sábado, 27 de abril de 2013

PORTUGAL - por Miguel Esteves Cardoso

TEMA: PORTUGAL

Com a devida vénia, transcrevo parte do artigo publicado no dia 10 de Junho de 2011, de Miguel Esteves Cardoso, no jornal "Público"

..."Amo-te, primeiro, por não seres outro país. Amo-te por seres Portugal e estares cheio de portugueses a falar português. Não há nenhum outro país, por muito bom ou bonito, onde isso aconteça.
Mesmo que não achasse em ti senão defeitos e razões para deixar de te amar, preferia isso, mesmo deixando de te amar, a que não existisses.
Se deixasses de existir, o meu olhar ficava de luto e nunca mais podia olhar para o resto do mundo com os olhos inteiramente abertos ou secos ou interessados.
Para que continuasses a existir, mesmo fazendo cada vez mais merda, trocava imediatamente ir-me embora de ti e nunca mais poder voltar e nunca mais poder ver-te, e nunca mais encontrar um português ou uma portuguesa, e nunca mais poder ler ou ouvir a língua portuguesa.
E olha que este é um desejo que muitas vezes tenho.
Esta é a única verdadeira prova de amor: fazer tudo para que sobreviva quem se ama. Mesmo que nunca mais te víssemos, Portugal, saberíamos que continuavas a existir, que as nossas saudades teriam onde se agarrar.
 
Mesmo que não houvesse em ti um único pormenor que não houvesse nos restantes países do mundo, que são muitos; mesmo que houvesse um país escondido que fosse igualzinho a Portugal em todos os pormenores; mesmo assim eu amar-te-ia como se fosses o único país do mundo, diferente em tudo.

Portanto, já viste, ó Portugal: não preciso de nenhuma razão para te amar. Amo-te sem razão. Amo-te às cegas, antes sequer de olhar para ti. Podes ser o pior país do mundo, ou o melhor, ou o mais monotonamente assim-assim. Não me interessa. Amo-te. Amo-te à mesma. Amo-te antes de falarmos nisso.

Amo-te tanto que, quando perguntas porque é que eu te amo, não fico nervoso nem irritado. Não preciso de tentar dar uma razão convincente. Amo-te à mesma, fiques ou não convencido.

E, mesmo que te aborreças de ouvir todas as razões que tenho para te amar, eu continuarei a dizê-las, porque gosto de dizê-las e porque, que diabo, também eu preciso, às vezes, de me lembrar e de me convencer do quanto eu te amo.

Amo-te mesmo que sejas impossível de conhecer ou de descrever. Isto é muito importante. O Portugal que eu conheço e descrevo é apenas o Portugal que eu julgo, se calhar, conhecer (pouco) e descrever (mal).

Cada pessoa apaixonada por ti está apaixonada por um Portugal diferente do meu. Até o meu Portugal é, conforme os climas, bastante diferente do meu - para não dizer estrangeiro.

Por exemplo, uma das razões por que te amo é o teu clima. Acho que tens um bom clima. Mas não julgues que há muitos portugueses apaixonados por ti que concordam comigo. Esses julgam o teu clima dia a dia e hora a hora e gostam dele, quando muito, vinte por cento do ano. Em cada cinco horas do teu clima, gostam de uma e odeiam quatro.

Pois eu amo-te sem saber sequer se o teu clima é bom ou mau. Não tenho a certeza, mas não interessa: amo-te mesmo ignorando tudo a teu respeito. Amo-te mesmo estando completamente enganado. A pessoa convencida sou eu. Quem está convencido que ama, quando fala do seu amor, não quer convencer ninguém. Quer declarar que ama. Se é bom ou mau nem secundário é. Fica noutro mundo, onde vivemos.
Como vês, não preciso de razões para te amar. Mas tenho muitas. E boas. A primeira delas é secreta e embaraça-me confessá-la: amo-te, Portugal porque, não sei como e contra todas as provas e possibilidades, acho que és o melhor país do mundo.

Pronto. Está dito. É uma vergonha pôr as coisas de uma maneira tão simples. Mas era isto que eu estava há que séculos para te dizer: amo-te, Portugal, por seres o melhor país do mundo.

Como vês não sou o romântico que estava a fingir ser, que te ama sem precisar de razões para isso. Tenho uma razão muito interesseira para te amar: acho que és o melhor país do mundo. Por muito relativista que eu seja noutras coisas, acho mesmo que tive sorte de nascer aqui. Em ti. Aqui, entre nós.
Desculpa.
Mesmo assim, insistes em perguntar: que tens tu de tão especial, que os outros países não têm?
Essa íntima vaidade, por exemplo. Tu não és orgulhoso. Mas, muito bem disfarçada, tens uma vaidade sem fim. Dizes-te feio e vestes-te mal mas, quando passas por um espelho, espreitas e achas-te giro. E se alguém te diz que és feio e estás mal vestido, não ficas ofendido - achas que aquela pessoa é obviamente estúpida e não tem olhos na cara.
Ou, pelo menos, não tem o discernimento e o bom gosto necessários para apreciar a tua oblíqua mas inegável formosura. A tua beleza, estás convencido, está reservada para os apreciadores. A ralé passa ao lado e não vê: deixá-la passar.
A tua vaidade é tanta que até te permites um grande desleixo. Sabes que, na terra onde nada plantaste, há-de crescer um jardim preguiçoso que um dia será selvagem e bonito, sem qualquer esforço teu. Deus e o tempo trabalham por tua conta.
Sabes que a tinta fresca salta muito à vista e que é cansativa. Esperas, despreocupado, pela beleza que há-de vir com a passagem dos tempos. E a vaidade que sussurra, preguiçosamente, a quem insista em aproximar-se: «Sim, eu sei que sou uma casa bonita e não, não me lembro da última vez que fui pintada. Eu cá não preciso de me abonecar.»
Graças ao desleixo que a tua vaidade consente, mudas menos do que os outros países. As pessoas acham que és conservador, que és contra a mudança. Mas não é isso. És vaidoso e preguiçoso porque achas que não precisas de grandes esforços ou mudanças: sabes que continuas encantador.
O teu desleixo também é causa de muito sofrimento mas não é numa carta de amor que vou falar dele. Também tem consequências agradáveis.
Por exemplo, dizes que queres ser um país de primeira categoria. Mas sabemos todos que não queres. Gostas de ser de segunda, como gostas de não ser de terceira. Gostas de ter países melhores do que tu, para visitar ou invocar, quando fazes aquela fita de lamentar que não seja possível teres tudo o que tens de bom, menos tudo o que tens de mau, trocado pelo melhor que houver nos outros países.
Tu não queres nada a não ser que gostem de ti. E não estás disposto a fazer nada por isso. Nem é preciso serem muitos a gostar. Se calhar, até te bastava um. Aposto que é essa a impressão que consegues dar a cada um dos desgraçados, como eu, que estão apaixonados por ti.
Eu poderia perder anos a fazer um cuidadoso retrato de ti. Por muito verosímil que fosse, davas uma olhadela e dizias com desdém, a fazer-te caro ao mesmo tempo: «Isso não sou eu. Isso é outro país qualquer que inventaste...»
É a tua maneira, Portugal amado, de garantir que continuaremos a tentar retratar-te. Tanto te faz que o retrato seja feio ou bonito, desde que seja de ti.
Quanto mais variados forem, mais gostas. Até tu, nas tuas paisagens, varias e hesitas tanto e recusas-te a decidir, como quem não tem pressa e, no fundo, não escolhe nem decide, porque quer tudo.
Preferias ser amado por quem tem razões para te odiar? Isso sei eu. Paciência. Eu amo-te porque mereces. Eu amo-te pelas tuas qualidades. Preferias não tê-las. Para que o amor fosse mais puro, mais contraditório, mais injustificável. Mas tens qualidades.
Desculpa lá dizer-te isto, Portugal, mas amar-te é uma coisa simples.
Amo-te, aconteça o que acontecer. Amo-te por causa de ti. Não é apesar de ti. É por causa de ti. Não há outra razão. Nem podia haver uma razão mais simples.
Por muito que te custe ouvir (apesar de eu saber que não só não te custa nada como gostas de ouvir), digo-te: é tão grande o meu amor por ti que até consigo amar-te sem dar por isso.
Já viste?  Miguel
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (10 Junho 2011)
 
 
 

 
 

terça-feira, 23 de abril de 2013

DIA 23 DE ABRIL - DIA MUNDIAL DO LIVRO.

DIA 23 DE ABRIL - DIA MUNDIAL DO LIVRO


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peça-os através do email: celeste.cortez2010@gmail.com


































O Dia Mundial do Livro é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril. Trata-se de uma data simbólica para a literatura, já que, segundo os vários calendários, neste dia desapareceram importantes escritores como Cervantes e Shakespeare. A ideia da comemoração teve origem na Catalunha: a 23 de Abril, dia de São Jorge, uma rosa é oferecida a quem comprar um livro. Mais recentemente, a troca de uma rosa por um livro tornou-se uma tradição em vários países do mundo.

(com a devida vénia transcrito do site da DGLB)


Printing3 Walk of Ideas Berlin.JPG
O Dia Internacional do Livro teve a sua origem na Catalunha, uma região da Espanha.
A data começou a ser celebrada em 7 de outubro de 1926, em comemoração ao nascimento de Miguel de Cervantes, escritor espanhol. O escritor e editor valenciano, estabelecido em Barcelona, Vicent Clavel Andrés, propôs este dia para a Câmara Oficial do Livro de Barcelona.
Em 6 de fevereiro de 1926, o governo espanhol, presidido por Miguel Primo de Rivera, aceitou a data e o rei Alfonso XIII assinou o decreto real que instituiu a Festa do Livro Espanhol.
No ano de 1930, a data comemorativa foi trasladada para 23 de abril, dia do falecimento de Cervantes.
Mais tarde, em 1995, a UNESCO instituiu 23 de abril como o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, em virtude de a 23 de abril se assinalar o falecimento de outros escritores, como Josep Pla, escritor catalão, e William Shakespeare, dramaturgo inglês.1
No caso do escritor inglês, tal data não é precisa, pois que em Inglaterra, naquele tempo, ainda utilizava o calendário juliano, pelo que havia uma diferença de 10 dias apara o calendário gregoriano usado em Espanha. Assim Shakespeare faleceu efetivamente 10 dias depois de Cervantes.
Transcrito com a devida vénia\ da Wikipédia, a enciclopédia livre.


celestecortez@blogspot.com/ email:celeste.cortez2010@gmail.com

segunda-feira, 22 de abril de 2013

LEITURAS - A propósito de um livro - As cinco pessoas que encontramos no Céu


LEITURA – A propósito de um livro

Autor: Mitch Albom
Best-seller do New York Times
Li em Martigues, uma linda localidade de França, este livro. Recomendo a sua leitura  vivamente.

 AS CINCO PESSOAS QUE ENCONTRAMOS NO CÉU

          Uma história cheia de sabedoria acerca do valor da vida humana, assim o descreve o “Los Angeles Times”.
Tem o poder de agradar, convencer e reconfortar os leitores.

Foto de Tó Cortez para os sites Olhares e Reflexos
          A história resumida: Aos 83 anos, Eddie um veterano da 2ª.Guerra Mundial sente que a sua vida não tem sentido. Morre num acidente provocado por uma roda gigante, de um parque de diversões onde era o afinador das máquinas,  a tentar salvar a vida de uma criança.
          Sem saber se salvou ou não a menina, Eddie passa por diversas etapas e cruza com diversas pessoas no Ceu, que às vezes não lhe parece Céu,  pessoas que alguma vez e por alguma razão cruzaram a sua vida: o amigo seu superior numa batalha que o tornou inválido, o inimigo, uma outra menina que não salvou porque era tarde para o fazer porque as bombas do inimigo estalariam em cima de si se regressasse para a salvar. E o seu comandante a intimá-lo a parar, a obriga-lo a regressar. E estivera tão perto de a salvar.
          No final da história, Eddie consegue encontrar-se, separadamente,  com as duas meninas com quem cruzou uma vez na sua vida e que não tinha conseguido salvar, que o sossegam quanto ao seu acto de impotência.

                                                -o-o-o-o-o-
 
          A história demonstra-nos que a vida tem sentido, que vale a pena vivê-la e que não só os feitos gloriosos têm valor,  mas também os pequenos feitos de cada dia,  ou de apenas algumas vezes,  têm a mesma importância para o Céu.  

Se copiar mencione a autora Celeste Cortez - http://www.celestecortez.blogspot.com/

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GAP YEAR - ANO SABÁTICO

GAP YEAR - ano sabático  entre o seu último exame no secundário e a entrada para a Universidade.  (com a devida vénia, transcrevo) : 


(foto da net)














Foi um acaso. Chamado a participar numa iniciativa organizada pelo Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, Gonçalo Azevedo Silva, que estava no 12.º ano, lembrou-se, "porque achava a ideia gira", de falar sobre um tema que estudara no ano anterior, nas aulas de Inglês. No auditório da Fundação Lapa do Lobo (FLL), requisitado para o Encontro da Oralidade, o rapaz discorreu sobre as vantagens do ano sabático, ou, em inglês, gap year - um ano de pausa nas atividades de rotina, neste caso letivas, normalmente entre o ensino secundário e o superior, para viajar, fazer voluntariado e, eventualmente, trabalhar, em ambientes diferentes daqueles em que se nasceu e cresceu.
Não pensou mais no assunto até ao dia em que, umas semanas depois, Carlos Torres, o empresário e presidente da fundação onde decorrera o encontro, lhe telefonou. Estremunhado, ouviu: "Queres passar da teoria à prática?" (publicado pela Fundação Lapa do Lobo).


(foto da net) 
















Palavras dos jovens Gonçalo Azevedo Silva e do seu companheiro Bruno Lourenço:
"Chegou ao fim este Gap Year nas Américas! Durante este ultimo meio ano sonhámos e alcançámos, viajámos pelo continente americano de uma ponta à outra, estivemos em 12 países e vimos coisas que muitas vezes não conseguíamos acreditar, em tão estranhas que eram, ou pela sua beleza inexplicável. Passámos grandes momentos e momentos bastante complicados, estivemos em sítios fantásticos e outros que nem tanto… Contudo, cada pequena coisa que fomos vivendo ao logo destes seis meses fez com que conseguíssemos aprender alguma coisa, mudar a nossa capacidade de resposta aos contratempos e encarar os desafios de outra maneira. Toda esta viajem tornou-nos mais capazes e determinados no que toca ao futuro.
Desde o nosso inicio de luxo em Toronto e a grandiosidade de Nova Iorque e Washington à realidade da Cidade do México… Desde a felicidade das crianças na Guatemala ao grande Natal em Quito.. As fantásticas aventuras na selva peruana e no Machu Picchu, seguidas de um roubo na Bolívia e um grande e compensador Rio de Janeiro. De um Uruguai “calmo”, a um Buenos Aires perigoso e até mesmo um fim com estudantes portugueses em Erasmus no Chile!
Esta foi uma viajem que vai ficar marcada para sempre na nossa memória e não havia como não ficar! Estivemos em países com realidades e níveis de desenvolvimento completamente diferentes, vimos maravilhas criadas pela natureza e pelo homem, fomos professores e alunos (mais este segundo termo), fizemos amigos e grandes amigos, aprendemos com as culturas e demos a conhecer Portugal. Aprendemos que o que para nós é pouco, para alguém, neste caso do outro lado do Oceano, pode ser tudo e que é preciso realmente muito pouco para “arrancar” um sorriso a essa pessoa.
Descobrimos também que o mundo embora não pareça, é pequeno. E a prova disso é a quantidade de portugueses que ao longo da nossa jornada encontrámos e com quem pudemos partilhar histórias e lembrar um pouco as nossas origens.
Mas toda esta viagem e estas aventuras apenas foram possíveis em primeiro de tudo graças ao Dr. Carlos Torres e à Fundação Lapa do Lobo que nos deram toda esta oportunidade de uma vida e a quem agradecemos por tudo!
E também foi graças a todos os amigos e grande amigos, familiares e companheiros de viagens que conseguimos completar todo este percurso, sem eles nada disto seria possível… assim como sem vocês, todos os que nos acompanham por esta página ou pelo facebook desde o início e que nos deram apoio e força, a todos vós os nossos companheiros de viagem, um enorme OBRIGADO.
E assim nos despedimos, foi um prazer enorme viajar convosco durante estes 6 meses e mostrar-vos que há muito para ver por esse mundo fora e que ainda assim é tão pequeno. Até já companheiros !"

Conhecedora da bondade e da disponibilidade do Sr. Dr. Carlos Torres para avaliar um projeto literário e dar-lhe forma através da Fundação Lapa do Lobo felicito os dois moços do concelho de Nelas, vizinho do meu Carregal do Sal e felicito vivamente o Sr. Dr. Carlos Torres e esposa, dirigentes daquela fundação,  por mais esta oportunidade que deram a quem foi capaz de sonhar e elevar-se acima do comum. PARABÉNS.

Como se vê na foto, foi feito um filme pela Fundação Lapa do Lobo que será exibido no Centro Cultural de Carregal do Sal, no dia 27 de Abril, próximo sábado (entrada livre)  e um livro sobre a viagem dos jovens referidos.

Celeste Cortez 

UM ARTIGO QUE NÃO É MEU - COPIADINHO DA SILVA











Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line:Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line:
       "Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo
Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."

       Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.

        Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti... Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o
berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.
Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.
Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras...fica estranho.
Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.
Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca.
Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.
Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.


Dá vontade de rir ou de chorar? Procedam como acharem melhor.

SE TUDO O QUE É NACIONAL É BOM...

LEITURAS - A propósito de um livro - GRADES DE PAPEL CAXIAS 1975 CONDOMÍNIO FECHADO

A PROPÓSITO DE UM LIVRO
"Grades de Papel Caxias 1975

Condomínio Fechado "  




 
Ontem, 17-4-2013, estive no Palácio da Independência, em Lisboa, para o lançamento do livro “Grades de Papel  - Caxias 1975 Condomínio Fechado. Este livro escrito pelo escritor e poeta, coronel de infantaria Joaquim Evónio
(Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos), falecido a 23-06-2012, foi finalizado e publicado, a seu pedido, pelo seu amigo coronel Manuel Amaro Bernardo, historiógrafo.
O livro tem prosa e poesia do Joaquim Evónio, tem um poema de seu amigo, o falecido poeta António Manuel Couto Viana e de muitos outros.
Só conheci o Evónio como poeta e escritor. Longe ia o tempo em que foi militar das Forças Armadas Portuguesas. Para não desvirtuar, não modificar sequer, algo do que ele ou outros escreveram no livro, limitar-me-ei a transcrever do mesmo:
“Aos cidadãos das novas gerações para que, no futuro, não permitam, em Portugal, arbitrariedades e injustiças como as praticadas e vividas em 1974-1975.
Aos obreiros da Lusofonia pra que consigam manter esse projecto, apesar de se prever a continuação de um mundo tão instável e conturbado, como o actual. “
Quando se vê o sol aos quadradinhos na companhia de grandes amigos, uns anteriores e outros feitos ali mesmo, há que manter e cdontribuir para o mais elevado “moral das tropas” (No Forte-Prisão de Caxias) do autor Joaquim Evónio de Vasconcelos.
(…)(Nos saneamentos) Não lhes foi dado conhecimento do que eram acusados e assim foi impossível esboçar qualquer tipo de defesa dos seus direitos à honra e à dignidade da sua condição humana e consagrados na referida Declaração Universal, de que Portugal fora seu subscritor. (…) Do autor Manuel Amaro Bernardo.
A autora deste blogue Celeste Cortez, em 2º.plano, à conversa com outras pessoas qsue também aguardavam a dedicatória no livro.



  
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

SURGE ET AMBULA


Nos Açores, ANTERO DE QUENTAL escreveu um poema inspirado na frase bíblica...SURGE ET AMBULA…(que me parece ter sido quando disse a Lázaro: " levanta-te e caminha" )

A um poeta "Surge et ambula"

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

 
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

 
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,


E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
ANTERO DE QUENTAL


Em Moçambique, décadas mais tarde a mesma frase, inspira o GRANDE POETA - RUI DE NORONHA  (1909 -1943): "África – Surge et Ambula"

"África – Surge et Ambula" . significa "África levanta-te e caminha"

"Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.

Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E tu dormes no outro o sono teu infindo...
A selva faz de ti sinistro eremitério
Onde sozinha à noite, a fera anda rugindo...
Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério
E tu, ao Tempo alheia, ó África, dormindo...
Desperta! Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente em carne de sonâmbula.
Desperta! O teu dormir já foi mais que terreno
Ouve a voz do Progresso, este outro nazareno
Que a mão te estende e diz:
África, surge et ambula!"

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