica e ligeira, tendo cantado com os acordes musicais o poema de Camões "Verdes são os campos" que o falecido, grande poeta e cantor José Afonso musicou e cantou a seu tempo.









O concurso de Poesia "Camões 1580/2014" foi delineado para académicos da Ala e academias parceiras internacionais, cujos poetas se exprimissem na língua de Camões, tendo concorrido poetas da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas; da Alacib-Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil; da Alb - Academia de Letras do Brasil - Seccional de Araraquara, e convidados da Associação Portuguesa de Poetas de Portugal e do Brasil.

 Estiveram presentes alguns poetas vindos propositadamente do Brasil, outros do espaço português. Os poemas melhor classificados, a que foram atribuídos do 1º. ao 9º. prémio, outros menção honrosa, foram lidos, pelos próprios ou por seus representantes ou académicos da Ala, tendo sido intercalados com canto e música. Na classificação do júri houve poemas que obtiveram certificado de participação, por não terem respeitado o tema do Regulamento do Concurso. 






Por estar próxima a quadra festiva do Natal, foi dita poesia referente ao Natal. 







No final da sessão foram entregues os diplomas e menções honrosas e os prémios aos classificados para tal, com o convite de participação num próximo concurso de poesia da Ala.

Seguiu-se um Porto de Honra e convívio.     

     
  

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

POEMA DE NATAL - "NATAL E NÃO DEZEMBRO" - David Mourão Ferreira - Lx 1927-1996

NATAL, E NÃO DEZEMBRO , de David Mourão Ferrei
ra, Lisboa Fevº.1927-1996

Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
A casa, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
E anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Para nos pedir contas do nosso tempo.

“ Litania para o Natal de 1967”, David Mourão Ferreira

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

NATAL PODE SER - Clemente da Silva Pereira


              Natal pode ser
Espaço e tempo de renovação
Onde se escuta uma nova canção,
É o brilho das estrelas que nos enchem de luz,
Enquanto o Pai Natal sorri e veste o capuz

       
               Natal pode ser
As crianças a correrem de mãos dadas,
Num sonho inocente de um conto de fadas,
Voando na imaginação da sua liberdade,
Ao respirarem o suave odor da felicidade.

        
               Natal pode ser
Admirar a beleza luzidia da lua,
Até o Menino Jesus descer à rua
Onde nada se oculta e tudo se vê
Quando traz este poema que te lê


                             Natal pode ser
As pessoas unirem-se em fraternidade
Na estrada da Luz da eternidade
Ou o Sol a brilhar no espaço celeste
Quando o vento sopra de Oeste


               Natal pode ser
À meia-noite ouvirem-se sinfonias
Que nos trazem suaves melodias
De novos cânticos de hinos,
Inventados por milhares e milhares de sinos.

               Natal pode ser
Aquilo que cada um sente
Quanto se recebe um presente,
A sensação estranha que sempre nos aparece,
E o prazer de quem recebe e oferece

                         
                           Natal pode ser
Observar a neve através da vidraça
Ouvirmos a alegria de quem passa
A caminhar sobre aquela manta
De cor tão pura e tão branca


             Natal pode ser
Para mim e para vós,
Em que ganhamos todos nós
Quando cantamos em glória
As notas de amor da nossa vitória


             Natal pode ser
Não um grito de guerra
Que se ouve no alto da serra,
Mas sim uma canção que se faz
E se ouvirá sempre como um hino à paz



              Natal pode ser
Quando um homem quiser
Um momento a não esquecer,
Que permanece neste mundo habitável
Numa longa noite infindável.


Clemente Silva Pereira (JORNALISTA DE SANTA COMBA \DÃO)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

poema de natal - NATAL DE ÉVORA

Foto de Celeste Cortez autora do blogue. 
Natal de Évora


http://www.junior.te.pt/Final/ImgABR/musica/natal_anjo.gifO Menino está dormindo
Nas palhinhas despidinho
Os anjos lhe estão cantando:
Por amor, tão pobrezinho.

O Menino está dormindo
Nos braços de S. José
Os anjos lhe estão cantando:
Gloria tibi, Domine*.

O Menino está dormindo
Nos braços da Virgem pura
Os anjos lhe estão cantando:
Glória a Deus lá nas alturas.

O Menino está dormindo
Um sono de amor profundo
Os anjos lhe estão cantando:
Viva o Salvador do mundo.


(Música e letra: tradicional)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

AMÁLIA RODRIGUES - "Vi o Menino Jesus"

     E porque nos aproximamos do Natal, começo a publicação de poemas alusivos à quadra. Não poderia deixar de publicar, em primeiro lugar, este lindo poema da nossa cantora e poeta AMÁLIA RODRIGUES

Vi o Menino Jesus
   Que bonito que ele vinha
   Trazia estrelas de luz
   Ou eram brincos que tinha

   Cabelos de seda tinha  
   Deu -lhos Nossa Senhora  
   Com pezinhos de andorinha
   Andava pelo céu fora

        Nossa Senhora
       Meu roseiral 
       Enchei de rosas
      Este Natal

   Dois passarinhos azuis
   Nos seus olhos lhe vi eu
  Voando descendo à terra
  Cantando voando ao céu

  Lá vai uma lá vão duas
  Três estrelinhas brilhando
  Anda o Menino Jesus
  À roda delas brincando
                                                                                                   Vi o Menino Jesus
                                                                              Seus olhos são estrelinhas
                                                                          Suas mãos sinal da cruz
                                                                                 Seus pezinhos de andorinhas

                                                                           Andam as nuvens ligeiras
                                                                E as estrelas no céu
                                                                   A dizer umas às outras
                                                                 O meu menino é meu

                                       


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ROBBIE P. - A história de uma vida

A HISTÓRIA DE UMA JOVEM VIDA... OU A HISTÓRIA DE UMA VIDA JOVEM



Estou janota? Às vezes é preciso vestir bem, principalmente
para ir ao meu baile de finalista
Esta é a história de um rapaz já crescidote. Faz hoje anos. Em sua homenagem, porque merece todas as homenagens, aqui ficam algumas fotos, com legendas que sua avó - que sou eu - imaginou e pôs na sua boca. Óh, se ainda estivesse entre nós, mesmo que residisse no Brasil, o primo Jayme Cortez, ele transformaria esta história em banda desenhada, como só ele era capaz. Mas... 



Meus avós maternos, minhas primas e meu irmão 
 
Com o sol, é conveniente proteger os olhos
Adicionar legenda


Dizem que as crianças não pensam! Que tolice. Pensam em
coisas boas: dar beijinhos à mamã e ao papá, comer sorvete...
sorrir para a fotografia... Coisas destas fazem as delícias dos mais pequenos, posso assegurá-lo, porque sempre fui um rapaz feliz.


Dizem que quem tem um irmão, fica mais rico
Não me importam as riquezas, mas o meu irmão é um rico irmão,
protegemo-nos mutuamente

Era uma vez... um menino que decidiu sair de casa e viajar, viajar por países bonitos: Ir até Portugal
visitar a família materna, ir até à Grecia visitar a família paterna.
Pôs na mala todos os seus pertences, pediu uma bengala
emprestada para o amparar na viagem. Comprou o jornal para
quando quisesse ler notícias sobre a sua viagem.
Acabou por se sentir tão só, tão só!  Sem o papá, sem a mamã... não valia a pena viajar.
 Quem sabe um dia, quando fosse maior!




A minha mamã e o meu papá, são as pessoas mais maravilhosas do mundo.
Se os seus pais também são, então os nossos pais ficam empatados.
O.K. Eureka! Quero dizer "achei", ficam no mesmo lugar "ex-aequo"



Eu era um miúdo bonito, não acham?
E os meus dentes? Ainda hoje me preocupo com a higiene dos dentes,
afinal quero que eles me acompanhem pela vida fora... E o sorriso
com dentes bem tratados, é um sorriso mais bonito. 

Que dizer desta foto? Que fui um bebé bonito? Não é o mais importante... a foto que testemunha os meus pais, de mãos dadas
a segurar-me, como se fosse a promessa de me ampararem sempre, sempre, até eu precisar.
 E neste dia do meu décimo novo aniversário (19th), em que estou a finalizar o meu primeiro ano universitário, é certo que pus de lado a possibilidade de ser um grande jogador de futebol, mas na vida tem de se fazer opções. E estou a fazer ciência do desporto... poderei continuar ligado ao futebol, desejem-me sorte, como eu desejo a todos vós.

E PARABÉNS À MALTA JOVEM, QUE FAZ HOJE 19 ANOS COMO EU.



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

NUM DIA LINDO EM ÁFRICA, POEMA DE CELESTE CORTEZ




Celeste Cortez



NUM DIA LINDO EM ÁFRICA
Celeste Cortez

Num dia lindo, em África
Mergulharam-me a cabeça, o corpo, na água do mar,
Naquele Indico quente que me sufocou
E me deu a coragem que eu não tinha
Embora continue a não saber nadar

O medo. O medo de falhar, o medo de escutar
As ondas que rebentam barulhentas na praia
Naquela praia bela onde as pessoas passeiam
Alheias às outras que por vezes se afogam, no mar,
No mar da imensidão do mundo

Foi num dia lindo, em África
Que se tornou azul e branco,
de onde saiu um arco iris de maviosas cores
Com a espuma das ondas a escorrer-me
Da cabeça, dos seios pequeninos
Acabados de nascer.
Foi num dia lindo, em África
Como em África são lindos todos os dias
Com o sol a brilhar
Mesmo ao anoitecer.

Celeste Cortez
Cascais - Portugal
http://celestecortez.blogspot.com
http://sabiosmestres.blogspot.com/2007_09_16_archive.html


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O PRIMADO DA BOA ACÇÃO; por Carlos Brandão de Almeida

O PRIMADO DA BOA ACÇÃO

N
os meus descuidados tempos da adolescência, fui um dia convidado a integrar um agrupamento de escuteiros sediado na paróquia de S. Domingos de Benfica, em Lisboa.
Recordo, vagamente, que a inicial motivação se firmou na ocupação lúdica que era proporcionada aos escutas. Porém, com o decorrer do tempo, fui constatando que, a par do entretenimento, os ensinamentos que nos eram ministrados tinham um alcance pedagógico mais profundo e que, pouco a pouco, íamos absorvendo conceitos e valores de alto sentido moral enriquecedorde uma correcta formação cívica e humanista.
Tenho ainda bem presente a máxima que nos era constantemente leccionada: o primado da boa acção. O escuteiro deveria ser o exemplo do bom cidadão. Diariamente, o nó do lenço cingido ao pescoço só era feito depois da prática de um acto de generosidade para com o semelhante necessitado. Que princípio mais sublime e mais cristão poderia ser transmitido ao jovem?
Hoje reconheço o quão valioso foi o contributo das práticas escutistas na minha formação cívica, pelo que é com extremo orgulho que reclamo os meus antecedentes escuteiros.
O Movimento Escutista Mundial foi criado por Baden-Powel há perto de cem anos e tinha como objectivo o desenvolvimento integral dos jovens procurando torná-los Homens conscientes, justos, solidários e activos dentro da Sociedade em que estavam inseridos.
Os ensinamentos que lhes são ministrados e as actividades que lhes são proporcionadas nos seus tempos livres visam a sua harmoniosa formação física, intelectual, social e espiritual.
Reconheçamos que, chegados ao século XXI, nunca esses objectivos se mostraram tão necessários de administrar à actual juventude, superassediada por toda a sorte de tentações nocivas à sua saúde e à sua mente.
Aos pais, aos párocos e outros educadores cabe o dever de proporcionar aos jovens ocupações lúdicas saudáveis e instrutivas. Nada melhor do que o Escutismo para atingir esse fim. Impõe-se um esforço de criação e desenvolvimento de meios atraentes para que a juventude se interesse pela actividade escutista onde impera o saudável contacto com a Mãe Natureza, a sã alegria de viver, a franca solidariedade para com os carentes, o enriquecimento intelectual e outras actividades benéficas para a formação integral do individuo.
É tempo da geração adulta apertar o nó do lenço e praticar a boa acção de ajudar os nossos jovens na manutenção e desenvolvimento das suas organizações juvenis.
Procuremos, como os escuteiros buscam, ser a gota de água que falta no grande oceano, que faz transbordar a humanidade e melhorar a sociedade.
                                Carlos Brandão de Almeida

09.10.2014

sábado, 8 de novembro de 2014

HEROIS DEPOIS DA MORTE

ENCONTREI ESTE ARTIGO QUE UM DIA, SEI LÁ QUANDO, UMA AMIGA ME ENVIOU. NÃO ME PARECE QUE SEJA PROIBIDO PUBLICÁ-LO, NÃO É PLAGIO PORQUE ESTOU DESDE JÁ A AFIRMAR QUE NÃO É DE MINHA AUTORIA. E ACREDITO QUE ELA NUNCA O ESCREVEU, NÃO É O SEU GÉNERO.

Na Ucrânia, os jogadores do FC Start (nome clandestino do Dínamo de Kiev), hoje, são heróis da pátria e o seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. Os possuidores de entradas daquela fatídica partida têm direito a assento gratuito no estádio do Dínamo de Kiev

A história do futebol mundial inclui milhares de episódios emocionantes e comoventes, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dinamo de Kiev nos anos 40.
Os jogadores jogaram um partida sabendo que se ganhassem seriam assassinados e, no entanto, decidiram ganhar. Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra, que não encontra, pelo seu dramatismo, outro caso similar no mundo.
Para compreender a sua decisão, é necessário conhecer como chegaram a jogar aquela decisiva partida, e porque um simples encontro de futebol apresentou para eles o momento crucial das suas vidas.

Tudo começou em 19 de Setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital ucraniana) foi ocupada pelo exército nazista, e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram tudo.
A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazistas, e durante os meses seguintes chegaram centenas de prisioneiros de guerra, que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre aqueles soldados doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, que tinha sido guarda-redes do Dinamo.
Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazistas não perseguiam, precisamente pela sua origem, era torcedor fanático do Dinamo. Um dia caminhava pela rua quando, surpreso, olhou para um mendigo e de imediato se deu conta de que era o seu ídolo: o gigante Trusevich.
Ainda que fosse ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou aos nazistas e contratou o guarda redes para que trabalhasse na sua padaria. A sua ânsia por ajudá-lo foi valorizado pelo jogador, que agradecia a possibilidade de se alimentar e dormir debaixo de um tecto. Ao mesmo tempo, Kordik emocionava-se por ter feito amizade com a estrela da sua equipa.
Na convivência, as conversas sempre giravam em torno do futebol e do Dinamo, até que o padeiro teve uma ideia genial: encomendou a Trusevich que em lugar de trabalhar como ele, amassando pães, se dedicasse a buscar o resto dos seus colegas. Não só continuaria pagando-lhe, como juntos podiam salvar os outros jogadores.
Percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, os seus amigos do Dinamo. Kordik deu trabalho a todos, esforçando-se para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv, e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre os seus empregados uma equipa completa.
Reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram em dar o seguinte passo, e decidiram, alentados pelo seu protector, voltar a jogar. Era, além de escapar dos nazistas, a única que bem sabiam fazer. Muitos tinham perdido as suas famílias nas mãos do exército de Hitler, e o futebol era a última sombra mantida das suas vidas anteriores.
Como o Dinamo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipa. Assim nasceu o FC Start, que através de contactos alemães começou a desafiar a equipas de soldados inimigos e selecções formadas no III Reich.
Em 7 de Junho de 1942, jogaram a sua primeira partida. Apesar de estarem famintos e cansados por terem trabalhado toda a noite, venceram por 7 a 2. O seu rival seguinte foi a equipa de uma guarnição húngara, ganharam de 6 a 2. Depois meteram 11 golos a uma equipa romena.
A coisa ficou séria quando em 17 de Julho enfrentaram uma equipa do exército alemão e golearam por 6 a 2. Muitos nazistas começaram a ficar chateados pela crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipa melhor para ganhar a eles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas o FC Start goleou mais uma vez por 5 a 1, e mais tarde, ganhou de 3 a 2 na revanche.
Em 6 de Agosto, convencidos da sua superioridade, os alemães prepararam uma equipa com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era uma grande equipa, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler.
Os nazistas tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém dos nazistas. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de desportivismo dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.
Depois desta escandalosa queda da equipa de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. Assim, de Berlim chegou uma ordem de acabar com todos eles, inclusive com o padeiro, mas os hierarcas nazistas locais não se contentaram com isso. Não queriam que a última imagem dos russos fosse uma vitória, porque acreditavam que se fossem simplesmente assassinados não fariam nada mais que perpetuar a derrota alemã.
A superioridade da raça ariana, em particular no desporto, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar a equipa num jogo.
Com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes, anunciou-se a revanche para 9 de Agosto, no repleto estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo: -"Vou ser o juiz do jogo, respeitem as regras e saúdem com o braço levantado", exigindo que eles fizessem a saudação nazista.
Já no campo, os jogadores do Start (camisa vermelha e calção branco) levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: -"Heil Hitler !", gritaram - "Fizculthura !", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.


Os alemães (camisa branca e calção negro) marcaram o primeiro golo, mas o Start chegou ao intervalo do segundo tempo ganhando por 2 a 1.
Receberam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências claras e concretas:
-"Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo". Ameaçou um outro oficial da SS. Os jogadores ficaram com muito medo e até propuseram-se a não voltar para o segundo tempo. Mas pensaram nas suas famílias, nos crimes que foram cometidos, na gente sofrida que nas arquibancadas gritava desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar.
Deram um verdadeiro baile nos nazistas. E no final da partida, quando ganhavam por 5 a 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Deu-lhe um drible deixando o coitado estatelado no chão e ao ficar em frente a trave, quando todos esperavam o golo, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo.
Como toda Kiev poderia a vir falar da façanha, os nazistas deixaram que saíssem do campo como se nada tivesse ocorrido. Inclusive o Start jogou dias depois e goleou o Rukh por 8 a 0. Mas o final já estava traçado: depois desta última partida, a Gestapo visitou a padaria.
O primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em Novembro de 1943. O resto da equipa foi torturado até a morte.
Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dinamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se actualmente um monumento que saúda e recorda aqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.
Foram todos mortos entre torturas e fuzilamentos, mas há uma lembrança, uma fotografia que, para os torcedores do Dinamo, vale mais que todas as jóias em conjunto do Kremlin. Ali figuram os nomes dos jogadores. Abaixo a única foto que se conserva da heróica equipa do Dinamo e o nome dos seus jogadores. Goncharenko e Sviridovsky, os únicos sobreviventes, junto ao monumento que recorda os seus colegas.

























 

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